Pedra na vesícula ou hérnia de hiato? Sintomas podem confundir
Dor forte na região conhecida como "boca do estômago", sensação de má digestão, como se tivesse se empanturrado de comida mesmo sem ter ingerido quase nada. Pode parecer refluxo, mas também pode ser outra coisa...
João Kleber, cirurgião e membro da SBH (Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal), explica que, de uma maneira geral, o refluxo, que pode ser causada pela hérnia de hiato, provoca queimação e azia. Já a pedra na vesícula tem como sintomas a dor na região abdominal do lado direito do corpo, associada a vômitos, podendo ocorrer também febre e infecção. Só que, em alguns casos, os sinais desses dois problemas podem ser semelhantes, dificultando o diagnóstico correto.
Marcos Belotto, especialista em gastro-oncologia, médico do Hospital Sírio-Libanês (SP) e professor na Santa Casa (SP), esclarece que, em alguns pacientes a semelhança é tamanha que só exames de imagem podem fechar o diagnóstico correto.
Algumas vezes, a crise de vesícula não é caracterizada somente pela cólica do lado direito, onde exatamente fica o órgão. "A dor e o desconforto podem ser só na região epigástrica, a mesma onde do refluxo gastroesofágico", diz.
Kleber acrescenta ainda que em alguns casos de hérnia de hiato, por conta do refluxo, a dor é forte o bastante para ser confundida até com angina ou infarto.
O que causa?
A hérnia de hiato geralmente acontece por um problema estrutural anatômico na região do hiato esofágico. Doenças estruturais na região do hiato levam a formação de hérnias e defeitos na musculatura dessa região que acarretam no refluxo de alimentos e ácido gástrico.
De acordo com especialistas, a incidência de hérnia de hiato é de 10% nos brasileiros com mais de 50 anos de idade, e pesquisas mostram que esse distúrbio aumentou em 5% na última década.
Já a pedra na vesícula é causada por um desequilíbrio entre a produção e excreção da bile, geralmente impulsionado pela ingestão excessiva de gordura na dieta.
Sobre pedra na vesícula, estatísticas apontam que afeta mais de 10% da população ocidental e a incidência se multiplica com o avançar da idade, a partir dos 40 anos.
Consequências
Segundo Kleber, em muitos casos a hérnia de hiato não necessita de tratamento específico. Não existem medicamentos ou um remédio para "curar" uma hérnia de hiato, mas, sim, para controlar alguns dos seus sintomas. "Só o tratamento cirúrgico permite fazê-la desaparecer. O tratamento da hérnia de hiato depende dos sintomas, do seu volume e do risco de complicações que representa para o paciente", explica.
Ele acrescenta que um estilo de vida saudável, uma dieta correta e a manutenção de peso ideal são a base de um tratamento eficaz. As hérnias pequenas e assintomáticas não necessitam, habitualmente, de qualquer tratamento.
Já as sintomáticas podem ser tratadas com vários tipos de medicação, geralmente para diminuir a produção de ácido no estômago e a facilitar o seu esvaziamento, evitando assim os sintomas relativos ao refluxo. "As hérnias maiores, mal controladas ou de risco podem ser operadas. Só um cirurgião deverá determinar se uma hérnia de hiato possui ou não indicação operatória", afirma.
No caso de pedras na vesícula, entretanto, a cirurgia deve ser realizada em todos os casos procurando minimizar os riscos de complicações, que são:
- Inflamação da vesícula biliar (colecistite aguda) - a vesícula inflamada pode causar dor intensa, febre, abscesso e até mesmo ruptura. É uma situação que exige tratamento médico ou cirúrgico imediato e pode pôr a vida em risco.
- Obstrução dos canais biliares - ocorre então icterícia e possivelmente infecção e lesão do fígado.
- Obstrução do canal pancreático - causando pancreatite, situação grave que obriga a hospitalização.
- Câncer da vesícula - os doentes com cálculos têm risco aumentado de câncer na vesícula. No entanto, este câncer é raro.
Como evitar a cirurgia
Belotto informa que a cirurgia de hérnia de hiato pode ser evitada com ajuste da dieta do paciente e com medidas não medicamentosas como perda de peso, exercícios físicos e medicação em alguns casos. No caso da cirurgia da vesícula, como já dito, dificilmente o paciente não passará por cirurgia, frente aos riscos que as pedras na vesícula podem causar no longo prazo.
No caso da hérnia de hiato, por ser um problema estrutural do hiato e do esôfago, os fatores de risco são obesidade, idade avançada, trauma abdominal e de origem congênita.
No caso da pedra na vesícula, são muito mais frequentes em mulheres acima de 40 anos de idade. Obesidade ou perda de peso expressiva de forma abrupta, gestações prévias e histórico familiar de pedra na vesícula também são fatores de risco.
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