"Hoje sou dona do meu desejo e da minha libido", diz Claudia Raia aos 53
Aos 24 anos, Claudia Raia foi questionada por uma repórter se ela tinha algum problema com envelhecimento e como ela se imaginava dali a três décadas. A pergunta foi feita como um paralelo com a personagem da atriz —na época em um musical— que mentia a idade e tinha medo de envelhecer.
A resposta de Claudia foi: "Vou estar destruída, acabada. Não sei, vou ter que casar com um cirurgião plástico". Prestes a completar 54 anos em poucas semanas, a atriz contou essa história hoje, durante o discurso de abertura do Ageless Talks, evento virtual dedicado ao público que tem entre 45 e 65 anos —que terá cinco painéis ao longo dia, com a participação de médicos e personalidades como Zeca Camargo, Marina Person e a atleta de basquete Janeth, entre outros, que discutirão como é possível envelhecer bem e de forma plena e saudável.
Quase 30 anos depois, Claudia disse que nada do que ela previu se tornou realidade e afirmou que está no seu melhor momento: "Hoje sou dona da minha vida, do meu dinheiro, da minha força de trabalho, da minha criatividade, do meu desejo, da minha libido. Entendo meu corpo e minha mente de uma maneira muito mais completa. Sei bem o que quero, quando quero e como quero, e não tenho problema nenhum em falar o que penso. Me sinto completamente à vontade com meu corpo, com o que vejo quando me olho no espelho. Uso o corte de cabelo que quero, a roupa que quero, a maquiagem como quero".
A atriz conta que a ideia de que teria que mudar tudo isso a partir dos 50 anos nunca funcionou com ela e que quem inventou essa regra está errado: "Continuo sendo a mesma pessoa que era antes, aos 49 anos. Que isso de que fez 50, virou uma chave e você tem que se despir de quem é, se recolher, entrar nesse limbo em que querem nos jogar e só ressurgir anos depois, como a vovó fofa? Jamais, amor. Eu não sou um número. Sou muito mais do que isso".
"Vovó fofa"
Em outro momento, ela volta a abordar o tema: "Parece que querem que a gente aceite que o meio do caminho entre a mulher de 40 e a vovó fofa de 80 ou 90 anos é esse buraco onde querem nos jogar, como se isso fosse a realidade e ponto final. Mas, gente, já passou da hora de parar com isso, de mudar esse pensamento".
Claudia comenta que é difícil viver em uma sociedade tão machista que não reconhece a mulher com mais de 50 anos, que não entende essa mulher e nem quer entender, o que para ela é muito pior. Segundo ela, a maioria das mulheres de 50 anos hoje não está em casa fazendo tricô e cuidando dos netos, como se imaginava há alguns anos.
"Nada contra quem está cuidando dos netos e fazendo tricô, pelo amor de Deus! Vamos celebrar a possibilidade de escolha que a gente tem, de fazer o que a gente quiser. Muitas mulheres de 50 anos hoje estão cuidando dos filhos que podem ainda estar na infância ou estão até querendo engravidar —porque a medicina nos proporciona isso—, estão com a carreira organizada. Ou seja, estamos em potência máxima. Então, fico pensando: como é possível que queiram nos apagar dessa maneira?".
No discurso, Claudia fala de algumas mudanças naturais que ocorrem com a mulher no processo de envelhecimento: "Não é porque eu parei de ovular que sou menos mulher do que quem ainda está ovulando. Não podemos ser medidas pela nossa capacidade reprodutiva. Entrar na menopausa é só mais um estágio da nossa vida, não é uma sentença de morte e nem deve ser. E precisamos falar dele, acabar com esse tabu que ronda a palavra. Menopausa não é fácil não. Passar por isso não é fácil. Mas como a gente pode fazer com que seja melhor? Conversando sobre o assunto, falando o que acontece. Quero ouvir outras mulheres, trocar com elas, descobrir caminhos com elas. Quero que os médicos nos olhem como somos hoje. Porque a verdade é que a mulher contemporânea de 50 anos não está nos livros".
Ao compartilhar sua experiência com a menopausa, ela diz que não fazia a menor ideia de que poderia durar anos: "Não é uma coisa rápida e passageira. Se a gente não fala, não tinha como saber. Estou descobrindo na pele".
Juventude eterna?
Outro ponto levantado pela atriz e que, de acordo com ela, precisa ser revisto urgentemente é a busca desmedida pela juventude eterna, o culto a um padrão de beleza inalcançável. Ela vê como positivo movimentos como o Corpo Livre, que celebra os corpos como são, que ajudam no processo de aceitação e autoestima, mas diz que o caminho ainda é longo.Claudia cita dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de que nos últimos 10 anos houve aumento de 141% no número de procedimentos em pessoas de 13 a 18 anos. Ela pondera que o problema está antes de chegar aos 50.
Ela diz que não é crítica das cirurgias plásticas e nem de intervenções, e que ela própria já operou o nariz porque não se sentia feliz e queria mudar, mas se questiona se esse aumento de cirurgias plásticas em adolescentes é mesmo uma vontade deles ou uma vontade de atender a um padrão, e alerta como como isso é perigoso.
"É o tempo todo a sociedade apontando o dedo para a mulher e falando que ela não basta, que precisa sempre de um reparo aqui ou ali para se encaixar. Mas se encaixar onde? Em quê? A sociedade está sempre jogando com a autoestima da mulher. E para combater isso, precisamos muito fazer com que as mulheres se sintam confortáveis consigo mesmas, seguras de quem são. Isso começa bem antes de chegar aos 50", opina.
A atriz acrescenta que construir essa autoestima não é fácil: "Você vai para o ramo de beleza, dá uma olhadinha na farmácia e vê o famoso: anti-aging. Já está tudo errado no rótulo, né, amor. Por que eu não quero não envelhecer, até porque nada para esse processo. Quero me cuidar da melhor maneira que puder. Temos que reverter essa ideia de que envelhecer é sinônimo de fracasso. Não é. É um processo natural da vida. Não adianta a gente lutar contra, não adianta fingir que não está acontecendo. E que bom porque significa que a gente está aqui, que pode correr atrás das coisas, que pode falar sobre ageless e mudar essa visão tão restrita. Significa que ainda temos muito para viver. Quando a gente aprende a olhar para a passagem de tempo como uma dádiva, tudo flui muito melhor, inclusive nosso processo de aceitação disso. Temos que nos empoderar da nossa maturidade, reconhecer tudo de que positivo ela traz".
Para finalizar, Claudia afirma que é preciso reverter esse apagamento da mulher 45+ e cita a importância de eventos como o Ageless Talks. "Não vamos apenas engolir o que querem de nós. Estamos aqui para abrir os olhos das pessoas e reivindicar o nosso espaço, que é onde a gente quiser. Já estamos nesse caminho e prova disso é estarmos aqui hoje reunidas justamente para falar sobre ageless, sobre a beleza da maturidade. Esse é só o começo",
Ageless Talks
Realizado pelo VivaBem, o Ageless Talks foi um encontro da geração que passou dos 45 anos para falar de corpo, mente, vitalidade, sexualidade. Confira os destaques da programação do evento:
Abertura com a atriz Claudia Raia: "Hoje sou dona do meu desejo e da minha libido"
Painel 1: Idade cronológica x idade biológica: como o estilo de vida define o nosso corpo
Participantes: Dra. Vânia Assaly, endocrinologista e nutróloga; Zé Roberto, ex-atleta profissional e palestrante; Paulo Zulu, empresário e modelo
Mediação: Silvia Ruiz, autora da coluna Ageless no VivaBem
Painel 2: O fim do age-shaming: crescente onda de mulheres está abraçando a idade e a beleza da maturidade
Participantes: Marina Person, cineasta e apresentadora; Mariana Muniz, médica dermatologista; Olivia Araujo, atriz
Mediação: Camila Faus, diretora de cena, uma das criadoras do SHEt_alks, carinhosamente apelidado de SHEt
Painel 3: Sexualidade e libido - como manter uma vida amorosa ativa e plena pós-45
Participantes: Jairo Bouer, psiquiatra; Totia Meireles, atriz; Patrícia Parenza, jornalista e empreendedora
Mediação: Conceição Lourenço, jornalista
Painel 4: Viver no seu Tempo - envelhecer se mantendo atual é segredo de longevidade
Participantes: Zeca Camargo, jornalista; Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S.Paulo; Luiza Brunet, empresária e ativista pelos direitos da mulher; Edvana Carvalho, atriz e arte-educadora
Mediação: Tati Schibuola, gerente Geral de Marcas Editoriais do UOL
Painel 5: Menopausa ainda é tabu, mas é possível viver essa fase com plenitude
Participantes: Solange Frazão, apresentadora e influenciadora fitness; Janeth Arcain, atleta de basquetebol; Flávia Fairbanks, ginecologista especialista em menopausa
Mediação: Lúcia Helena, colunista do VivaBem
Encerramento, com a antropóloga Mirian Goldenberg
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.