Zika vírus altera e causa inflamação na placenta, aponta estudo brasileiro
Um estudo realizado pelo IOC (Instituto Oswaldo Cruz) em parceria com a UFRJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mostra que o material genético do zika vírus é capaz de ultrapassar a placenta das grávidas —órgão responsável pela ligação entre mãe e filho e que atua como barreira contra micro-organismos. O trabalho, publicado no periódico Frontiers in Immunology no dia 1 de setembro, mostra que o vírus causa infecção persistente no órgão, com inflamação, disfunção vascular e danos severos ao tecido.
"Confirmamos a presença e replicação do zika em várias células da placenta e comprovamos um ambiente inflamatório robusto, que pode permanecer por meses, já que o vírus continua se replicando no órgão. A infecção leva a alterações patológicas no tecido, que podem, em alguns casos, dificultar a manutenção da gravidez e trazer prejuízos ao desenvolvimento fetal", explica Marciano Viana Paes, pesquisador do IOC e coordenador do estudo.
Em casos de microcefalia, o estudo detectou ainda uma redução significativa de uma substância produzida na placenta, chamada de fator neurotrófico derivado do cérebro (conhecido pela sigla em inglês BDNF), que é essencial para o desenvolvimento do sistema nervoso do feto.
Como o estudo foi feito
- A pesquisa analisou amostras referentes a 10 casos de zika em grávidas, registrados em 2015 e 2016, no auge da epidemia da doença;
- Cinco pacientes deram à luz bebês com microcefalia e cinco tiveram crianças com tamanho da cabeça normal;
- As amostras das placentas foram coletadas após o parto e comparadas ainda com as de cinco grávidas que não sofreram infecção, consideradas como controle.
Quais foram as conclusões
O estudo mostrou que o zika vírus permanece na placenta, replicando-se no órgão, meses após o contágio. Sinais da presença do vírus foram encontrados em todas as amostras, incluindo casos em que as pacientes haviam apresentado sintomas da doença, como febre e manchas no corpo, no primeiro trimestre da gestação. Além disso, agrupamentos das partículas do vírus foram observados dentro das células da placenta e, de forma inédita, os pesquisadores conseguiram identificar danos em organelas celulares.
Por que este estudo é importante?
De acordo com os pesquisadores Marciano Paes e Kíssila Rabelo, o conhecimento sobre a infecção na placenta pode contribuir para identificar biomarcadores. Essas moléculas detectadas em exames podem ajudar a prever o impacto da infecção materna sobre o feto.
Zika vírus no Brasil
Entre 2015 e 2016, o zika provocou quase 3 mil casos de síndrome congênita, incluindo microcefalia e outras malformações, além de óbitos de fetos e recém-nascidos. Com a queda progressiva no número de casos, foi declarado o fim da emergência de saúde pública, mas a doença não desapareceu. Segundo o Ministério da Saúde, novos casos continuam ocorrendo de forma sistemática no país. Além disso, especialistas apontam que surtos podem ocorrer no futuro.
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