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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Crossfit após os 50 anos? Pode sim! Depende do histórico, não da idade

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Marcia Di Domenico

Colaboração para VivaBem

23/10/2020 04h00

Muita gente pensa no crossfit como uma modalidade adequada principalmente ao público jovem por causa da alta intensidade e da estrutura das aulas, que incentivam a busca de superação a cada treino, tanto dos próprios limites quanto em relação aos outros alunos. Porém, mais importante do que a idade é o histórico de atividade física da pessoa para determinar se representa perigo à saúde.

O crossfit é um método de treinamento que combina exercícios funcionais, aeróbicos (como corrida, remo e pular corda) e levantamento de peso em aulas com muitas repetições e variações, o que demanda alto esforço muscular e cardíaco. Em compensação, o treino é eficiente para desenvolver força, potência e resistência cardiovascular, além promover ganho de músculos e perda de gordura.

Existem poucos estudos que tratam da relação entre envelhecimento e riscos para a prática de crossfit, e aqueles que avaliaram a segurança e a incidência de lesões em "crossfiteiros" não apontam diferenças por grupo etário.

Os especialistas concordam que a idade, como fator isolado, não serve para determinar se a modalidade pode prejudicar a saúde. Afinal, nem todo idoso é frágil ou fisicamente dependente —muito pelo contrário, com o aumento da longevidade da população, atletas amadores com mais de 60 anos não são raridade.

O que conta é principalmente o nível de condicionamento do indivíduo no momento em que decide entrar no crossfit. "Alguém sedentário só deve começar a treinar depois de passar por uma avaliação física completa que afaste limitações cardiovasculares ou musculoesqueléticas", avisa Páblius Staduto Braga, médico do esporte do Hospital 9 de Julho, em SP. "E precisa iniciar aos poucos, aprender o jeito certo de executar os exercícios antes de sair fazendo um monte de repetições", completa.

Diabetes e hipertensão, por exemplo, que acometem principalmente homens e mulheres acima de 60 anos e são consideradas fatores de risco para doenças cardíacas, precisam ser avaliadas antes que o paciente comece a treinar.

"De modo geral, a atividade é sempre benéfica e pode até auxiliar no controle de saúde, mas precisa ser bem orientada para não predispor a mais risco, sobretudo no caso de modalidades de alta intensidade", afirma a cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, em SP.

Paciência e profissional certo

Crossfit na terceira idade, idoso - iStock - iStock
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De qualquer modo, praticantes maduros, ativos ou não, precisam sempre buscar acompanhamento individual para as aulas. "Com o envelhecimento, ocorre naturalmente um declínio na eficiência de todos dos sistemas do corpo, o que pode afetar a capacidade funcional. Muitos alunos mais velhos apresentam, ainda, problemas de postura ou nas articulações. Por isso é importante poder contar com um instrutor capaz de adaptar os treinos coletivos para necessidades individuais, substituindo ou modificando exercícios", destaca Timóteo L. Araújo, professor da graduação em educação física do Centro Universitário FMU, em SP.

"Também é bom que o aluno tenha consciência dos próprios limites e consiga dosar o impulso de acompanhar o ritmo do grupo, ainda mais se a maioria for mais nova", acrescente Araújo.

O conselho vale também para quem entra para o crossfit pensando em desenvolver hipertrofia. Isso porque mudanças visíveis no corpo vão ocorrer, mas provavelmente demorar mais para aparecer devido às alterações fisiológicas e modificações no tecido muscular esperadas à medida que o corpo envelhece.

"Crossfit mudou minha cabeça"

Meire Salvático - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Meire Salvático começou a fazer crossfit aos 53 anos por incentivo das filhas
Imagem: Arquivo pessoal

A dentista Meire Salvático, 55, se matriculou em um box de crossfit por insistência das filhas, hoje com 23 e 26 anos, há dois anos. Na época, ela estava há mais de um ano sem malhar, tinha engordado e sofria com as dores de uma hérnia na lombar. Ela conta que logo percebeu que precisaria focar na própria performance se não quisesse acabar se machucando.

"Como meu objetivo sempre foi ficar saudável, e não forte demais, fico atenta para não me deixar levar pela empolgação do grupo ou abusar das cargas, até porque preciso fazer várias adaptações nos movimentos por causa do meu problema na coluna e outro no ombro", comenta.

O treino orientado de perto pelo coach não só ajudou a evoluir sem lesões como despertou uma consciência corporal e um prazer pelo exercício que Meire não tinha antes. Por causa dos treinos ela começou a correr e a fazer ginástica artística e muito alongamento. "O crossfit mudou meu corpo e minha cabeça, me sinto melhor em todos os sentidos", diz.

Mulheres, atenção ao assoalho pélvico

Bastante se comenta sobre a maior incidência de incontinência urinária em mulheres praticantes de crossfit. Uma revisão de estudos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte concluiu que pode haver uma relação direta entre a perda involuntária de urina e o esforço despendido durante os treinos.

Os vilões seriam os exercícios de impacto, como corrida e saltos, e aqueles que colocam pressão sobre a musculatura do assoalho pélvico, como agachamentos e certos tipos de abdominal.

O assoalho pélvico é uma rede de músculos e ligamentos localizada na região baixa do abdome, que funciona como sustentação para os órgãos pélvicos (intestinos, bexiga e útero) e tem a função de conter a urina. As mulheres são mais sensíveis ao enfraquecimento dessa musculatura, principalmente durante a gravidez (o peso do bebê, alterações anatômicas e a ação dos hormônios se somam para amolecer a teia de músculos) e dos 40 anos em diante, com a aproximação da menopausa.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, cerca de 35% das mulheres após a menopausa sofrem com incontinência urinária. Nessa fase, a queda hormonal colabora para que a musculatura perca flexibilidade e funcionalidade, e o esforço da atividade física acelera o processo de perda de tônus.

Também há benefícios

Articulações do corpo humano - iStock - iStock
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É possível apontar vantagens da prática de crossfit pelo público maduro. "Uma delas diz respeito à realização de movimentos funcionais, que preparam o corpo para ações do dia a dia como sentar e levantar, alcançar um objeto em uma prateleira alta ou no banco de trás do carro, por exemplo e, portanto, ajudam a preservar a mobilidade e a autonomia física", diz Flavio Henrique Bastos, professor do Departamento de Pedagogia do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo).

Ele alerta, porém, para a importância de aprender a execução correta dos exercícios, muitos deles complexos, antes de passar às muitas repetições que as aulas propõem. Isso porque, diferentemente da musculação, em que os aparelhos permitem trabalhar os músculos de forma isolada e com controle de carga e padrão, no crossfit, boa parte dos exercícios utiliza pesos livres e do corpo como carga, o que abre espaço para lesões se não houver consciência corporal e atenção aos limites individuais.

Já os exercícios que envolvem impacto e compressão nos ossos, como pular corda, saltos, corrida e alguns levantamentos de peso, podem contribuir para o fortalecimento da massa óssea, importante para prevenir ou desacelerar o avanço da osteoporose, uma preocupação principalmente para as mulheres perto da menopausa.

"O treino, se feito regularmente e combinado com outros hábitos saudáveis, não vai repor tecido ósseo, mas ajuda a manter o atual e diminuir o ritmo de perda", explica Araújo.