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Um guia dos principais medicamentos que você usa


Escitalopram: útil para depressão e ansiedade, tem menos efeito colateral

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Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

13/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Escitalopram é um tipo de antidepressivo que também é usado para tratar a ansiedade
  • Ele é classificado como Inibidor Seletivo da Recaptação da Serotonina (ISRS)
  • O fármaco é considerado seguro, efetivo e tem menos efeitos colaterais
  • Ter dor de cabeça e náusea no início da terapia é comum, mas sintomas passam com o tempo

Introduzido no mercado em 2002, o oxalato de escitalopram é um medicamento utilizado para o tratamento da depressão, da ansiedade e dos transtornos a ela relacionados.

O que é escitalopram?

Trata-se de um tipo de medicamento classificado como Inibidor Seletivo da Recaptação da Serotonina (ISRS), e só pode ser comercializado sob indicação médica, com retenção da receita.

Em quais situações ele deve ser usado?

A classe de medicamento à qual pertence o escitalopram é considerada a primeira linha de tratamento da depressão em várias diretrizes médicas internacionais, o que lhe confere segurança e eficácia. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado.

A medicação pode ser indicada para tratar ou prevenir as seguintes enfermidades:

  • Depressão
  • Ansiedade generalizada e transtornos relacionados (pânico, ansiedade social, transtorno obsessivo compulsivo)

A literatura médica ainda relata o uso desse fármaco para o tratamento do transtorno disfórico pré-menstual, ondas de calor e suores noturnos decorrentes da menopausa. Como essas indicações não constam da bula, elas são definidas como off-label.

Entenda como ele funciona

O escitalopram possui boa farmacocinética, é rapidamente metabolizado pelo fígado ao ser administrado pela via oral, até que alcança o Sistema Nervoso Central (SNC). Ele obtém seu pico de concentração entre 4-5 horas, período no qual realiza seu objetivo. Depois, o fármaco é excretado pela urina.

Dada a sua potência e, em comparação aos outros ISRS, seu efeito parece ser mais rápido. Esses dados foram publicados nas revistas Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology e International Clinical Psychopharmacology.

Quanto ao mecanismo de ação (farmacodinâmica), ele age ligando-se a uma proteína que transporta a serotonina, inibindo a sua recaptação pelas membranas pré-sinápticas (células encarregadas de gerar e liberar sinais entre os neurotransmissores).

Tal atividade aumenta a quantidade de serotonina disponível, que exerce seus efeitos na regulação do humor. A explicação é de Cristina Stern, professora do Departamento de Farmacologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Como a maioria dos antidepressivos, a sua ação terapêutica se concretiza no período de 2 a 4 semanas, podendo chegar a 6-8 semanas.

Conheça as apresentações disponíveis

A marca de referência do escitalopram é o Lexapro®, mas existem muitas outras com o mesmo princípio ativo, além das versões genéricas.

Confira as apresentações e as doses disponíveis:

  • Comprimidos revestidos - 10 mg, 15 mg e 20 mg
  • Solução - 20 mg

Dadas as características das enfermidades que ele trata, esse medicamento é, geralmente, de uso prolongado. Contudo, a descontinuação do tratamento jamais deve ser feita sem acompanhamento médico.

Por que ele só deve ser descontinuado sob orientação médica?

O psiquiatra Luiz Carlos Cantanhede Fernandes, docente da Escola de Medicina da PUC-PR, afirma que apesar do estigma e da preocupação dos pacientes, os antidepressivos são essenciais no tratamento de quadros moderados a graves de depressão e ansiedade.

"Eles ajudam a pessoa a sair de uma crise mais intensa. Apesar disso, esses medicamentos não são pílulas mágicas. O bem-estar que se busca entre esses indivíduos só é possível com a sinergia entre ações farmacológicas e não farmacológicas. Estas últimas incluem psicoterapia e prática de atividade física", acrescenta o especialista.

Mesmo assim, alguns pacientes querem cessar o tratamento por receio de dependência, o que Fernandes garante ser impossível. A sugestão dele é que, ao decidir que não deseja mais usar o escitalopram, você comunique seu médico para que ele possa acompanhar e orientar a retirada gradual da medicação.

A razão para isso é que a parada abrupta do tratamento pode levar ao aparecimento de incômodos efeitos como colaterais: tontura, náusea, formigamento na pele, problemas de sono, agitação, ansiedade, dor de cabeça, sudorese, tremor, entre outros.

Por que não consigo obtê-lo na farmácia do SUS?

O escitalopram não consta no rol de medicamentos da Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais). "Isso porque ela incluiu outro medicamento do mesmo grupo farmacológico, a fluoxetina", informa Marcos Machado, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo).

"Como não existem diferenças significativas de eficácia, segurança, mecanismo de ação e perfil de efeitos colaterais, o escitalopram pode, a princípio, ser substituído, sem prejuízo para o paciente. Aliás, quando há intolerância ou refratariedade importantes, o SUS disponibiliza outra classe de fármacos, os tricíclicos, como a amitriptilina", informa Machado.

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

Na opinião de Cynthia França Wolanski Bordin, farmacêutica e professora adjunta das Faculdades de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR, as maiores vantagens do escitalopram são o menor perfil de efeitos colaterais e o baixo impacto nas enzimas hepáticas encarregadas pelo metabolismo dos fármacos. Tais características fazem dele um medicamento mais tolerado quando comparado aos antigos antidepressivos, como os tricíclicos.

Entre as desvantagens, Bordin destaca as possíveis disfunções sexuais (alterações na libido, atraso na ejaculação e dificuldade para atingir o orgasmo) e a insônia, embora nem todos apresentem essas reações.

Saiba quais são as contraindicações

O escitalopram não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Informe seu médico caso você se encaixe em alguma das seguintes condições:

  • Uso de outros antidepressivos da classe dos IMAO. São exemplos a selegilina e moclobemida
  • Uso do antibiótico como a linezolida
  • Arritmia cardíaca
  • Epilepsia
  • Gravidez
  • Amamentação
  • Diarreia grave
  • Uso de diurético
  • Glaucoma
  • Diabetes

Crianças e idosos podem usá-lo?

O escitalopram é contraindicado para crianças e adolescentes menores de 18 anos. Entre os idosos, ressalva-se a necessidade de doses menores, especialmente considerando a presença de outras doenças ou problemas hepáticos ou renais.

Caso o médico indique essa medicação para menores de 18 anos, peça a ele explicações detalhadas dos possíveis efeitos colaterais nesse grupo.

Estou grávida. Posso usar o escitalopram?

O objetivo do tratamento com esse fármaco é manter sob controle as enfermidades que ele trata e, até mesmo, levá-las à remissão.

Assim, quando descobrir que está grávida, avise imediatamente seu médico para que juntos, vocês possam decidir qual seria a melhor estratégia terapêutica durante a gestação. A razão para isso é que o escitalopram está relacionado ao aumento de riscos para o bebê e o profissional deve avaliar a relação de custo/benefício da continuidade de seu uso.

Apesar disso, evite suspender o uso do medicamento sem orientação e acompanhamento médico.

É seguro usar esse fármaco enquanto amamento?

Pequenas quantidades do fármaco podem passar pelo leite materno. Por isso, é preciso avaliar com seu médico sobre os possíveis efeitos colaterais para o bebê.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

Para a maioria das pessoas, o escitalopram não causa desconforto estomacal. Por isso, você pode tomá-lo junto a algum alimento ou não. Para ingeri-lo, prefira água.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Em geral, esse medicamento é utilizado 1 vez ao dia. Entretanto, siga o esquema de doses indicado pelo seu médico.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. Apesar disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:

Comuns

  • Náusea
  • Dor de cabeça
  • Nariz entupido
  • Dores musculares
  • Boca seca
  • Sudorese
  • Insônia
  • Sonolência
  • Aumento ou redução do apetite
  • Aumento de peso
  • Cansaço
  • Fraqueza

Raras - procure ajuda médica imediata diante dos seguintes sintomas e situações

  • Reação alérgica (inchaço na pele, língua, lábios ou face, glote, dificuldade para respirar)
  • Febre alta, agitação, confusão, espasmos e contrações musculares (característica da síndrome serotoninérgica)
  • Dificuldade para urinar
  • Convulsão
  • Cor amarelada na pele ou no branco dos olhos
  • Batimentos cardíacos acelerados ou irregulares

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com o escitalopram. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito, além de aumentar a chance de efeitos colaterais. Informe o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas.

Esses exemplos não esgotam as possibilidades de interação com outros remédios, portanto sempre fale com seu médico sobre as medicações usadas que você tem usado.

  • Medicamentos para tratar arritmia (amiodarona; sotalol)
  • Outros antidepressivos (bupropiona; amitriptilina)
  • Fármacos para ansiedade, transtornos de humor ou mentais (diazepam; alprazolam)
  • Carbonato de lítio
  • Opioides (tramadol)
  • Anticoagulante (varfarina)
  • Remédios para enxaqueca (sumatriptana)
  • Estimulantes ou medicação para déficit de atenção (TDAH) (metilfenidato)

Até o momento há pouca informação sobre fitoterápicos, mas há alguma evidência de que haja interação com o hipérico, planta utilizada no tratamento de estados de depressão e ansiedade. Informe seu médico, caso esteja fazendo uso dela.

Quanto aos suplementos, a vitamina B12, a vitamina C e a vitamina D3 também podem interagir com o escitalopram.

Posso engordar durante o tratamento com o escitalopram?

A perda do apetite é uma das reações comuns observadas entre pacientes tratados com esse fármaco. Contudo, após algum tempo, o apetite volta e o peso pode aumentar. Fale com seu médico caso note mudanças importantes em seu peso.

Posso tomar álcool enquanto usar esta medicação?

Recomenda-se evitar o consumo de álcool, que poderia intensificar os efeitos colaterais do medicamento, e ainda prejudicar a capacidade de julgamento raciocínio e habilidades psicomotoras.

É possível usá-lo junto a anticoncepcionais?

Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e assitente técnica do CRF, diz que há evidências de que a medicação pode reduzir a eficácia dos anticoncepcionais hormonais. Ela cita, como exemplo, medicações que contenham estradiol ou levonorgestrel, e sugere que você informe o ginecologista sobre o uso continuado do escitalopram.

A medicação pode afetar a fertilidade?

Até o momento, não existe evidência científica de que esse medicamento possa reduzir a fertilidade em homens ou mulheres. Caso esteja programando engravidar, fale com seu médico para que ele possa estar ciente do uso do escitalopram.

A minha vida sexual pode ser prejudicada?

Uma vez que o medicamento atua na melhora do humor, espera-se que a disposição para a vida sexual se estabeleça.

Contudo, algumas pessoas podem ter dificuldades de ereção ou para alcançar o orgasmo nos primeiros momentos do tratamento. Embora esses efeitos sejam raros, para alguns indivíduos eles podem durar no tempo, mesmo após a cessação do tratamento. Caso observe essas reações, informe seu médico para que ele possa avaliar seu quadro.

Existe interação com exames laboratoriais?

Até o momento, não existem registros de interação com esse tipo de exame. Contudo, lembre-se de informar seu médico ou o pessoal do laboratório sobre o uso desse fármaco.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Cynthia França Wolanski Bordin, farmacêutica e professora adjunta das Faculdades de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), com mestrado em tecnologia química e doutorado em ciências da saúde; Luiz Carlos Cantanhede Fernandes Jr., médico psiquiatra com mestrado em saúde coletiva pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e docente da Escola de Medicina da PUC-PR, campus Londrina; Marcos Machado, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo), farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas; Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutora em ciências da saúde pela FCMSCSP (Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo) e assessora técnica do CRF-SP; e Cristina Stern, professora do Departamento de Farmacologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Landy K, Estevez R. Escitalopram. [Atualizado em 2020 Maio 6]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557734/; Sanchez C: The pharmacology of citalopram enantiomers: the antagonism by R-citalopram on the effect of S-citalopram. Basic Clin Pharmacol Toxicol. 2006 Aug;99(2):91-5. doi: 10.1111/j.1742-7843.2006.pto_295.x. [PubMed:16918708]; Kasper S, Spadone C, Verpillat P, Angst J: Onset of action of escitalopram compared with other antidepressants: results of a pooled analysis. Int Clin Psychopharmacol. 2006 Mar;21(2):105-1.