Age Shaming: mulheres refutam a vergonha e o medo de envelhecer
Entre tantos comportamentos que a pandemia impôs ou despertou na pauta de beleza e bem-estar, ficou evidente nos últimos tempos como muitas mulheres passaram a rever a forma de lidar com os sinais do envelhecimento. Na falta do cabeleireiro, os fios brancos começaram a ser assumidos e celebrados.
Tratamentos estéticos realizados em clínicas foram substituídos pela rotina caseira de cuidados. E tudo bem!
A tendência de maior aceitação da beleza natural reforçada no novo contexto parece vir derrubar o conceito cunhado por age shaming, em livre tradução, vergonha da idade ou do envelhecimento.
E este foi o tema da segunda conversa do Ageless Talks, mediada pela diretora de cena Camila Fauss, 48, que também criou há cerca de um ano o SHEtalks, perfil no Instagram focado em mulheres mais maduras.
A primeira edição do evento Ageless Talks, realizado em 3 de dezembro, foi dedicada a entender e discutir os dilemas e comportamentos mais recorrentes para a população entre 45 e 65 anos.
Para Mariana Muniz, dermatologista que participou como uma das debatedoras do painel, mulheres em todo o mundo enfrentam desafios parecidos com a chegada da maturidade. Mas, no Brasil, a percepção de que beleza está diretamente relacionada à juventude é muito mais arraigada.
"Por isso repito para todas as pacientes que é preciso saber gerenciar nosso envelhecimento", explicou a médica. "E não dá para corrigir tudo, não é uma expectativa real olhar uma mulher de 50 anos e não ver sinal algum da idade".
A dematologista destacou ainda que essa ditadura e consequente busca por juventude é o que leva muitas a exagerarem em procedimentos estéticos. "E aí temos uma polaridade grande entre mulheres que querem fazer tudo e as que têm medo de qualquer coisa por ver resultados muito feios", alerta.
O segredo é se sentir bem
Engana-se, porém, quem imagina que o fim do age shaming signifique fugir de qualquer intervenção. Para a apresentadora e cineasta Marina Person, 51, que foi por 16 anos um dos principais rostos da MTV, icônico canal adorado pelos jovens dos anos 1990 e 2000, o segredo para lidar com o processo de amadurecimento foi buscar os caminhos para se sentir bem sem se ater a regras e focar nos benefícios do avanço da idade.
"Se por um lado temos uma decadência física inegável e inerente ao ser humano, por outro percebi que fui me tornando uma pessoa menos ansiosa, com mais controle das minhas emoções e paranoias", contou.
Para ela, se comparar ao que era há algumas décadas ou a mulheres mais jovens, certamente trará frustrações. "Por isso é preciso observar e valorizar o melhor em cada idade. A cabeça, por exemplo, melhora muito", apontou ela, que encontrou na rotina de cuidados com alimentação, prática de exercícios e sono de qualidade a receita para manter seu bem-estar.
"Ainda há cobrança e expectativa, principalmente para quem trabalha na TV. Mas quando você está bem, isso fica evidente inclusive na câmera".
Aos 48 anos, a atriz Olívia Araújo fez coro com Marina e acrescentou que a frustração envelhece e pesa para aquelas que a carregam ao longo da vida. "A gente tem que melhorar não só a nossa cabeça, mas como sociedade, o que é essa ideia do envelhecer. Por que parece que tudo que envelhece é para ser descartado", ressaltou.
Olívia contou ainda que já foi alguém que olhou para mulheres mais velhas com preconceito. "E que olhar era esse?", questionou. Hoje, porém, considera que a cabeça das pessoas está mudando. E ao se olhar do alto de seus 48 anos, se sente bem e bonita. "E se o outro não achar, problema dele. Mas, claro, foi uma conquista que veio com a maturidade."
Ageless Talks
Realizado pelo VivaBem, o Ageless Talks foi um encontro da geração que passou dos 45 anos para falar de corpo, mente, vitalidade, sexualidade. Confira os destaques da programação do evento:
Abertura com a atriz Claudia Raia: "Hoje sou dona do meu desejo e da minha libido"
Painel 1: Idade cronológica x idade biológica: como o estilo de vida define o nosso corpo
Participantes: Dra. Vânia Assaly, endocrinologista e nutróloga; Zé Roberto, ex-atleta profissional e palestrante; Paulo Zulu, empresário e modelo
Mediação: Silvia Ruiz, autora da coluna Ageless no VivaBem
Painel 2: O fim do age-shaming: crescente onda de mulheres está abraçando a idade e a beleza da maturidade
Participantes: Marina Person, cineasta e apresentadora; Mariana Muniz, médica dermatologista; Olivia Araujo, atriz
Mediação: Camila Faus, diretora de cena, uma das criadoras do SHEt_alks, carinhosamente apelidado de SHEt
Painel 3: Sexualidade e libido - como manter uma vida amorosa ativa e plena pós-45
Participantes: Jairo Bouer, psiquiatra; Totia Meireles, atriz; Patrícia Parenza, jornalista e empreendedora
Mediação: Conceição Lourenço, jornalista
Painel 4: Viver no seu Tempo - envelhecer se mantendo atual é segredo de longevidade
Participantes: Zeca Camargo, jornalista; Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S.Paulo; Luiza Brunet, empresária e ativista pelos direitos da mulher; Edvana Carvalho, atriz e arte-educadora
Mediação: Tati Schibuola, gerente Geral de Marcas Editoriais do UOL
Painel 5: Menopausa ainda é tabu, mas é possível viver essa fase com plenitude
Participantes: Solange Frazão, apresentadora e influenciadora fitness; Janeth Arcain, atleta de basquetebol; Flávia Fairbanks, ginecologista especialista em menopausa
Mediação: Lúcia Helena, colunista do VivaBem
Encerramento com a antropóloga Mirian Goldenberg: "Envelhecimento no Brasil é visto como morte simbólica"
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