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Desafios de emagrecimento em grupo ajudam na motivação, mas escondem riscos

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Roseane Santos

Colaboração para o VivaBem

11/09/2020 04h00

Quem está querendo perder peso e pesquisa sobre isso já deve ter ouvido falar nos grupos de "desafios". Atualmente existem vários que são lançados pelas redes sociais ou disparados pelos e-mails. Na maioria das vezes, são pessoas que se unem em um grupo de Whatsapp, traçam uma meta de emagrecimento e compartilham seu peso, pratos, receitas e dicas de sua rotina de exercícios e dietas.

Existem casos que esses desafios são orientados por uma espécie de "mentor", podendo ser personal trainner, nutricionista ou até blogueiras fitness ou alguém que não necessariamente seja um profissional de saúde. E há quem aproveite e perca peso. A empreendedora Liane Mota, 35 anos, resolveu participar de um e gostou do resultado. "Participei duas vezes. Cada um de 21 dias. O primeiro eu paguei. Gostei tanto que no segundo eu fui convidada a participar. Eu já seguia a nutricionista no Instagram. Eu emagreci 6 kg no primeiro e 4 kg no segundo", recorda.

No entanto, existem casos que nem sempre funcionam. A empresária Andressa Dantas, 35, pode ser um bom exemplo. Ela participou de um grupo de 40 dias e nesse período passou de 70 para 63 kg, mas hoje considera que não foi um emagrecimento saudável. "Era um grupo diário, em que enviávamos foto dos pratos, medidas corporais e peso semanalmente. Só que sempre fui muito competitiva e isso acabava despertando gatilhos não muito bons em mim. No dia da pesagem eu só ficava me alimentando de shakes e sopas", lembra.

Motivação versus Tratamento individual

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A nutróloga Liliane Oppermann destaca que um desafio desses pode ter benefícios sim, afinal conversar com várias pessoas com o mesmo objetivo que você pode trazer mais motivação durante o processo. Mas salienta que alguns pontos devem ser observados, antes de entrar nessa empreitada. Ela chama atenção para a avaliação prévia dos participantes. "O risco é maior quando a pessoa é sedentária, obesa e resolve fazer parte de um grupo que ela não conhece e em que se atribuem tarefas como sair correndo. O ideal seria que a pessoa passasse por testes de saúde antes de participar de algo assim", informa.

Seguindo a mesma linha de pensamento, a nutricionista Clarissa Fujiwara, coordenadora de nutrição da Liga de Obesidade Infantil do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), acrescenta que tal processo pode agregar e representar algo positivo, considerando que o apoio de pessoas conhecidas ou não que estejam vivenciando situações muito parecidas pode ser um suporte e motivar para a mudança e continuidade ou engajamento no emagrecimento.

Só que ela ressalta a importância de um profissional acompanhando esses desafios. "Existem aspectos delicados e críticos quanto às possíveis práticas sejam alimentares, de exercícios físicos ou do uso de alguma substância para emagrecer de forma inadequada", salienta. Do ponto de vista das práticas alimentares, considerando que na maioria desses desafios os participantes serão incentivados a obter a maior perda de peso possível no menor período de tempo, frequentemente podem ocorrer restrições, normalmente com o corte de grupos alimentares.

Segundo Fujiwara, a pessoa, por conta própria, e sem critério, pode cortar os carboidratos, por exemplo. Nisso normalmente ela acaba tratando toas fontes desse macronutriente da mesma forma, tirando do cardápio tanto frutas —que trazem também fibras alimentares e compostos ativos como os antioxidantes em sua composição — quanto produtos ultraprocessados como um biscoito doce com recheio ou salgadinho de pacote, que realmente devem ser reduzidos da alimentação. Pode haver também o corte indiscriminado de gorduras, retirando da alimentação tanto as saturadas (que devem ser maneiradas mesmo) quanto gorduras boas, como a contida no abacate, nas oleaginosas, no azeite de oliva, nos peixes de águas profundas.

Há também a questão da manutenção do peso depois, visto que muitos desses desafios duram 21 dias ou um ou dois meses. "O nosso organismo é uma exímia máquina para economizar energia (o que evolutivamente, permitiu a sobrevivência da nossa espécie) e diante do emagrecimento e mobilização da reservas de energia do corpo apresenta mecanismos com o emagrecimento para redução da taxa metabólica basal e aumento do hormônio da fome", explica Fujiwara. Por isso, uma intervenção curta como esses desafios nem sempre é suficiente para garantir que a pessoa siga perdendo peso ou tenha uma manutenção saudável.

Cuidado também com a saúde mental

A psicóloga Graziela Dassoler, do Ambulim (Programa de Transtornos Alimentares) do IPq (Instituto de Psiquiatra) do HCFMUSP, não consegue enxergar vantagem nesse tipo de prática. "Não existe um profissional acompanhando de perto e a partir dessa 'disputa' pode se gerar uma frustração e um comer transtornado", pontua a especialista.

O comer transtornado se manifesta por maneiras não saudáveis pelas quais as pessoas se relacionam com a comida, como se alimentar com culpa, exagerar nos exercícios a cada vez que comer mais e pular refeições, podendo ficar o dia inteiro sem comer. Foi um pouco do que aconteceu com Andressa, que citamos no começo do texto.

A psicóloga Valeska Bassan, coordenadora do Ambulim, segue a mesma opinião. "Esses grupos de Whatsapp, Instagram, entre outros, não costumam ser personalizadas. Geralmente é uma dieta para todo o grupo, sem levar em consideração o biotipo e necessidades individuais, sem contar o tipo de comida que cada um gosta ou não! É muito importante o aprendizado, aprendermos a comer e sermos felizes com isso.", frisa.

A especialista recomenda que não se tenha uma competição para não gerar comparações ou frustrações entre os participantes. "O ideal é que esses grupos não tenham prêmios para perda de peso, não seja evidenciado o destaque para quem emagreceu mais e evitar a divulgação dos destaques da semana. Acredito que essa é a maneira minimamente saudável de estar nesses grupos.", finaliza.