Covid-19: na Austrália, crianças criaram anticorpos, mas testaram negativo
Desde o início da pandemia, cientistas observaram que as crianças eram menos suscetíveis a desenvolver covid-19, embora ainda sem razões evidentes. Mas um caso envolvendo uma família australiana pode ajudar a entender como o coronavírus se comporta nos pequenos. Isso porque os três filhos do casal, mesmo em ambientes contaminados por covid, testaram negativo, mas criaram anticorpos contra o coronavírus. O caso foi relatado em um estudo publicado no periódico Nature no dia 11 de novembro.
Em março deste ano, o casal participou de um casamento e, três dias depois, passou a apresentar sintomas como tosse, nariz congestionado, febre e dor de cabeça. Os pais, assim como os três filhos (dois meninos e uma menina), foram submetidos ao teste de RT-PCR —que detecta se o vírus está presente no corpo naquele momento. No resultado, o casal testou positivo, mas as três crianças, não.
Sete dias após o surgimento dos primeiros sintomas dos pais, o menino de 9 anos apresentou tosse leve, coriza, dor de garganta e abdominal, além de diarreia. No dia seguinte, outro filho, de 7 anos, teve apenas sintomas leves. Já a menina ficou assintomática —mesmo dormindo algumas noites na cama dos pais. Mesmo quando testados novamente, os resultados deram negativo.
O que chamou a atenção dos profissionais de saúde é que as três crianças desenvolveram anticorpos contra o coronavírus, após a repetição de testes sorológicos completos —que mostram se a pessoa teve ou não contato com o vírus. Com isso, pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, pediram à família que participasse de um estudo, analisando amostras de sangue, saliva, fezes e urina, e fazendo swabs de nariz e garganta a cada dois ou três dias.
Por que este estudo é importante?
"Este estudo é o nosso primeiro passo para olhar, em profundidade, o sistema imunológico das crianças e ver quais componentes podem estar respondendo ao vírus", disse um dos autores do estudo Shidan Tosif, pediatra da Universidade de Melbourne e do Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch, ao site The Age.
Os cientistas explicaram que os mecanismos por trás da resposta imune das crianças ainda não são totalmente compreendidos, mas descobrir como e por que suas respostas imunes foram ativadas (na ausência de quaisquer casos confirmados do vírus) pode lançar muita luz sobre a suscetibilidade das crianças ao coronavírus.
Os pesquisadores acreditam que as crianças, de fato, foram infectadas pelo vírus, mas seus sistemas imunológicos conseguiram montar uma resposta altamente eficaz em restringir a replicação dele —ao contrário do aconteceu com os pais.
O estudo também aponta um outro problema: a sensibilidade da técnica de RT-PCR, que precisar ser analisado com mais cuidado. Isso porque a resposta imune das crianças foi tão eficaz que pode ter reduzido a carga viral a ponto de ficar abaixo da sensibilidade do teste.
"A discordância entre os resultados do RT-PCR e os testes sorológicos clínicos, apesar de uma resposta imune evidente, destaca as limitações da sensibilidade dos dois testes em crianças", pontuaram os pesquisadores no estudo.
Todos os membros da família que ficaram doentes já estão recuperados e não precisaram de cuidados médicos. Leila Sawenko, mãe da família, disse que todos ficaram felizes por contribuir para um melhor entendimento do coronavírus. "Dava para ver a expressão nos rostos dos médicos. Eles ficaram completamente surpresos e muito animados em pensar que houve essa descoberta", contou à ABC News.
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