Cientistas do mundo todo propõem debater edição genética com pessoas comuns
Podem cidadãos comuns (não cientistas) discutir temas muito complexos? Há um grupo de pesquisadores que quer demonstrar não apenas que eles podem, mas que isso é essencial para a construção de decisões que têm profundas implicações morais.
Para tanto, estão conduzindo um experimento para que pessoas leigas ao redor do mundo possam debater um tema bastante complicado: o uso da edição genética.
O projeto de participação deliberativa é único pelo escopo e amplitude transnacional e tem participação de dois cientistas brasileiros da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Coordenado pelo professor John Dryzek, do Centre for Deliberative Democracy and Global Governance da Universidade de Canberra, Austrália, o projeto "Global Citizen Deliberation on Genome Editing" mobiliza pesquisadores vinculados a 22 instituições para organizar Assembleias de Cidadãos em diversos países e, na sequência, uma Assembleia Global de Cidadãos.
Ancorado em uma tradição de estudos sobre participação e democracia, a iniciativa busca criar condições adequadas de informação e discussão, para que pessoas comuns reflitam conjuntamente.
A edição genética, que é o tema de debate do experimento, é uma técnica que permite a alteração de trechos específicos do DNA de organismos para vários fins. Seria possível, por exemplo, modificar mosquitos para eliminar a transmissão de enfermidades, criar plantas mais resistentes e com maior produtividade ou, mesmo, alterar gerações futuras de seres humanos para prevenir o aparecimento de certas doenças.
O uso de tal técnica é, contudo, atravessado por muitas controvérsias, incluindo aquelas relativas a riscos desses avanços científicos. A quem caberia decidir se, quando e como tal técnica deveria ser empregada? Deveriam cientistas decidir isso sozinhos, já que, em última instância, as consequências são compartilhadas por toda a humanidade?
Os pesquisadores Ricardo Fabrino Mendonça, do Departamento de Ciência Política da UFMG, e Yurij Castelfranchi, do Departamento de Sociologia da UFMG, são responsáveis por organizar o braço brasileiro da iniciativa.
Convém lembrar que o Brasil é reconhecido internacionalmente pelo escopo e efetividade de muitas inovações democráticas desde os anos 1980. O mundo tem mudado, contudo, e a dimensão dos dilemas colocados à humanidade também ganha novas configurações e proporções.
Pensar práticas democráticas capazes de atravessar fronteiras nacionais e lidar com problemas complexos parece ser não mais apenas uma opção, mas uma necessidade para a sobrevivência tanto da democracia como da humanidade.
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