Vacina de Oxford e Sputnik serão testadas juntas; há problema em misturar?
Em parceria, o laboratório sueco AstraZeneca, que desenvolve uma vacina com a Universidade de Oxford, e o instituto russo de pesquisa Gamaleya anunciaram hoje (11) testes clínicos conjuntos que combinam suas vacinas contra o novo coronavírus.
A pesquisa aponta mais uma possibilidade para a imunização — ela não anula os estudos feitos por cada instituto ou laboratório, nem impede que cada uma seja administrada individualmente, caso sejam aprovadas.
Para Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), a notícia é positiva. "É um dos estudos que boa parte de nós, médicos, desejava muito. O mundo vai precisar de muitas doses e é possível que os mercados sejam abastecidos com um pouco de cada imunizante. Por isso, seria muito interessante conhecermos não só o perfil de segurança, mas de eficácia das vacinas combinadas — inclusive de outros laboratórios", avalia.
No Brasil, a previsão de planos de vacinação diferentes em cada estado também seria um bom motivo para desejar testes combinados. "Digamos que o Brasil tenha três ou quatro vacinas aprovadas. Aí, alguém viaja para um determinado lugar, não lembra qual tomou, ou perde a carteirinha de vacinação... É possível que aconteça a intercambialidade de fabricantes, então é melhor que saibamos se é seguro e eficaz ou não", diz Kfouri.
De acordo com o médico, a técnica de iniciar a imunização com a vacina de um determinado laboratório e terminá-la com uma segunda dose de outro já é usada em alguns casos, como vacinas pneumocócicas, de meningite e coqueluche.
Ambas as vacinas usam estratégias similares
Tanto a vacina da Astrazeneca quanto a Sputinik utilizam estratégias parecidas para fornecer a imunidade: por meio de adenovírus.
Para criar a proteção no corpo humano, os adenovírus são geneticamente modificados para imitarem o Sars-CoV-2, mas sem a capacidade de deixar a pessoa doente, o que instiga células de defesa a criarem barreiras naturais.
"A única diferença é que vacina em parceria com a Universidade de Oxford usa adenovírus de macaco e a Sputnik usa adenovírus humano. Juntas, por possuírem vetores diferentes, ode ser que gere uma resposta melhor, mas não dá para garantir. São necessários estudos que respeitem os critérios científicos para avaliar", explica o imunologista Gustavo Cabral, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) e colunista do UOL VivaBem.
Escassez de dados da vacina russa gera desconfiança
Um fator que gerou desconfiança após o anúncio foi a escolha da junção com a vacina Sputnik, já que não há dados robustos sobre o imunizante publicados em periódicos científicos
"A comunidade científica não possui dados relevantes sobre essa vacina. A imunização já é bastante polemizada e muitas pessoas ficam em dúvida se devem ser vacinadas. Por isso, precisamos, sim, de provas suficientes para mostrar a população de que é seguro e necessário para a proteção", indica José Roberto Zimmerman, imunologista e diretor da Alergo Ar.
Cabral afirma que, embora torça para que a Sputnik seja segura e eficaz, não é possível ignorar a falta de dados. "Até agora, foram publicados resultados das fases 1 e 2 na revista Lancet, mas pelo material mostrado, deveria ser considerado apenas como fase 1. Foram acompanhadas apenas 74 pessoas, uma amostra pequena, durante um mês e meio. Licenciar uma vacina com isso, no mundo da ciência, não é justificável."
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