Quando morar sozinho deve ser motivo de preocupação para o idoso?
A resposta independe de idade, mas tem a ver com autonomia. Quando o idoso não se sente seguro para realizar sozinho tarefas que sempre desempenhou, como cozinhar, cuidar da casa, tomar banho, se automedicar, é sinal de que viver por conta própria não é mais para ele.
Da mesma forma, se os eventuais deslizes que cometia agora estão cada vez mais frequentes e perigosos, ou se as pessoas ao redor já notam que ele não é capaz de tomar decisões conscientes.
Mas deixar de morar sozinho não significa necessariamente ter que abandonar o próprio lar para viver com um familiar, um vizinho ou mesmo em uma casa de repouso. O idoso, ou alguém próximo dele, pode contratar um cuidador, um empregado ou um enfermeiro.
Sua supervisão, porém, deve ser frequente, pois diferente da redução motora, que é fácil de ser percebida, a da cognição é mais silenciosa. Por isso, mesmo idosos lúcidos, independentes e que fazem acompanhamento médico com frequência não devem ser "esquecidos".
Cada um tem sua maneira própria de envelhecer, mas esse processo deve ser acompanhado de perto, porque é cheio de mudanças. Além disso, todo ser humano precisa de atenção, nascemos com a condição de depender dos outros para sobreviver. Vanessa Karam, psicóloga da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
E se o idoso não tiver ninguém?
O geriatra pode ser um grande aliado. "Por ter conhecimento amplo sobre a vida do paciente, sua saúde e episódios que possam lhe ter causado algum tipo de limitação, ele serve de suporte e pode oferecer ajuda para contatar uma rede de apoio", esclarece João Paulo Nogueira Ribeiro, geriatra pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e fundador do Instituto Horas da Vida.
Os médicos conseguem mais facilmente contato com assistentes sociais e, com o apoio do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), garantir proteção social a idosos em situação vulnerável.
Mas nada impede de vizinhos e amigos acionarem esses centros, ONGs ou mesmo a Defensoria Pública. Se o idoso tiver família, seu abandono caracteriza uma violação penal e civil, considerada crime. O dever de ampará-lo está garantido constitucionalmente.
Sinais para se prestar atenção
Se o idoso não expressar ou não perceber que está inapto para viver sem companhia (o que é muito comum) é preciso que os de fora se atentem e o sondem sobre acidentes, doenças e situações incomuns. Não são bons indícios, por exemplo, quedas e esquecimentos constantes, como deixar o fogão aceso por engano, portas destrancadas e comida estragando na geladeira.
Gripes passageiras se mudaram de intensidade e agora levam a uma recuperação mais lenta e difícil também são pistas importantes de que o idoso não deve ficar sozinho.
Mudanças de aparência para pior também dizem muito, ainda mais se antes o idoso se comportava ou se apresentava em público bem cuidado. Desconfie de odores desagradáveis, introversão, apatia, perda ou ganho de peso radical, descontrole emocional, roupas sujas e cabelos despenteados.
Pela casa, objetos queimados e quebrados e muita poeira acumulada apontam falta de cuidados e de atenção, o que pode ter a ver com declínio das funções motoras, demências e até mesmo depressão. Contas vencidas, dívidas altas e desorientação com as próprias finanças podem estar relacionadas com dificuldades que o idoso não está sabendo expressar e lidar.
É preciso consultar um médico
Somente com atestado médico é possível tomar uma decisão correta e segura sobre a situação do idoso. Mas saiba de antemão: a intervenção no seu estilo de vida pode não ser tão simples.
É preciso fazer uma diferenciação entre dois conceitos: autonomia, ou seja, o idoso ser capaz de tomar decisões e fazer escolhas por si só, e independência, que tem a ver com sua funcionalidade. Ele pode ter autonomia, mas não independência, e se for autônomo é quem decide se quer, ou não, morar sozinho. Não se pode forçar, mas é possível convencê-lo. Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
É preciso garantir que a mudança seja gradual para evitar estresse, sofrimento extra ou uma piora do estado de saúde do idoso. Se ele for casado, é preciso preservar ainda o cônjuge, que também pode inspirar cuidados ou se sentir sobrecarregado ao tentar corrigir possíveis falhas e se descuidar com sua própria saúde.
Para viver melhor em casa
Após os 60 anos, também não é bom viver, com ou sem companhia, em um local que não ofereça segurança, conforto e autonomia. Fazer adaptações e repensar o tamanho e o tipo do imóvel é indicado, ainda mais se ele possuir escadas, declives e dificultar o acesso e a ajuda.
Para facilitar a visão, os movimentos e a locomoção do idoso, seu lar deve oferecer o máximo possível de luz natural, ter cores claras em paredes, pisos e revestimentos e interruptores em áreas de circulação e perto de locais de se sentar e deitar. Sensores de presença evitam ainda que idosos de idade avançada se acidentem à noite, durante a ida ao banheiro ou à cozinha.
Para eles, é ideal ainda que o chão seja antiderrapante, os móveis bem espaçados entre si e que os tapetes fiquem fixados sob algo ou ao chão com fitas dupla-face.
Prateleiras e armários devem seguir a altura dos olhos, TVs presas nas paredes e eletros os mais práticos possíveis. Os banheiros requerem barras de apoio próximas ao vaso e dentro do boxe e, se possível, ainda campainhas de emergência, recomendadas também ao lado da cama.
Outras fontes consultadas: Cartilha de Acessibilidade Ambiental, de Maria Luísa G. Emmel, terapeuta e uma das criadoras do Departamento de Terapia Ocupacional da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e Luiza Oliva Paganelli, terapeuta ocupacional do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
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