"Depressão não é falta do que fazer", diz Leandro Karnal
Em entrevista à jornalista Mariliz Pereira Jorge, no painel desta sexta-feira (16) da Semana da Saúde Mental VivaBem, o professor e historiador Leandro Karnal fez uma reflexão sobre o fato de a sociedade ainda encarar transtornos mentais, como a depressão, como frescura.
"As pessoas entendem perfeitamente um câncer e se solidarizam com quem tem coqueluche, difteria, covid-19. Mas quando se trata de um distúrbio mental acham que é frescura. Por que continuamos achando que somos só um corpo flutuando no espaço, e não também uma mente que é submetida à saúde e à doença?", disse. Segundo ele, a "psicofobia" é um dos grandes preconceitos contemporâneos.
Mariliz revelou que sentiu esse tipo de julgamento quando expôs seu diagnóstico de depressão em um artigo no jornal Folha de S.Paulo em 2015. A jornalista disse que se surpreendeu com a quantidade de pessoas surpresas ao saberem de sua condição, por a considerarem uma "pessoa feliz". "Elas não conseguiram fazer a associação dessa doença com uma pessoa com o meu perfil".
Karnal ressaltou que há uma ideia em comum entre as pessoas de que se alguém sorri, automaticamente esse indivíduo não pode ter depressão. "Há uma confusão entre alegria e tristeza e entre saúde e depressão. Aliás, há um índice alto de depressão entre humoristas. Portanto, sorrir ou não sorrir não indica depressão".
Ele também apontou que depressão não é tristeza, e sim uma doença que tem causas múltiplas e pode ter um gatilho, como uma perda profissional, uma doença, um luto. Ela é uma força maior do que a pessoa, que muitas vezes gostaria de estar em outra situação. A depressão grave precisa não só de acompanhamento especializado como também medicação.
Para aqueles que ainda acham que depressão é coisa de quem não tem o que fazer, o professor rebate: "Estatisticamente, a depressão é muito mais forte em pessoas sobrecarregadas, que trabalham demais. Portanto, quem não é da área, não deve opinar sobre as doenças mentais".
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