Brasileiros confiam na vacina, mas aceitação é insuficiente para imunidade
Os brasileiros são um dos povos mais predispostos a tomar a vacina contra a covid-19. Porém, o índice de aceitação global ainda é insuficiente para garantir a imunidade coletiva. É o que constata um estudo publicado na última semana pela revista científica Nature Medicine, que analisou o grau de confiança da população sobre a futura vacina em 19 dos 35 países mais afetados pela doença.
Perguntados se tomariam as doses da vacina, caso seja comprovadamente segura e eficaz, 85% dos pouco mais de 700 brasileiros entrevistados responderam que sim. O índice ficou apenas abaixo da China, onde 88% disseram estar dispostos a receber a imunização. O país com menor nível de confiança foi a Rússia, com apenas 54% de respostas positivas.
O Brasil teve também uma baixa rejeição à futura vacina, comparado às outras nações pesquisadas. Pouco mais de 6% disseram que não a tomariam, enquanto a média de recusas no nível global da pesquisa foi de 14%. O país com maior rejeição foi a Polônia (27%).
Ainda de acordo com o levantamento, os resultados sugerem que a aceitação voluntária é o melhor caminho para o sucesso dos programas de imunização pelo mundo. Isso porque, em todos os países avaliados, a população se mostrou menos propensa a receber a dose se isso fosse uma exigência de governantes ou empregadores.
No Brasil, por exemplo, 36% aceitaria a vacina se ela fosse recomendada por seu empregador e aprovada como segura e eficaz pelo governo. Já pouco mais de 40% a rejeitariam, enquanto 20% ficariam na dúvida. Globalmente, a média de aceitação foi de 32%, enquanto 18% repudiariam uma vacina imposta por órgãos oficiais.
"Descobrimos que o problema da hesitação à vacina está fortemente relacionado com a falta de confiança nos governos. A aceitação à vacina era invariavelmente maior em países onde a população se mostrava mais confiante", afirma o coordenador do estudo, Jeffrey V. Lazarus, pesquisador do ISGlobal.
Para atingir a confiança necessária para a imunização coletiva, os autores fazem uma série de recomendações aos governos de todos os países. Entre elas, a mobilização para promover uma comunicação mais clara e consistente sobre como as vacinas funcionam e são desenvolvidas, bem como a importância da cobertura global para o combate ao vírus.
"Precisamos aumentar a confiança na vacina e melhorar a compreensão do público de como eles podem ajudar a controlar a disseminação da covid-19 em suas famílias e comunidades", acrescenta Ayman El-Mohandes, reitor da Escola de Pós-Graduação em Saúde Pública e Políticas de Saúde da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY, sigla em inglês), e que também coordenou o estudo.
Participaram das pesquisas cientistas de quatro universidades e instituições globais de saúde - Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), e as universidades da Cidade de Nova York, e de Georgetown, nos Estados Unidos.
As análises foram baseadas em coletas de dados de mais de 13 mil participantes de 19 dos 35 países com maior índice de contaminados pelo novo coronavírus: África do Sul, Alemanha, Brasil, Canadá, China, Cingapura, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Itália, México, Nigéria, Polônia, Reino Unido, Rússia e Suécia.
As amostras revelaram ainda uma variância no grau de aceitação à futura vacina de acordo com a idade, renda e nível de escolaridade dos entrevistados. Por exemplo, os participantes com idade entre 18 e 22 anos foram os que se mostraram menos adeptos à vacina. Já aqueles que ganham em média US$ 32 (R$ 179) por dia também foram mais confiantes que entrevistados com renda menor de US$ 2 (R$ 11) por dia.
Curiosamente, as pessoas que já haviam sido acometidas pela covid-19 - ou cujos parentes adoeceram - não tiveram maior probabilidade de responder positivamente à imunização.
"Será trágico se desenvolvermos vacinas seguras e eficazes e as pessoas se recusarem a tomá-las. Precisamos desenvolver um esforço robusto para lidar com a hesitação das pessoas e reconstruir a confiança pública nos benefícios pessoais, familiares e comunitários das imunizações", alerta Scott Scott C. Ratzan, coautor do estudo e conferencista emérito da CUNY.
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