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Ácido presente em carne vermelha aumenta o risco de câncer, sugere estudo

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

03/11/2020 13h36

Manter uma alimentação saudável é um fator importante para prevenir diabetes, obesidade, hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Por isso, há alguns anos vem sendo discutido na comunidade médica a relação entre o aumento do consumo de carne vermelha/processada e o risco de câncer.

Uma nova pesquisa publicada no BMC Medicine mostrou que o aumento do consumo de carne vermelha está relacionado a um maior risco de câncer, sobretudo o colorretal.

De acordo com os autores da Universidade Tel Aviv, em Israel, e do Centro de Pesquisa Epidemiologia e Estatística Sorbonne Paris Cité, na França, o estudo apontou evidências provisórias de que o ácido N-glicolilneuramínico (Neu5Gc) pode ser um fator de risco para câncer.

O Neu5Gc é um carboidrato, ou açúcar, presente em alimentos derivados de mamíferos, sendo mais abundante em carnes vermelhas e laticínios. Esse ácido aparece em níveis mais baixos em alguns peixes e está ausente nas aves.

Como foi feito o estudo?

  • Os autores coletaram dados da pesquisa francesa NutriNet - Santé de 19.621 adultos, todos com no mínimo seis registros alimentares;
  • Eles calcularam a quantidade de Neu5Gc em uma ampla variedade de alimentos comuns;
  • Usando esses dados, construíram o que chamaram de "índice Gcêmico", que classifica os alimentos de acordo com os níveis de Neu5Gc --especificamente, o conteúdo de Neu5Gc em cada alimento em relação à quantidade medida na carne;
  • Em seguida, analisaram amostras de sangue de 120 participantes com pelo menos 18 registros dietéticos de 24 horas;
  • Eles observaram os níveis de anticorpos anti-Neu5Gc no soro.

O problema em questão é que as pessoas não sintetizam Neu5GC, e quando consomem carne vermelha, pequenas quantidades desse ácido se acumulam na superfície das células, e quando esse ácido encontra-se com as células, o organismo dispara uma produção de anticorpos anti-Neu5Gc.

Os cientistas descobriram que a exposição a longo prazo desses anticorpos promove inflamação e câncer em modelos animais. Por isso ainda é preciso identificar efeitos mais claros dessa ingestão em humanos.

"Encontramos uma correlação significativa entre o alto consumo de Neu5Gc de carnes vermelhas e queijos e o aumento do desenvolvimento desses anticorpos que aumentam o risco de câncer", disse Veder Padler-Karavani, autor da pesquisa.

"Durante anos houve esforços para encontrar essa conexão, mas ninguém a fez. Aqui, pela primeira vez, fomos capazes de encontrar uma ligação molecular graças à precisão dos métodos usados para medir os anticorpos no sangue e aos dados detalhados dos questionários de dieta franceses", completa.

Agora, combinando o conhecimento anterior e os dados fornecidos pelo novo estudo, a teoria se torna mais sólida: o consumo de produtos de mamíferos, como carne vermelha e laticínios, aumenta a quantidade de Neu5Gc na superfície das células que, por sua vez, aumenta o nível de anticorpos circulantes anti-Neu5Gc.

Os pesquisadores ressaltam, porém, que é improvável que a resposta imune descrita acima seja a única ligação entre a carne vermelha e o câncer. Eles citam também outros fatores, como o alto teor de gordura na carne e os mutagênicos —compostos químicos que causam alterações irreversíveis no material genético celular— como a amina heterocíclica, produzida quando a carne é cozida em altas temperaturas.

Por que este estudo é importante?

No futuro, o índice Gcemic, criado pelos especialistas, pode se tornar uma ferramenta para avaliar a quantidade de Neu5Gc na dieta.

Isso pode ajudar a criar recomendações personalizadas para cada pessoa, especialmente as que tenham mais riscos de desenvolver doenças.