Saúde emocional: como diferenciar amor, apego e dependência emocional
Resumo da notícia
- Na tentativa de fazer dar certo, muitas vezes, é possível confundir amor, carência e dependência emocional
- Amor é um estado psicológico de entrega que inclui paixão, desejo, admiração e cuidado com o outro
- O apego emocional pode funcionar como uma forma de prisão
- A dependência emocional é classificada como uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado
Se você acredita que tem 'dedo podre' e percebe que seus relacionamentos sempre caminham para o mesmo fim, talvez seja importante aprender a diferenciar amor, apego e dependência emocional. Afinal, na tentativa de fazer dar certo, muitas vezes, é possível confundir sentimentos. Para o psicólogo André Luís Masiero, docente na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), mesmo pessoas resolvidas e experientes estão sujeitas a ingressarem em relações ruins, assim como é possível a repetição de histórias amorosas desastrosas com personagens diferentes devido ao apego ou dependência emocional.
"Quando há algo mal resolvido no histórico de uma pessoa, ela tende a repetir padrões de sofrimento, como se fosse uma tentativa repetida de resolução de uma lacuna do passado", completa o docente. E o autoconhecimento é essencial para desenvolver habilidades que podem proporcionar relações afetivas e escolhas mais saudáveis. Por isso, conseguir identificar e diferenciar suas emoções pode ajudar a evitar algumas ciladas.
Decifrando o amor
Não existe uma definição exata para o amor, afinal ele não é estático. Mas de acordo com a teoria do antropólogo John Allan Lee, existem seis estilos de amor:
- Ágape: amor altruísta e incondicional;
- Eros: amor apaixonado, seguro e com atração física imediata;
- Ludus: amor visto como um jogo, marcado pela sedução e liberdade sexual;
- Mania: amor instável, obsessivo, ciumento e possessivo;
- Pragma: amor pragmático, o parceiro escolhido deve ter determinadas características para ser amado;
- Estorge: amor que se desenvolve lentamente a partir de uma amizade.
Portanto, em um relacionamento, Eros é o que deveria mais se aplicar. "Amor é um estado psicológico de entrega que inclui paixão, desejo, admiração e cuidado com o outro. Implica em uma relação de doação e descoberta sem perder a identidade, sem preconceitos ou medo", explica a psicóloga Priscila Gasparini Fernandes, psicanalista com especialização em neuropsicologia e neuropsicanálise, com mestrado e doutorado pela USP (Universidade de São Paulo).
Na prática, amor deve ser algo positivo, leve, divertido. E relacionamentos pautados em possessividade, ameaças, agressões verbais, desinteresse podem dar indícios de que o amor não está no ar.
Compreendendo o apego
Sabe aquela história que não te faz feliz, mas você não consegue abrir mão? Daí, pode surgir um apego emocional que funciona como uma forma de prisão, limitando o comportamento, impedindo o crescimento pessoal e até gerando um transtorno de personalidade dependente.
No entanto, uma pessoa pode se apegar a outra mesmo que não seja dependente. "As pessoas que se apegam temem apenas ter o ego ferido por algum abandono ou desprezo. Essa formação psicológica chega a ser delirante, pois a pessoa está apegada a algo que se soltar não lhe fará falta ou até lhe fará mais feliz", comenta Masiero.
Por isso, o apego pode ser classificado como um mecanismo para manter o relacionamento. E, segundo Andrea Lorena, coordenadora do setor de tratamento e pesquisa sobre amor e ciúme patológicos do Ipq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), o apego pode ser ativado a partir da separação ou ameaça de separação, envolvendo emoções básicas de medo, raiva e tristeza.
Identificando a dependência emocional
"Os vínculos de dependência emocional geralmente são infantilizados, como resquícios infantis que se prolongam na vida adulta, em que a pessoa se desenvolve, mas permanece presa em um padrão infantil de dependência de outro", explica Masiero. Por isso, a dependência emocional é classificada como uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso.
Por isso, a psicóloga Thays Babo, mestre em psicologia clínica pela Puc-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), alerta: "alguém que é muito dependente emocionalmente pode estabelecer regras que limitem o outro, restringindo sua liberdade pelo medo de perder, ser abandonado". E se a pessoa 'controlada' acredita que é amor, pode continuar vivendo essa história com sofrimento.
Em uma situação de dependência emocional, a pessoa acaba entregando as responsabilidades de sua vida a outra pessoa, não discordando nunca de nada por temer a perda, apoio ou aprovação.
Por que é importante saber diferenciá-los?
Infelizmente, segundo Fernandes, as pessoas não conhecem a diferença entre esses conceitos e acabam considerando normal alguns traços de controle excessivo, manipulação e submissão na relação. E ao reconhecer cada um deles, fica mais fácil fazer uma autoavaliação, visualizando se está agindo de forma prejudicial ao relacionamento. Além disso, a psicoterapia pode ajudar a apontar as falhas e fazer a pessoa compreender mais sobre seus sentimentos.
"Identificar as diferenças entre os tipos de apego e estilos de amor ajuda no desenvolvimento de relacionamentos mais saudáveis", garante Lorena. Afinal o sujeito poderá compreender, por meio do processo terapêutico, suas escolhas amorosas assim como suas atitudes de dependência para com o parceiro. E assim emitir novas formas de comportamentos que, possivelmente, possam estar impactando negativamente na vida amorosa.
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