Sofrimento na infância pode impactar vida adulta; veja 7 dicas para superar
Resumo da notícia
- Dificuldades enfrentadas na infância podem repercutir por muitos anos, causando, na idade adulta, diversos problemas
- Propensão a dívidas, insegurança, agressividade, intolerância à frustração, tendência a se envolver com parceiros abusivos são algumas consequências
- Para superar ou, no mínimo, aprender a lidar melhor com essas memórias e suas consequências, vale se dedicar a algumas práticas de autoconhecimento
- Entretanto, caso sinta que é complicado ressignificar e superar o que houve na infância, procure o auxílio profissional de um psicoterapeuta
É inegável que a infância deixa marcas profundas nas pessoas. Sofrimentos devido a abuso sexual, psicológico ou físico, bullying, experiências de rejeição, abandono, humilhação e situações de vulnerabilidade persistem ao longo da vida e podem causar ainda mais problemas na fase adulta. Essas dificuldades enfrentadas quando se é criança dão origem a propensão a dívidas, medo de falar em público, insegurança, baixa autoestima, agressividade, intolerância à frustração, tendência a se envolver com parceiros abusivos e por aí vai.
A infância é um período crucial para o desenvolvimento emocional do indivíduo, por ser uma fase de constante aprendizado. É nessa etapa que construímos a nossa visão de mundo, das pessoas e de nós mesmos. A personalidade está em formação, e as relações e a bagagem acumulada são fundamentais para ela. Podemos desenvolver um trauma em qualquer momento da vida, mas é na infância que ele tem maior impacto e tende a causar mais danos ao psiquismo.
É preciso lembrar, no entanto, que o que é marcante ou doloroso para uma pessoa não surte necessariamente o mesmo efeito em outra. Além disso, existem vários fatores —contexto social, amigos, ambiente escolar e as lições adquiridas ao longo da vida — que interferem em maior ou menor grau naquilo que foi vivido quando criança.
O fato é que, para muita gente adulta, as lembranças ainda machucam e interferem em aspectos importantes da vida, impedindo-as de ter bons relacionamentos e até de conquistar objetivos. Para superar ou, no mínimo, aprender a lidar melhor com essas memórias e seus resultados, uma boa ideia é se dedicar a algumas práticas de autoconhecimento.
Entenda que você é a soma de todas as suas experiências
Mais do que se apegar às lembranças negativas da época de criança, é preciso ter em mente que diversas vivências compõem quem somos e podem dar um sentido diferente ao que aconteceu.
Como inspiração, cabe começar esse processo com a célebre frase do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre (1905-1980): "O importante não é aquilo que fizeram conosco, mas o que podemos fazer com o que os outros fizeram de nós". Quando criança, você não tinha consciência disso. Hoje, pode ressignificar o que passou. Todo mundo é capaz de fazer escolhas e se responsabilizar pela vida que deseja ter.
Fortaleça sua autoestima
Por mais que ela tenha sido afetada, é possível reconstruí-la. Sentir-se inferiorizado depende da imagem que a pessoa tem de si mesma e das crenças que alimenta a respeito de suas incapacidades —e não apenas da maneira como os outros a veem.
Listar todas as qualidades que têm atualmente, em vez de se ater aos prováveis defeitos que lhe atribuíram no passado, pode melhorar a autoimagem e resultar em uma atitude mais positiva diante da vida. Essa lista deve ser elaborada aos poucos. À medida que a pessoa vai percebendo que é dotada de virtudes e capacidades, naturalmente passa a aceitar a si própria.
Construa uma rede de apoio
Não são poucas as pessoas que somente na idade adulta se dão conta de quanto os familiares são tóxicos. Romper laços ou buscar o diálogo como forma de ressignificar os relacionamentos é uma decisão que compete a cada um. Nessas circunstâncias, o convívio com os amigos pode ser uma boa estratégia para superar as assombrações do passado. Família não pode ser escolhida, mas o círculo de amizades, sim.
Essas relações podem ajudar a fortalecer a autoestima e a criar um sentimento de pertencimento até então não experimentado. Uma vez que o indivíduo se vê acolhido, amado e respeitado, também se sente apto a estabelecer uma outra forma de lidar com as questões de sua vida e traçar estratégias para enfrentar suas dificuldades.
Não perpetue o sofrimento com seus filhos
É muito comum que as pessoas criem seus filhos espelhados em seus pais. A repetição é inconsciente. Uma vez que você tomou consciência desse ciclo nocivo, pode quebrar o padrão e buscar novos modelos mais saudáveis e afetuosos para aplicar na própria família.
A preocupação em não dar continuidade a práticas que considera sofridas na educação dos filhos já é, por si, uma maneira de ressignificar seu passado e, assim, escrever uma nova história, de acordo com seus valores, escolhas e crenças.
Tente perdoar quem lhe feriu
Quem perdoa deixa de sentir ressentimento, raiva ou qualquer outro sentimento que faça mal. O ato de perdoar proporciona regeneração e transformação, pois consiste em um processo interno no qual a pessoa se desvincula emocionalmente de quem a magoou.
Tire da experiência negativa algo benéfico
Experiências ruins na infância podem levar as crianças a desenvolverem certas habilidades de enfrentamento à realidade externa. Resiliência, capacidade de lidar com situações adversas e flexibilidade são alguns aprendizados "do bem" que costumam ser adquiridos em contextos difíceis.
Busque ajuda quando o fardo for pesado demais
Caso sinta que, por maiores e melhores que sejam seus recursos emocionais, é complicado ressignificar e superar o que houve na sua infância, procure o auxílio profissional de um psicoterapeuta. Você não tem que aguentar as consequências sozinho(a). Por meio de uma terapia, poderá entender melhor a origem de seu sofrimento, aprender formas de questionar seus padrões de comportamento e pensamento e construir uma nova visão sobre si e sobre o mundo.
Fontes: Alfredo Toscano, psiquiatra e psicoterapeuta, docente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em São Paulo (SP); Andressa Tannure, pediatra, membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e especialista em suporte de vida em pediatria pelo Hospital Sírio-Libanês e pelo HCor (Hospital do Coração), ambos em São Paulo (SP); Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo); Flávia Teixeira, psicóloga, mestre em saúde coletiva pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e docente na pós-graduação em psicologia hospitalar na mesma instituição; Gabriela Malzyner, psicóloga, psicanalista e professora do curso de formação em psicanálise do CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos), em São Paulo (SP); Mariana Bonsaver, psicóloga da Maternidade Pro Matre Paulista, em São Paulo (SP).
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