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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Compra muito? Veja 6 armadilhas da mente que motivam ato e como driblá-las

Autoconhecimento pode ajudar a se livrar do comportamento compulsivo - iStock
Autoconhecimento pode ajudar a se livrar do comportamento compulsivo Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

16/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Em certas situações ou ambientes, a mente pode gerar "armadilhas" que estimulam a compra
  • Para saber quando o consumo é de forma impetuosa e sem necessidade, é importante saber identificar os pensamentos que validam o ato
  • Fazer lista de compras, sair com o dinheiro contado e sem cartão de crédito e se questionar sobre o motivo daquela compra podem ajudar

Mais do que o risco de se transformar em uma compulsão, deixar-se levar pelo impulso na hora de comprar algo pode render muita dor de cabeça —e dívidas indesejadas. Para frear o ímpeto de consumir de maneira descontrolada, nada melhor do que tentar se conhecer e entender como a mente funciona em determinadas situações e ambientes.

A seguir, listamos seis "armadilhas" do cérebro que estimulam esse comportamento e indicamos como combatê-las.

"Efeito Diderot"

O termo foi cunhado pelo antropólogo canadense Grant McCracken, especialista em consumo, em referência a uma passagem da vida do filósofo francês Denis Diderot (1713-1784).

O filósofo não era rico, mas, em um certo momento, recebeu uma grande soma de dinheiro e decidiu adquirir um luxuoso manto escarlate. Então, notou que tudo o que possuía destoava do requinte da peça e logo passou a comprar um monte de coisas igualmente chiques. O resultado, obviamente, foi desastroso, pois não demorou muito para o Diderot se endividar.

Na prática, o "efeito Diderot" acontece quando, por exemplo, compramos uma calça e nos vemos impelidos a levar para casa também um casaco, uma camisa e um par de sapatos (dos quais não precisamos) para combinar com a peça. O supérfluo, com uma boa ajuda de vendedores insistentes, acaba se tornando imprescindível.

Dicas para combater: saia de casa com o dinheiro contado para comprar aquilo que precisa e, preferencialmente, sem cartão de crédito.

Consumidores com sacolas de compra do lado de fora de loja de departamento em Paris - Charles Platiau - Charles Platiau
O consumo desenfreado e estimulado pela ansiedade pode ter aumentado durante a pandemia
Imagem: Charles Platiau

Curiosidade em relação ao "abismo"

Esse impulso, muitas vezes, é inconsciente. Algumas pessoas morrem de medo de contrair dívidas ou passar por dificuldades financeiras, mas não conseguem domar a curiosidade em conhecer o "lado sombrio da força". É como se testassem a si mesmas, para saber até onde são capazes de ir. Tudo isso com uma boa dose de adrenalina, claro.

Dicas para combater: ter uma lista de objetivos de curto, médio e longo prazo ajuda a manter os gastos em perspectiva. Quem se planeja e se organiza para trocar de carro ou realizar a viagem dos sonhos dificilmente cai na tentação de sair por aí gastando sem medir as consequências.

Medo do futuro

Logo no início da pandemia do novo coronavírus, muita gente saiu desesperadamente às compras. Nas farmácias, consumidores enchiam os cestos de medicamentos como antigripais e antitérmicos. Em alguns supermercados, as prateleiras de papel higiênico e de mantimentos básicos chegaram a ficar desfalcadas. O tempo mostrou que a correria foi em vão: o lockdown para confinar a população em casa não chegou a acontecer no Brasil e, mesmo que tivesse ocorrido, mercados e drogarias teriam funcionamento permitido. Além disso, a taxa de isolamento social nunca atingiu a porcentagem de 70%, considerada ideal.

A possibilidade da privação de uma série de coisas pode levar a um alto nível de ansiedade, fazendo com que as pessoas se atirem no consumo impulsivo como forma de driblar as preocupações e angústias.

Dicas para combater: avaliar se a inquietação é legítima e corresponde à realidade, e comprar apenas o necessário, sem desperdício.

Alívio de sentimentos desconfortáveis

Tédio, tristeza, raiva, frustração, dor de cotovelo, angústia. Tudo isso pode acionar a compra impulsiva como forma de compensação, para atenuar o que faz mal. É uma estratégia potencialmente perigosa que pode se tornar uma dependência, já que em pouco tempo a sensação de prazer gerada pelo consumo acaba e a pessoa se torna refém do vício.

Dicas para combater: conscientize-se de que o deleite experimentado pela compra (física ou online) é momentâneo e busque atividades reconfortantes que tenham um efeito benéfico prolongado, como ver uma série, ler um livro, praticar exercícios, telefonar para amigos.

Papel higiênico e papel toalha estão entre os ítens mais estocados, segundo a direção do mercado - Paulo Sampaio/UOL - Paulo Sampaio/UOL
No início da pandemia, muitas pessoas estocaram papel higiênico e mantimentos
Imagem: Paulo Sampaio/UOL

Obter sensação de pertencimento

Querer impressionar alguém, sentir-se pertencente a algum grupo ou conseguir a aceitação do outro são motivações que levam muita a gente a consumir de forma tóxica, comprando coisas das quais não precisa ou se endividando para tê-las.

Dicas para combater: o autoconhecimento é a palavra-chave. Pergunte-se por que você precisa da aprovação alheia. Será que se deixar levar pela influência de outras pessoas não está tirando o foco daquilo que realmente é importante para você? A baixa autoestima também pode estar por trás desse comportamento. Nesse caso, não tenha vergonha de pedir ajuda a um psiquiatra e/ou psicólogo, pois as compras não vão conseguir preencher o vazio que provavelmente sente.

Achar que vai perder um bom negócio

Produtos em promoção ou com desconto são tentações difíceis de resistir. Afinal, como deixar de lado uma boa oferta? Só mesmo sendo pouco inteligente para ignorar tamanha oportunidade. Acontece que, de pechincha em pechincha, o risco de encher a despensa ou o guarda-roupa de artigos desnecessários é enorme.

Dicas para combater: antes de comprar, pergunte a si mesmo se você pode gastar dinheiro naquele momento, se realmente precisa daquele item e se tem onde guardá-lo. Cancele o recebimento de mensagens e e-mails com promoções e, se for ao shopping ou ao supermercado, faça uma lista prévia de compras e tente segui-la à risca.

Fontes: Flávia Teixeira, psicóloga, mestre em Saúde Coletiva pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e docente na pós-graduação em Psicologia Hospitalar na mesma instituição; Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista, em São Paulo (SP), e colaborador do ambulatório de impulsividade do IPq - HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Pedro Katz, psiquiatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Vera Garcia, psiquiatra de adultos e da infância pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com MBA de Gestão em Saúde pela FGV (Fundação Getulio Vargas).