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Negros têm risco 3 vezes maior de serem internados por causa de covid-19

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Do VivaBem

11/10/2020 17h08Atualizada em 11/10/2020 17h14

Uma análise de dados realizada por cientistas do King's College de Londres conclui que, quando são infectadas pelo novo coronavírus, pessoas negras têm risco três vezes maior de serem internadas, em comparação a brancos.

E não são apenas a diferença social e a maior incidência de algumas doenças crônicas em negros (como diabetes e pressão alta) que explicam esse aumento na probabilidade de desenvolver covid-19 grave. Mesmo após ajuste desses fatores, pacientes negros seguem com risco de internação 2,2 vezes maior que brancos.

"A descoberta de que um significativo risco de pacientes negros permanece maior mesmo após o ajuste de condições socioeconômicas e de saúde sugere fortemente que outros fatores, possivelmente biológicos, são importantes para determinar a gravidade e o tratamento da covid-19", alerta Ajay Shah, cardiologista e professor do King's College.

O médico afirma que a descoberta indica que talvez seja necessário adotar diferentes estratégias de atendimento médico para diferentes grupos étnicos. "Em pacientes negros, o cuidado principal deve ser evitar que uma infecção leve progrida para grave. Já em pacientes asiáticos é entender como tratar complicações que geram risco de vida." Isso porque a análise de dados publicada no periódico EClinicalMedicine conclui que asiáticos têm maior probabilidade de morrer no hospital do que brancos —na pesquisa, o risco de morte para negros foi similar ao de brancos.

Como o estudo foi feito

  • Para determinar o risco de desenvolver covid-19 grave, os pesquisadores compararam dados de 872 pacientes internados em um hospital de Londres com 3.488 pessoas da mesma região, escolhidas aleatoriamente, que formaram o grupo controle.
  • Entre os 872 internados, 48,1% eram negros, 33,7% brancos, 12,6% de "etnias mistas/outras etnias" e 5,6% asiáticos. Ao comparar esses percentuais com o grupo controle, os cientistas concluíram que negros ou pessoas do grupo de "etnias mistas/outras etnias" tinham risco três vezes maior de internação por covid-19 grave do que brancos e asiáticos.
  • Após fazer ajustes para excluírem fatores como diferenças sociais e comorbidades, negros seguiram com um risco 2,2 vezes maior de desenvolver covid-19 grave, em comparação a brancos. No grupo de "etnias mistas/outras etnias", esse risco foi 2,7% maior.
  • Para determinar o risco de morte, a pesquisa analisou 1.827 pacientes adultos internados no King's College Hospital, em Londres, com diagnóstico primário de covid-19, entre 1º de março e 2 de junho;
  • Destes 1.827 pacientes, 455 (29%) morreram em uma média de 8 dias após a internação.
  • Ser negro ou de "etnias mistas/outras etnias" não foi um fator que aumentou o risco de morte --os principais fatores foram idade e ser do sexo masculino.
  • Pacientes asiáticos tiveram um risco de morte 71% maior que outros grupos. No entanto, os pesquisadores ressaltam que o número de asiáticos na pesquisa era pequeno e eles não tinham muitas informações sobre possíveis comorbidades nesse grupo.

Sonya Babu-Narayan, diretora médica associada da British Heart Foundation, disse que pessoas negras, asiáticas e de outras minorias étnicas costumam ter mais fatores de risco cardíaco e circulatório, incluindo hipertensão e diabetes, que agravam os efeitos da covid-19. Além disso, estão mais expostas a desvantagens socioeconômicas. Porém, esse estudo indica que piores consequências da infecção pelo coronavírus ocorrem nesses grupos mesmo após exclusão desses fatores de risco.

"Agora, são necessárias pesquisas para avaliar como outros fatores estruturais e comportamentais podem contribuir para a gravidade da doença, incluindo profissão, acesso a informações sobre saúde e cuidados que essas pessoas recebem assim que chegam ao hospital", indica Babu-Narayan.