Atorvastatina baixa colesterol e pode até ser usada por tempo indeterminado
Resumo da notícia
- Este fármaco pertence à classe das estatinas e é tido como um dos mais eficazes e seguros
- Combate o colesterol ruim (LDL) e pode até ser usado por tempo indeterminado
- Entre os seus efeitos colaterais comuns estão sintomas gripais, náuseas e diarreia
- Ele é contraindicado para gestantes e mulheres que estejam amamentando
Desenvolvida em 1985, a atorvastatina só entrou no mercado em 1997, e é considerada um dos medicamentos mais vendidos de todos os tempos. O fármaco é utilizado para baixar os níveis de colesterol (LDL) no sangue e prevenir eventos cardiovasculares.
O que é atorvastatina?
Trata-se do principal fármaco da classe das estatinas. Na época do seu lançamento, ela foi definida como "turboestatina". A razão para isso era a sua alta eficácia.
Devido às suas características, ela só pode ser comercializada sob receita médica.
Em quais situações deve ser usada?
Dada a utilização desse fármaco há mais de 20 anos, ele é considerado seguro e eficaz. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo determinado pelo seu médico.
A medicação pode ser prescrita no tratamento e prevenção de eventos cardiovasculares em pessoas que apresentem fatores de risco como tabagismo, hipertensão, diabetes, histórico familiar de doença do coração etc., baixando o colesterol ruim, o LDL.
Além disso, ela é indicada nos seguintes casos:
- Aumento dos níveis de colesterol no sangue (hipercolesterolomia);
- Aumento dos níveis de outro tipo de gordura (hipertrigliceridemia);
- Colesterol aumentado decorrente de transmissão genética/familiar, inclusive em crianças (hipercolesterolemia familiar homozigótica, disbetalipoproteinemia);
- Prevenção (secundária, isto é, após algum evento) do infarto;
- Prevenção de AVC (Acidente Vascular Cerebral);
- Procedimentos de revascularização (desobstrução de artérias);
- Hospitalização após insuficiência cardíaca e angina;
- Complicações cardiovasculares.
Entenda como ela funciona
A atorvastatina possui boa farmacocinética, ou seja, ao ser administrada pela via oral, é rapidamente absorvida e, em 2 horas, já é encontrada na corrente sanguínea. É metabolizada essencialmente pelo fígado, mas também pelo intestino e depois eliminada pela bile.
Quanto à farmacodinâmica, ou mecanismo de ação, o fármaco atua no fígado reduzindo a produção do colesterol. "Nesse órgão, ele inibe a enzima HMG-CoA redutase, que é a responsável por sintetizar o colesterol no fígado. Assim, a atorvastina controla a produção do colesterol endógeno", explica Fernanda Cristina Ostrowski Sales, farmacêutica, bioquímica e docente de farmacologia dos cursos de medicina, farmácia e odontologia da PUC-PR.
Conheça as apresentações disponíveis
A marca de referência da atorvastatina é o Lípitor®. Mas você pode encontrar as versões genéricas.
Aliás, o medicamento consta da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), por isso tem distribuição gratuita em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Para ter acesso a ele, basta apresentar a receita médica.
Confira as apresentações e doses disponíveis: comprimidos revestidos - 10 mg; 20 mg; 40 mg; e 80 mg.
Quando utilizado na forma indicada pelo seu médico, o benefício do remédio já poderá ser observado 4 semanas após o início do tratamento.
Segundo Gustavo Lenci Marques, coordenador-adjunto da Escola de Medicina da PUC-PR e especialista em cardiologia e clínica médica, a medicação pode ser usada por período indeterminado, a depender do risco e avaliação de cada paciente. "Em geral, pessoas com alto risco, ou seja, as que já tiveram um infarto, AVC ou obstrução vascular, tendem a usar esse medicamento por toda a vida", esclarece o médico.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
Segundo os especialistas consultados, a maior vantagem da atorvastatina é que ela é segura e muito eficaz para reduzir os níveis de colesterol, evitando eventos como infarto e morte de origem cardiovascular entre pessoas com colesterol alto.
A desvantagem seria a dor muscular, um potencial efeito colateral.
Saiba quais são as contraindicações
A atorvastatina não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento à presença das seguintes condições:
- Doenças renais ou hepáticas
- Gravidez ou lactação
- Não uso de anticoncepcional entre mulheres em idade fértil
- Doença grave do pulmão
- Histórico prévio de AVC hemorrágico
- Uso de álcool
- Hipotireoidismo
- Dor muscular (miopatia) decorrente do uso de outros tipos de estatinas
- Problemas musculares passados e presentes como a fibromialgia
- Idade menor que 10 anos
Crianças e idosos podem usá-lo?
O uso da atorvastatina em crianças abaixo dos 10 anos não possui estudos de segurança. Portanto, ela é contraindicada nessa faixa etária.
Para crianças acima dessa idade, o medicamento pode ser usado, em casos muito específicos, como nos quadros de hipercolesterolemia familiar homozigótica. A literatura médica sugere que tal indicação deve ocorrer após a falta de sucesso nas mudanças dietéticas e no estilo de vida.
Entre os idosos ela pode ser útil, mas esses pacientes devem ser monitorados constantemente por seus médicos. O motivo para isso é o risco decorrente da polifarmácia —uso continuado de vários medicamentos ao mesmo tempo— e a possibilidade de interação medicamentosa, além da tendência à maior concentração da atorvastatina na corrente sanguínea, o que aumenta o risco para as miopatias (dores musculares), especialmente após os 80 anos.
Estou grávida? Posso usar atorvastatina?
O medicamento tem contraindicação para gestantes e pessoas que estão programando gravidez. Todas as mulheres em idade fértil devem ser educadas sobre o potencial risco para o feto do uso da atorvastatina. O tratamento com ela deve ser descontinuado tão logo se tenha notícia da gestação.
Atorvastatina e amamentação
O medicamento está relacionado a efeitos colaterais para o bebê. Por isso, o seu uso é contraindicado para lactantes.
Fale com seu médico sobre sua intenção de amamentar. Ele poderá indicar uma medicação alternativa, até que se tenham mais dados sobre segurança do fármaco durante a amamentação de um recém-nascido ou bebê prematuro.
Qual é a melhor forma de consumi-la?
A orientação é de que ela seja ingerida com água. Como a atorvastatina não causa mal-estar estomacal, pode ser tomada com ou sem alimentos.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. Mas alguns médicos orientam seus pacientes a usá-lo à noite. Isso porque a produção do colesterol é maior nesse período do dia.
O importante é que ele seja utilizado na forma indicada pelo médico ou o fabricante, e sempre no mesmo horário.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando utilizado de acordo com as orientações médicas. Apesar disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações:
Comuns
- Dor de cabeça
- Sintomas de resfriado
- Diarreia
- Flatulência
- Constipação
- Dor de garganta
- Sangramento nasal
- Dor nas articulações, extremidades, costas
- Má digestão
Raros
- Perda de memória
- Dor ou fraqueza muscular
Atenção à dor muscular
João Vicente da Silveira, cardiologista e médico-assistente da Unidade de Hipertensão do InCor-FMUSP conta que, embora a miopatia, ou seja, a fraqueza ou dor muscular seja considerada um efeito colateral raro, tal queixa é comum entre os pacientes que usam estatinas.
"O risco real de desenvolver dores musculares é de cerca de 5% ou menos em comparação com a ingestão de uma pílula que não contém medicamento (placebo)", fala o médico.
Ele acrescenta que um forte indicador de que você sentirá dores musculares ao tomar estatinas pode ser o que se leu ou não sobre esse potencial efeito adverso. "A ciência já provou que este, para muitas pessoas, é um efeito nocebo, isto é, quem tem expectativas negativas sobre um fármaco, relata ter o efeito colateral potencial em taxas mais altas do que o medicamento deveria causar", explica.
Veja quais são os fatores de risco para esse tipo de reação:
- Uso concomitante de remédios para diminuir o colesterol
- Ser mulher
- Ter uma estrutura corporal menor
- Ter 80 anos ou mais
- Ter doença renal ou hepática
- Consumo exagerado de álcool
- Ter certas condições, como hipotireoidismo ou distúrbios neuromusculares, incluindo esclerose lateral amiotrófica (ELA)
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com a atorvastatina. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são exemplos de interação, mas não excluem outras que, eventualmente, possam ter o mesmo efeito. Confira:
- Claritomicina (tipo de antibiótico de amplo espectro)
- Fenofibrato (usado para controle de triglicérides)
- Genfibrozila (outro tipo de medicamento para combater o colesterol)
- Clopidogrel (trata e previne a trombose)
- Ciclosporina (usado na psoríase e artrite reumatoide)
- Colchicina (usa-se na terapia contra a gota)
- Verapamil, amiodarona (utilizados nas arritmias)
Entre os suplementos, a atorvastatina não combina com a niacina. Quanto aos fitoterápicos, o cuidado deve ser com o Hipérico, que reduz as concentrações do medicamento na circulação sanguínea, alterando o seu desempenho. Informe seu médico caso esteja fazendo uso desses itens.
Posso ter diabetes usando esse medicamento?
Caso você tenha algum fator de risco para o desenvolvimento do diabetes, ou já tenha níveis altos de glicose no sangue, o uso da atorvastatina pode aumentar a chance de a doença se instalar. Isso porque o medicamento tem açúcar em sua composição e aumenta os níveis de glicose.
Apesar disso, as estatinas previnem ataques cardíacos em pessoas com diabetes. Assim, seu médico deve monitorá-lo durante o tratamento, porque o benefício de tomar estatinas, provavelmente, supera o pequeno risco de o nível de açúcar no sangue subir.
Minha fertilidade pode ser afetada?
Até o momento não há evidências de que a atorvastatina possa prejudicar a fertilidade em homens ou mulheres.
A atorvastatina corta o efeito do anticoncepcional?
O presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), Marcos Machado, afirma que o uso concomitante da atorvastatina e anticoncepcional oral pode elevar a concentração plasmática de estrogênios e progestágenos. Isso significa que pode haver estímulo da ovulação.
"O mecanismo de ação e o resultado clínico desse efeito ainda é desconhecido. Por isso, o mais indicado é informar seu médico sobre o tipo de contraceptivo utilizado para que ele possa avaliar se há necessidade, ou não, de maiores cuidados durante o uso da atorvastatina", sugere o especialista.
Existe interação com exames laboratoriais?
O medicamento pode levar a anormalidades em testes das funções hepáticas —até 3 vezes mais do limite normal—, assim como aumento da creatina fosfoquinase —enzima relacionada ao infarto. Caso seja necessário fazer esse tipo de exame, informe o médico e o pessoal do laboratório sobre o seu tratamento com atorvastatina.
Há alguma interação alimentar?
Sim. Pessoas que fazem uso de atorvastatina devem evitar o consumo de suco de toranja (grapefruit), farelo de aveia ou pectina (nutriente encontrado nas frutas e verduras). Quando não for possível evitar o consumo concomitante desses dois últimos itens, a administração do remédio deve ocorrer com, ao menos, 2 a 4 horas de distância da ingestão deles.
Posso beber álcool enquanto uso a atorvastatina?
É indicado evitar o consumo de quantidades substanciais de álcool durante o tratamento com atorvastatina. O risco, nesse caso, é o desenvolvimento de lesão hepática, que pode até ser fatal.
"Essa é a razão por que há contraindicação do medicamento para pessoas com doença hepática ativa, níveis altos de transaminase e consumo de álcool. Todo esse cuidado visa evitar a hepatotoxicidade nesses pacientes", explica Amouni Mourad, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e assessora técnica do CRF-SP.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
- Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Utilize o medicamento na posologia indicada;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: João Vicente da Silveira, cardiologista e médico-assistente da Unidade de Hipertensão do InCor-FMUSP (Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Fernanda Cristina Ostrowski Sales, farmacêutica, bioquímica, mestre em tecnologia em saúde pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e docente atuando na disciplina de farmacologia dos cursos de medicina, farmácia e odontologia da mesma instituição; Gustavo Lenci Marques, médico especialista em cardiologia e clínica médica; doutor e mestre em medicina interna, professor da PUC-PR e da UFPR (Universidade Federal do Paraná), e coordenador-adjunto do curso de medicina da PUC-PR; Marcos Machado, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo), farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas; Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutora em ciências da saúde pela FCMSCSP (Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo) e assessora técnica do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências: Adams SP, Tsang M, Wright JM. Atorvastatin for lowering lipids. Cochrane Database of Systematic Reviews 2015, Issue 3. Art. No.: CD008226. DOI: 10.1002/14651858.CD008226.pub3. Acesso em 01 Dezembro 2020; Moon J, Cohen Sedgh R, Jackevicius C. Examining the Nocebo Effect of Statins Through Statin Adverse Events Reported in the FDA Adverse Event Reporting System (FAERS). Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2020 Nov 9. doi: 10.1161/CIRCOUTCOMES.120.007480. Epub ahead of print. PMID: 33161769; McIver LA, Siddique MS. Atorvastatin. [Atualizado em 2020 Sep 27]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430779/.
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