Dentistas tiveram baixo índice de contaminação pela covid-19, aponta CFO
O ano se ameaçava temeroso para os cirurgiões-dentistas após o início da pandemia. As restrições colocadas pelo Ministério da Saúde, que suspendeu os atendimentos eletivos logo no início de março, caíram como um duro golpe financeiro para um setor que trabalha com uma média de reserva de caixa de 30 dias, segundo análise divulgada pela consultoria JP Morgan.
Além disso, para aqueles que continuaram atendendo em emergência, o perigo da contaminação pela Covid-19 era iminente. Como os fluídos bucais estão entre as regiões de maior aderência do vírus, a expectativa inicial era de que os dentistas tivessem o mesmo índice de infecção dos profissionais da linha de frente de hospitais.
Mas passados mais de seis meses desde o choque inicial, o cenário desponta de forma mais otimista. Em junho, os atendimentos não emergenciais voltaram a ser liberados, com novas exigências de segurança.
De acordo com uma consulta feita pelo CFO (Conselho Federal de Odontologia) com 40 mil dentistas no Brasil, 82% continuaram exercendo as suas atividades ao longo da pandemia.
O baixo grau de contaminação entre os profissionais do setor foi outra notícia positiva. Um levantamento do CFO revelou que os dentistas tiveram o menor índice de infectados entre todas as áreas de saúde. Em julho, quando a consulta foi realizada, eles representavam menos de 0,2% dos contaminados no País. Segundo o Ministério da Saúde, do total de óbitos de profissionais de saúde até aquele momento, menos de 3% atuavam na odontologia.
Para o cirurgião-dentista Aldo Brugnera Júnior, professor e colaborador de pesquisas da Universidade de São Paulo (USP), esses números refletem o avanço da área nas questões de segurança: "No tocante à biossegurança na saúde, a odontologia é um setor de maior destaque, pois é uma profissão que sempre se preocupou com isso, principalmente depois do advento dos implantes, há mais de 20 anos", destaca.
Ainda assim, os consultórios tiveram que se adaptar às novas exigências de segurança. As entradas receberam tapetes com desinfetantes, os pijamas cirúrgicos se tornaram acessório obrigatório para toda a equipe assim como o uso de proteções faciais.
Alguns consultórios também instalaram luzes ultravioletas para descontaminar as superfícies. Mas a principal mudança atingiu o atendimento. Para evitar a concentração de pacientes na espera, as consultas passaram a receber maior controle, e a higienização das salas agora levam o dobro do tempo. Com isso, o número de atendimentos diminuiu.
Outro desafio foi o aumento dos preços dos equipamentos de proteção individual. Devido à maior demanda por esses materiais, alguns viram o seu preço disparar em até 50 vezes: "Um avental descartável que custava R$ 0,25 centavos passou a ser vendido por até R$ 8 reais", conta Brugnera Júnior. Mesmo assim, na sua opinião, a pandemia trouxe aprendizados para os profissionais da área que trará benefícios no futuro.
O momento agora é de recuperação e de uma gestão mais otimizada do setor. "Descobrimos que podemos fazer mais com menos. Um exemplo foi a implantação do conceito de 'one stop shop', ou balcão único, em que paciente faz maior número de procedimentos possíveis em uma consulta.
Brugnera Júnior aponta também para outra tendência que vem beneficiando os profissionais do setor. "Muitos pacientes que não queriam fazer procedimentos para economizar agora começaram a se cuidar mais. As pessoas passaram a entender que a saúde bucal é também um fator importante na proteção imunológica", completa.
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