Julia Rabello: "Sociedade não autoriza mulher a olhar para própria vagina"
No Conexão VivaBem desta quinta-feira (3), Julia Rabello disse que a sociedade impõe uma culpa sobre às mulheres que recai até sobre a relação entre elas e o órgão genital. Segundo a atriz, elas não são "autorizadas" a observarem a própria vulva, o que reflete no desconhecimento corporal e da saúde.
"A gente enquanto sociedade não autoriza a mulher nem a olhar a vagina dela. Eu tenho uma mão, dedos, eu olho para eles, por que tem uma parte do corpo que não vou poder olhar? E se eu olhar, vou ficar culpada, vou achar que não sou digna de alguma coisa porque eu olhei, ou porque eu encostei", disse.
Rabello chamou esse bloqueio cultural com o próprio corpo de castração e disse as mulheres deveriam se questionar sobre o tema, conversar, para se libertarem. Por mais que o debate esteja em curso, ainda há muitos questionamentos sobre essa libertação da mulher.
A atriz, por exemplo, lembrou-se de um papel que fez sucesso justamente porque falava desse tema. "Um dos personagens que eu fiz e ficou bastante conhecido foi um esquete do Porta dos Fundos chamado 'Sobre a Mesa'. Nele, a mulher sentava e falava os desejos dela. É engraçado como isso gera uma repercussão. Como a mulher pode ter desejo? O desejo é sempre do outro em cima dela e eu acho que esse é o debate. Para você falar sobre seus desejos, você tem que ter o direito de poder assumir o seu corpo, inclusive para cuidar dele quando estiver doente".
Silvana Quintana, ginecologista e professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRPUSP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo), disse que talvez um dos principais tabus que atrapalham a saúde da mulher é a observação e o toque da própria região genital.
"A mulher ainda hoje tem uma dificuldade muito grande em se conhecer", disse a médica. De acordo com ela, como as mulheres, no geral, têm pouco conhecimento de como funciona sua anatomia, consequentemente elas ainda têm muito medo, de machucar, de estar fazendo algo "errado. "A anatomia feminina é realmente diferente, ela é, vamos dizer assim, interna, escondida dentro do corpo e isso eu acho que traz algumas fantasias para as nossas pacientes".
Quintana concordou que o diálogo, inclusive em casa, com a criança, pode ser um meio de quebrar esses tabus. "Veja como é difícil isso, porque é importante a mãe dizer para essa menina que o corpo dela precisa ser respeitado, que não pode ser invadido, que as pessoas não podem tocar nesse corpo. É muito importante isso. Mas não é isso que nós estamos falando. Estamos falando de uma repressão ao próprio corpo, de medo do próprio corpo", disse a ginecologista.
Segundo ela, a menina sofre repressão o tempo todo, até na hora de ir ao banheiro, que não pode sentar no vaso, ir fora de casa, tem que sentar com a perna fechada, se comportar. Para a sociedade, essa é uma forma de proteger a menina, mas isso impõe a ela uma culpa, como se fosse culpa dela se algo desse errado, o que não é verdade. "A gente precisa, de alguma forma, conversar mais sobre isso, porque não é dessa maneira que as coisas acontecem. Isso faz com que ela tenha muitos tabus em se tocar, em se conhecer e isso é muito importante, faz toda a diferença lá na frente, com a sexualidade e saúde dela".
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