Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Pesquisador vê 'amostra bastante limitada' em testes da vacina russa

Do VivaBem, em São Paulo

04/09/2020 10h42Atualizada em 04/09/2020 14h31

O infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Júlio Croda classificou como importante a publicação do primeiro estudo sobre a vacina russa contra a covid-19, chamada de Sputnik V, na revista científica Lancet, mas ressaltou que a amostra é "bastante limitada".

De acordo com a pesquisa, que apresenta resultados referentes às fases 1 e 2, o imunizante parece seguro, não causa efeitos adversos importantes e é capaz de induzir a resposta imune (produção de anticorpos) no organismo dos voluntários.

Foram feitos dois estudos com 38 voluntários cada (76 no total) e, segundo os pesquisadores, não foram verificados efeitos colaterais sérios até 42 dias depois da imunização.

"É importante essa publicação da Lancet porque traz os dados e mostra claramente que é uma vacina que tem segurança, que produz anticorpos, que gera resposta imune, apesar de uma amostra bastante limitada, 76 divididos em dois estudos. 38 em cada estudo, testando uma vacina liofilizada e uma vacina congelada", explicou Croda, em entrevista à Globonews.

A Sputnik V, que é uma criação de cientistas russos do Instituto Gamaleya, teve seu registro anunciado pelo presidente Vladimir Putin em 11 de agosto e gerou desconfiança por parte da comunidade científica. Pesquisadores alertam que uma vacina desenvolvida de maneira precipitada pode ser perigosa, uma vez que a fase final dos testes (3) — que normalmente dura meses e envolve milhares de voluntários — começou apenas recentemente.

"Em relação a estudos de fase 3, a gente tem que aguardar, eles começaram recrutamento, parece que já recrutaram 3 mil russos, em torno de 40 mil é a previsão para ser avaliado. As outras sete vacinas, algumas já estão mais avançadas nessa fase", acrescentou o pesquisador.

Ele destacou que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só vai poder avaliar e emitir um registro dessa vacina após os resultados de fase 3. O Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná) anunciou no mês passado a intenção de testar a vacina russa em pelo menos dez mil voluntários.

Para o pesquisador, uma campanha de vacinação com o imunizante a ser testado pelo Tecpar deve acontecer apenas no segundo semestre do ano que vem.

"A vacina russa, nessa corrida das vacinas, iniciou estudos de fase 3, então pode ser que ela demore mais tempo para ter o seu registro (na Anvisa), talvez a partir do segundo semestre, já que só a partir de novembro, como foi anunciado, existe esse acordo com o Tecpar de produção local", afirmou Croda.

'Vacina pode ser categorizada como candidata'

Também em entrevista à Globonews, o diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, avaliou que a potencial vacina russa pode ser categorizada como candidata.

"A vacina russa agora pode ser categorizada como candidata, é a 8ª vacina entrando em fase 3", disse, citando as possíveis vacinas produzidas pela Universidade de Oxford e pelas empresas chinesas Sinovac e CanSino como outros exemplos que estão na terceira fase de estudos clínicos.

Sobre o tempo de imunização que a Sputnik V pode oferecer, Kfouri afirmou que é improvável que os cientistas russos conseguirão essa informação em tempo hábil para a eventual aprovação da vacina. "Vamos licenciar vacinas nesse cenário de pandemia sem todas as informações completas, uma delas é esse período de imunização. Para preencher todos as informações que precisamos, esperaríamos 4, 5 anos", acrescentou.

Kfouri ainda disse que a vacina russa apresenta uma diferença em relação às outras candidatas contra o novo coronavírus que utilizam o método de vetor - nesta técnica, é injetado no corpo humano uma pequena quantidade de um vírus para que o sistema imunológico crie anticorpos contra o organismo intruso. Segundo o especialista, a Sputnik V usa dois vírus diferentes como vetores, um em cada dose. A estratégia é diferente, por exemplo, da adotada por Oxford, que usa um único vírus como vetor nas duas doses da vacina.

* Com informações do Estadão Conteúdo