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Saúde da mulher


Preta Gil: "Machismo é doença difícil, porque próprios doentes não assumem"

Do VivaBem, em São Paulo

27/08/2020 10h30

No Conexão VivaBem desta quinta-feira (27), Preta Gil revelou que já sofreu muito por causa do machismo, mas que é difícil lutar contra ele, porque os próprios indivíduos que reproduzem essa essa forma de opressão não querem ouvir ou tentar mudar.

"É uma doença que a gente tem na sociedade que é muito difícil de vencer e erradicar, porque os próprios doentes, os próprios opressores, sequer assumem, de tão normalizado que é", diz. Segundo ela, ainda assim é importante apontar quando se percebe que alguém está sendo machista, porque haverá reflexão. "Muitas vezes, os opressores se assustam e rebatem. É muito difícil você explicar para uma pessoa porque ela é machista ou racista, a primeira reação que se tem é reativa. Mas a gente está aqui para isso".

A psicóloga Elânia Francisca disse que o primeiro passo para a mudança seria justamente a população compreender e aceitar que é, sim, machista. "A primeira coisa que alguém demonstra quando ouve a gente falando 'a sociedade é machista, patriarcal' é essa repulsa, essa negação da realidade, dizem que estamos exagerando", disse. Segundo ela, essa visão faz com que meninas e mulheres acreditem que estão loucas, o que fragiliza ainda mais a saúde mental. "Dizer para você que a dor que você está sentindo, que você expressa, que a sua dificuldade de estar no mundo por ser menina e mulher é uma mentira, é uma invenção, isso é uma manipulação e gera questões de fragilização da saúde mental".

Francisca disse que olhar para a saúde mental é olhar para o modo como se compreende a realidade, e esse modo é que vai dizer se a saúde mental está mais fragilizada ou mais fortalecida. Como essa interpretação está hoje, há um prejuízo para toda a sociedade. "O machismo fragiliza a saúde mental, não só de meninas e mulheres, mas de meninos e homens".

Gordofobia e machismo

Preta disse que hoje desenvolveu uma "casca grossa" contra essas violências, mas que durante a vida muitas vezes elas a desestruturaram, fizeram-na adoecer. "Essas opressões doem, machucam a gente. Ainda na adolescência, eu não entendia muito bem porque eu era muito popular na escola, mas os meninos não gostavam de mim. Isso é um racismo machista estrutural da branquitude, que não tinha afeto e afeição pela mulher preta. Isso é muito grave".

A cantora e empresária disse que a vida das mulheres é permeada pelo machismo cometido tanto por homens quanto por outras mulheres. O sentimento de competição umas com as outras, de crítica constante, segundo ela, é uma uma sequela do machismo que as mulheres compraram e estruturaram dentro das próprias falas e vivências. "Essa coisa gordofóbica de criticar a outra por causa do corpo, de falar que está gorda e nunca vai conseguir um namorado são camadas de opressões, e o machismo talvez seja a maior delas, junto com o racismo. Eles têm mil derivados", disse.

Ela disse que a gordofobia, por exemplo, vem de uma estrutura machista que diz que a mulher, para ser amada e ser aceita na sociedade, deve seguir um padrão. "Esse padrão é a mulher branca, magra, loira, de preferência, na estrutura patriarcal machista. Então, quando você sai fora dessa curva, quando você não é magra, branca, você está errada", disse.

Francisca apontou como o exemplo de Preta mostra que os impactos do machismo são diferentes para cada mulher. Segundo ela, a vivência de uma mulher branca vai ser totalmente diferente de uma mulher negra ou indígena, mulheres pobres, mulheres gordas. "A questão de classe, de raça, gênero, orientação afetivo sexual, se essa mulher é cisgênero, ou seja, que se identifica com o gênero que foi colocado na certidão de nascimento, ou se ela é uma mulher transgênero. Tudo isso vai dizendo o quanto essa mulher vai viver o machismo de uma forma diferente".