Óleos essenciais para tudo? Eles não são milagrosos e trazem riscos
Basta deslizar a linha do tempo do Instagram ou de outra rede social para encontrar com facilidade, em algum perfil de bem-estar ou beleza, um post falando sobre as maravilhas dos óleos essenciais para a saúde e o equilíbrio mental.
Tais substâncias extraídas de folhas, flores e frutos são, de fato, benéficas para a saúde, principalmente quando usadas em difusores para ambientes. A questão é que quando seu consumo é equivocado, como em uso puro, sobre a pele ou oral, o óleo essencial pode passar de aliado para grande vilão.
Não tem milagre...
Se populariza entre assinantes da plataforma de streaming Netflix uma série chamada "A Indústria da Cura". Nela, o primeiro episódio é dedicado a desvendar os benefícios e malefícios dos óleos essenciais.
"O documentário oferece um alerta importante. Nos mostra como a aromaterapia, nos últimos anos, vem sofrendo uma banalização na qual vendedores indicam óleos essenciais sem uma formação profissional, prometendo curas e milagres sem qualquer fundamento. Isso prejudica os profissionais sérios e a terapia em si. A técnica pode ajudar muito no autocuidado, mas exige conhecimento", diz Daiana Petry, aromaterapeuta formada em naturologia, de Florianópolis.
Sem muitos spoilers, os 54 minutos da série abriram os olhos de muitas pessoas que gostam da prática, mas querem saber os limites saudáveis para seguir nessa investida cheia de aromas, inclusive influencers que indicam o tratamento.
"Acho importante dizer que a aromaterapia não é um milagre. Ela não vai te tirar, do dia para a noite, da depressão. É mais um auxiliador, é um facilitador de chegada", diz Gabie Fernandes, escritora e atriz que faz tratamento com óleos essenciais para melhorar quadros de ansiedade, desde 2018.
"Faço o uso dos óleos com a orientação de uma profissional. Comecei em um momento que estava com depressão. O meu queridinho é o de bergamota, que é o óleo do otimismo. Utilizo os óleos essenciais no meu difusor pessoal, que é um colarzinho super discreto que uso diariamente, ou no difusor de ambientes, no meu quarto", completa Gabie.
Benefícios são reais
Os óleos essenciais são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, odoríferas e líquidas. São encontrados nas folhas, raízes, rizomas, cascas, flores e sementes de plantas e compostos de várias substâncias bioativas que podem ser inócuas, terapêuticas ou tóxicas ao organismo humano. Eles são introduzidos no dia a dia através da inalação, pelo uso do difusor pessoal ou de ambiente, ou diluído em cremes ou óleos vegetais.
Os principais grupos de substâncias que constituem os óleos essenciais são os hidrocarbonetos, ácidos, ésteres, aldeídos, cetonas, álcoois, fenóis, óxidos e as lactonas.
É importante entender que os óleos essenciais não são apenas "cheirinhos". Ao contrário das essências sintéticas, eles possuem uma rica e complexa composição química medicinal e, por isso, o seu uso exige cuidados.
Eles são utilizados, por exemplo, para auxiliar no gerenciamento das emoções, cuidados estéticos e físicos, como o alívio da dor. Mas, como toda terapia, o uso dos óleos essenciais possui limites.
Para pele e cabelo
Evidências científicas sobre os reais benefícios dos óleos essenciais para pele e cabelo ainda são escassas. "No entanto, na dermatologia, o uso de óleos é muito popular como parte de hidratantes, faciais e corporais, em formulações manipuladas ou prontas. Para os cabelos, os óleos essenciais podem ajudar na hidratação dos fios ou deixando a haste capilar menos frágil. Além disso, alguns estudos apontam para a ação antioxidante de alguns óleos essenciais, que protegem a pele contra os radicais livres responsáveis pelo envelhecimento, como o de alecrim e cravo. Outros podem ter ação anti-inflamatória e antimicrobiana, como o de melaleuca", diz Daniel Cassiano, professor de dermatologia do curso de medicina da Universidade São Camilo e membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), de Guarulhos (SP).
Quais são os riscos?
O uso indiscriminado de óleos essenciais, que são substâncias muito concentradas, pode acarretar dermatites de contato e alergias que, por sua vez, causam coceira excessiva e abertura de fissuras e feridas.
"Jamais utilize os óleos essenciais puros sobre a pele. Muitos deles são irritantes quando aplicados dessa forma. Também não invista em muitos óleos essenciais ao mesmo tempo, por via aromática, pois isso gera uma confusão de estímulos químicos. Uma substância pode anular a outra. Por exemplo, usar o alecrim, que é estimulante, junto com a camomila, que é calmante, é um equívoco. O indicado, sempre, é buscar orientação profissional para que o uso seja seguro e eficiente", alerta a aromaterapeuta.
Toda a segurança do uso controlado dos óleos essenciais pode ir por água abaixo quando falamos de consumo oral.
"Apesar de serem composições concentradas geralmente seguras, os óleos podem apresentar riscos de intoxicação se ingeridos. Esse risco é aumentado quando lembramos da possibilidade de ingestão acidental por crianças e até mesmo pets, ou reações alérgicas em pessoas susceptíveis", explica Marcella Garcez, nutróloga diretora da ABN (Associação Brasileira de Nutrologia), de Curitiba.
O ideal é armazenar os óleos com o mesmo cuidado que guardamos produtos de limpeza —longe do alcance de crianças e animais.
Os óleos só são usados pela indústria alimentícia de forma controlada e bem regulamentada pelos órgãos certificadores como Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), segundo Marcella. Os maiores riscos então estão nas preparações caseiras ou artesanais.
Perigo para os pets
O cuidado precisa ser redobrado quando falamos de uso de óleos essenciais e pets. "Cães e gatos se lambem muito, então o uso tópico é desaconselhado por pessoas leigas, já que os animais vão consumir o óleo através da lambida, ao se higienizar, e tantas vezes terão reações gastrointestinais. O óleo de alecrim, por exemplo, é perigoso para animais epilépticos e hipertensos, por ser uma substância que causa euforia. O óleo de hortelã perto de mucosas gera ardor, podendo irritar os olhos dos pets. O de canela pode causar dermatite de contato e o de limão e bergamota causar queimaduras, se o pet for exposto ao sol", afirma Esther Cavalcanti Halfon, veterinária de São Paulo.
O uso em difusores de ambiente não são perigosos para os pets, porém é necessário lembrar que eles sentem cheiros com muito mais intensidade do que nós, humanos. O cheiro de óleo que está delicioso para você talvez seja incômodo para eles. Se os pets começarem a espirrar, sinal que estão detestando a experiência.
Guia dos principais óleos e seus benefícios, segundo Daiana Petry
- Óleos que não possuem contraindicações quando inalados são os cítricos, no geral: lavanda, camomila romana, louro, melaleuca e ylang ylang;
- Para melhorar o sono: lavanda;
- Contra a ansiedade: bergamota;
- Para aumentar o foco, a concentração e a memorização: limão;
- Para melhorar a libido e aumentar a autoestima: ylang ylang.
Como usar
- Em difusor: para um ambiente de até 20 metros quadrados, utilize cinco ou seis gotas de óleo essencial em difusor elétrico.
- Em spray: o importante é escolher o óleo essencial de acordo com o efeito terapêutico que deseja e então diluir em álcool de cereais, para poder borrifar na roupa de cama. Em média, duas gotas para cada 150 ml de álcool. É uma forma de deixar o ambiente com aroma agradável e também estimular a mudança de humor. Não é recomendado usar os óleos essenciais cítricos neste caso, pois pode manchar a roupa de cama.
- Difusores com velas: tomar cuidado ao usar esse tipo de acessório antes de dormir, para evitar acidentes com fogo.
Fontes: Marcella Garcez, nutróloga diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), docente do curso nacional de nutrologia da Abran, coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público, de São Paulo; Esther Cavalcanti Halfon, veterinária de São Paulo; Eloisa Zampieri, dermatologista de São Paulo; Abdo Salomão Jr, doutor em dermatologia pela USP (Universidade de São Paulo), membro da American Academy of Dermatology; Daniel Cassiano, professor de dermatologia do curso de medicina da Universidade São Camilo, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); e Daiana Petry, aromaterapeuta formada em naturologia, de Florianópolis...
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