Com câncer, paciente assintomática de covid-19 disseminou vírus por 70 dias
Embora o novo coronavírus esteja sendo estudado por pesquisadores do mundo inteiro, ainda há muitas lacunas que precisam ser preenchidas, sobretudo sobre os diferentes sintomas, as formas de manifestação e o tempo de infecção.
Um artigo publicado ontem (4) no periódico Cell, relatou o caso de uma mulher com leucemia que foi infectada, mas não apresentou sintomas de covid-19. No entanto, 70 dias após seu primeiro teste positivo, ela ainda estava liberando partículas infecciosas de Sars-CoV-2.
O novo relatório traz um alerta para o fato de que pessoas sem sintomas e com sistema imunológico enfraquecido, como pacientes com câncer, podem liberar o vírus Sars-CoV-2 por muito tempo.
"Embora seja difícil extrapolar a partir de um único paciente, nossos dados sugerem que a disseminação de vírus infeccioso em longo prazo pode ser uma preocupação em certos pacientes imunocomprometidos", escreveu a equipe de pesquisa no artigo.
Nesse caso, os médicos detectaram, isolaram e rastrearam a infecção por Sars-CoV-2 da mulher usando testes de RT-PCR.
Paciente foi diagnosticada com leucemia há 10 anos
A mulher, de 71 anos, diagnosticada com leucemia linfocítica crônica (CCL), um câncer de glóbulos brancos que progride lentamente e, na maioria das vezes, atinge pessoas mais velhas, testou positivo para Sars-CoV-2 em 2 de março de 2020, depois de ser internada no hospital por causa de uma anemia grave relacionada ao câncer.
A partir daí, ela testou positivo para covid-19 outras 13 vezes, mas sem apresentar sintomas. Ela recebeu duas vezes plasma de pessoas que se recuperaram do covid-19 e, por fim, eliminou o vírus de seu sistema em meados de junho.
A partir dos esfregaços da garganta coletados, os pesquisadores mostraram que a mulher estava liberando partículas infecciosas de Sars-CoV-2 por 70 dias.
"Isso indica que, muito provavelmente, o vírus infeccioso liberado pela paciente ainda seria capaz de estabelecer uma infecção nos contatos após a transmissão", escreveram os pesquisadores.
"Compreender o mecanismo de persistência do vírus e eventual eliminação será essencial para fornecer o tratamento adequado e prevenir a transmissão, visto que a infecção persistente e a eliminação prolongada do Sars-CoV-2 infeccioso ocorrem com mais frequência", escreveram os pesquisadores.
De acordo com a equipe, este é um estudo de caso único, portanto não é possível generalizar sobre a disseminação viral persistente em pessoas com outras condições imunocomprometedoras, ou a eficácia do plasma convalescente como tratamento para covid-19.
É, no entanto, "o caso mais longo de alguém infectado ativamente com Sars-CoV-2 enquanto permanece assintomático", de acordo com a equipe de pesquisa médica.
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