Lesão por água-viva é envenenamento: conheça mitos e verdades por trás
Com a chegada do verão e das férias, as praias do litoral brasileiro ficam lotadas e, por isso, aumentam os casos de lesão por água-viva —ou caravelas, aí vai depender da região do país— e as possibilidades de ser ferido enquanto caminha pela areia ou se banha no mar. E, apesar da pandemia de coronavírus, esta temporada não deve ser diferente.
Primeiramente, vale esclarecer que o ferimento causado por água-viva não é uma queimadura, e sim um envenenamento da pele provocado pelas toxinas liberadas pelos tentáculos do animal marinho.
Após a água-viva injetar as toxinas, é comum o local ficar avermelhado ou escurecido, inchado e com edema, com surgimento de placas tipo urticária e pápulas (bolinhas) vermelhas. Além disso, a pessoa ferida sente dor intensa e ardência. Em alguns casos raros, podem surgir bolhas. Tais efeitos são uma reação tóxica e alérgica ao veneno que age na pele.
Já os sintomas mais graves são dificuldade para respirar e engolir, dor no peito, cefaleia, câimbra, náusea e vômito. Ou até arritmia, edema de glote e choque anafilático.
As manifestações clínicas podem ser graves em crianças e idosos, que costumam apresentar maior sensibilidade aos efeitos tóxicos da água-viva e, portanto, ter reação inflamatória intensa. Além disso, a pele das pessoas dessas faixas etárias costuma ser mais fina e, por isso, absorve rapidamente o veneno liberado pelo animal marinho.
"Idosos, pela queda natural de imunidade, por ocasionais problemas como hipertensão arterial, diabetes e outras doenças. Já as crianças têm o mesmo problema de resistência, que é imatura e, principalmente, a pequena área corporal, que as expõe a contatos maciços com inoculação de grandes quantidades de veneno", explica Vidal Haddad, dermatologista da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
Condições de risco
A gravidade da lesão depende de diversos fatores: quantidade de veneno liberada, número de águas-vivas que encostaram na pele, espécie envolvida no ataque, além da idade e hipersensibilidade do sistema imunitário da pessoa ferida. Este último definirá a intensidade da reação alérgica.
"Além da ação do veneno, tenho visto muitos casos de alergia, nunca no primeiro acidente. Pode haver espirros, tosse, pulmões congestos e até choque anafilático. Hoje em dia, estamos considerando o risco de alergia como grande, lembrando picadas de abelha. No Brasil, onde mais de 99% dos envenenamentos são leves e moderados, este risco adicional deve ser considerado", afirma Haddad.
Ele adiciona que outro efeito da lesão por água-viva é a intoxicação dos músculos, que causa uma dor semelhante a câimbras, e que envenenamentos graves (raros no Brasil) podem comprometer o coração e causar a morte.
Em caso de efeitos graves —dor, vermelhidão e inchaço muito intensos, dificuldade de respirar e engolir ou progressão do quadro sem melhora espontânea—, Leonardo Abrúcio, dermatologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, sugere que a pessoa lesionada procure socorro médico.
"Se apresentar febre, é melhor ingerir maior quantidade de líquido. Fora isso, nenhuma modificação importante na alimentação. Se a reação à lesão for muito intensa na pele e com processo inflamatório severo, em caso de ser alérgico a frutos do mar, por exemplo, deve-se evitar o alimento", completa. No entanto, não há comprovação científica, na condução de casos leves, relacionada à necessidade de restrição alimentar.
Já Rosiane Boabaid, dermatologista do HCor, recomenda que a pessoa lesionada procure atendimento médico quando existem áreas extensas acometidas pelos ferimentos e as lesões persistirem por mais de 48 horas, considerando o período de fase alérgica da toxina na pele.
Fui envenenado. O que fazer?
Os cuidados imediatos depois de uma lesão por água-viva são importantes para evitar um maior estímulo do processo inflamatório. A recomendação é lavar a região afetada com água salgada e, sobretudo, gelada, pois a temperatura controla a dor.
Além disso, após os cuidados iniciais, deve-se manter a região ferida por água-viva limpa e longe do sol, pois a radiação estimula uma inflamação mais intensa no local lesionado. A proteção solar também evita o aparecimento de manchas residuais, e deve ser aplicada a cada duas horas.
Já nos dias seguintes ao envenenamento, a indicação é fazer compressas com vinagre, soro fisiológico ou água termal, sempre na temperatura gelada, para aliviar o ardor e os sintomas.
Dependendo da intensidade do processo inflamatório, será prescrito analgésico, corticoide ou antibiótico. Para isso, o tratamento das manifestações na pele decorrentes do acidente por água-viva deve ser orientado por um dermatologista.
Aprenda a cuidar da lesão
Os especialistas ouvidos por VivaBem prepararam uma lista para desvendar os mitos e as verdades relacionadas aos procedimentos que devem ser tomados após uma lesão por água-viva.
O recomendável é apertar a pele com a unha para retirar os tentáculos? Álcool desinfeta a região envenenada? Urina bloqueia o efeito da toxina? Devo esfregar com sabonete para retirar o veneno? Tire as suas dúvidas com as orientações abaixo.
Mitos
Lavar com água doce: piora o envenenamento por estimular a liberação das toxinas dos tentáculos da água-viva
Urinar no local lesionado: tem ação irritante e agrava os sintomas de irritação e inchaço na pele
Limpar com sabonete: promove a saída do veneno que pode estar retido nas células dos tentáculos
Usar limão: aumenta a irritação local e provoca mais inchaço e vermelhidão
Desinfetar com álcool: é um agente irritante que piora a dor
Higienizar com água quente ou morna: amplia a vermelhidão e o inchaço
Esfregar para tirar o veneno: irrita ainda mais o local lesionado por aumentar a vasodilatação
Apertar a pele com a unha para retirar os tentáculos da pele: impulsiona a liberação das toxinas
Tomar sol à vontade após a lesão: prejudicial porque o local está inflamado e dolorido
Verdades
Lavar com água do mar gelada: tem efeito anestésico
Limpar com soro fisiológico gelado: ajuda a aliviar a dor
Remover os tentáculos com pinça: delicadamente, sem apertar a pele
Banhar com vinagre: o ácido acético neutraliza a ação das toxinas e tem efeito calmante
Fazer compressa com água gelada: depois de remover o veneno, para atenuar o efeito dolorido
Passar protetor solar na região lesionada: após limpeza, a fim de evitar que a radiação intensifique o processo inflamatório
Evitar o uso de perfumes: pode irritar ainda mais a pele
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