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Brasileiros são pioneiros na edição de DNA de tumor agressivo na tireoide

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Imagem: iStock

Do Jornal da USP

28/09/2020 19h27

O câncer de tireoide é um dos tumores mais comuns que afetam a região do pescoço e cabeça. Na maioria dos casos, o tratamento costuma ser simples e ter alta taxa de remissão com a radioiodoterapia.

No entanto, as variantes agressivas desse câncer são mais difíceis de tratar e nem sempre respondem bem ao tratamento. Isso ocorre, em parte, porque um microRNA, o miR-17-92, tem sua expressão aumentada não só nesse tipo de carcinoma, como em outros cânceres agressivos, a exemplo do pulmão.

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"Essa foi uma descoberta do meu pós-doutorado. Agora, avançamos com o objetivo de inibir a expressão do miR-17-92", afirma César Seigi Fuziwara, pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular da Tiroide do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, coordenado pela professora Edna Kimura.

"Conseguimos fazer a edição gênica desse microRNA usando o método CRISPR", acrescenta. "O método CRISPR usa uma proteína chamada Cas9 para 'cortar' o DNA. Quando a célula tenta reparar o pedaço 'cortado', ela muda a sequência de nucleotídeos, o que resulta em um gene alterado e, consequentemente, também um quadro alterado de leitura", explica Fuziwara. Os cientistas editaram com sucesso células do carcinoma anaplásico de tireoide, o tipo mais letal de câncer de tireoide, e as analisaram em experimentos in vitro, isto é, em cultura de células em laboratório.

A edição do miR-17-92 foi um grande desafio, pois este microRNA é um cluster - conjunto de genes não-codificantes (que não se transformam em proteína) - composto por seis microRNAs diferentes. "Fomos um dos pioneiros em usar o CRISPR para esse tipo de RNA na tireoide", conta pesquisador.

Os resultados mostram que as células proliferavam e migravam menos, além de ficarem com uma capacidade invasiva menor. "A proliferação diminuiu 50%, assim como a capacidade clonogênica, tornando-as menos agressivas", afirma Fuziwara.

No estudo, também foi avaliada a diferenciação das células, ou seja, a capacidade de expressar genes relacionados ao metabolismo do iodo. "Isso é muito importante porque o principal tratamento para o câncer de tireoide após a cirurgia é o iodo radioativo", explica o pesquisador. "Ao observarmos a presença de fatores de transcrição da tireoide, e genes como TPO e em menor grau o gene NIS, principal responsável pela captação do iodo, constatamos que a diferenciação aumentou um pouco, mas não o suficiente para que a capacidade de absorção de iodo fosse regenerada", acrescenta.

A equipe acredita que a edição gênica pode ser usada como neoadjuvante no tratamento já utilizado para cânceres agressivos: a terapia com inibidores farmacológicos. Além disso, eles continuam a investigação sobre a mutação no gene BRAF, comum em 40% dos carcinomas de tireoide, e seus efeitos sobre a expressão de miR-17-92, segundo mostrou uma pesquisa anterior da mesma equipe.

De acordo com Fuziwara, o próximo passo é usar esses inibidores para ver se combinados com a edição do microRNA teriam um efeito antitumoral maior.

A pesquisa será feita inicialmente in vitro, mas os pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular da Tiroide planejam aplicar o mesmo procedimento em camundongos. "Queremos ver se quando modularmos o microRNA, o tumor vai crescer menos e quais serão suas características histopatológicas", diz ele, lembrando que, embora haja um longo caminho para um possível uso terapêutico da descoberta, o procedimento pioneiro e os resultados positivos trazem esperança para outros cânceres agressivos com expressão aumentada do miR-17-92.

O estudo foi publicado na revista Thyroid, um importante periódico da área.