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Mutações aumentam o risco de leucemia e doenças cardíacas, mostra estudo

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Imagem: iStock

Bruna Alves

De VivaBem, em São Paulo

15/10/2020 13h54

Conforme envelhecemos, algumas mutações genéticas nas células-tronco hematopoéticas (CTH) —que dão origem às células sanguíneas e do sistema imune— podem, eventualmente, causar cânceres ou predispor a doenças cardiovasculares.

Uma pesquisa realizada por pesquisadores do centro de pesquisa biomédica e genômica dos Estados Unidos (Broad Institute of MIT and Harvard), mostrou um conjunto de variantes hereditárias que aumentam o risco de acumular essas mutações. O trabalho, publicado ontem (14) na Nature, também contou com especialistas do Hospital Infantil de Boston e do Hospital Universitário Dana-Farber Cancer Institute.

Segundo os especialistas, essas mutações levam a dois distúrbios do sangue relacionados à idade: neoplasias mieloproliferativas (NMP) e hematopoiese clonal de potencial indeterminado (CHIP). Pessoas com NMPs têm muitos glóbulos brancos, o que os predispõe à leucemia. O CHIP, que afeta quase 10% das pessoas com mais de 70 anos e aumenta o risco de câncer e doenças cardíacas, resulta em um excesso de células-tronco do sangue.

As novas descobertas mostraram que, algumas das variantes genéticas hereditárias, aumentam a autorrenovação das células-tronco do sangue, predispondo o risco das células acumularem mutações prejudiciais ao longo do tempo.

"Se você pode prevenir o início dessas mutações relacionadas à idade, antes que elas ocorram, você pode potencialmente ter benefícios para uma série de condições, de câncer a doenças cardiovasculares", explicou ao Pradeep Natarajan, membro associado do Broad Institute, diretor de cardiologia preventiva no Massachusetts General Hospital e professor assistente de medicina na Harvard Medical School.

Anteriormente, os pesquisadores já haviam descoberto mutações genéticas que estão ligadas as neoplasias mieloproliferativas, mas agora a ideia era confirmar se essas mutações que passam de pais para filhos aumentam o risco de NMP.

Em um desses novos estudos, os especialistas estudaram dados de 2.949 casos de NMP e 835.554 controles de três grandes coortes. E foram observadas 17 variantes genéticas que colocam as pessoas em risco de NMP, incluindo 7 que nunca haviam sido identificadas antes.

Muitas das variantes caíram em partes do genoma que não codificam proteínas, mas, sim, regulam genes. Por isso, os pesquisadores realizaram experimentos adicionais para determinar as consequências biológicas das variantes.

Com os estudos, a equipe descobriu que as pessoas com as variantes de risco, mesmo antes de desenvolverem um NMP, têm mais células-tronco hematopoéticas do que as pessoas sem as variantes. No entanto, ainda são necessários mais estudos para entender a função exata de cada variante.

Estudo complementar mostrou aumento do risco de morte

Outro estudo focou na hematopoiese clonal de potencial indeterminado (CHIP), que é marcado pelo acúmulo de células-tronco hematopoéticas e predispõe as pessoas ao risco de câncer no sangue, ataques cardíacos e derrames, além de aumentar em 40% o risco de morte.

Para este estudo foram utilizados dados genéticos e de saúde de 97.691 pessoas, sendo identificadas 4.229 com CHIP. Ao fazer uma comparação, os especialistas descobriram três regiões do genoma associadas ao CHIP.

Outro ponto importante dessa pesquisa é que a variante foi observada apenas em pessoas com ascendência africana.

"Não achamos que a aquisição de mutações por si só seja suficiente para causar CHIP. Muitas pessoas têm uma mutação em uma célula ou em algumas células, e as células nunca se espalham tanto. Mas, quando você tem uma variante como essa que promove o crescimento celular, isso faz com que uma célula com uma mutação se expanda de forma mais agressiva. Além disso, um maior número de ciclos celulares também pode facilitar a aquisição de mutações CHIP", salienta Natarajan.

Contudo, o especialista ressalta que ainda são necessários estudos complementares para compreender melhor esses efeitos.