Difícil ficar sozinho? Gostar da própria companhia pode ser libertador
Resumo da notícia
- Ficar sozinho pode ser difícil por várias razões, como falta de hábito, medo de encarar a si mesmo, carência, dependência emocional
- Embora possa parecer aterrorizante, saber aproveitar esse tempo que está sozinho permite que nos conheçamos e cuidemos melhor de nós mesmos
- Saber identificar o estar sozinho do estar solitário é importante, assim como perder o medo de ficar só. Conversas e terapia podem servir de ajuda
Ficar sozinho implica em estar com a própria companhia, o que nem sempre pode ser agradável. Com a pandemia, muita gente foi forçada a ficar sozinha, devido ao isolamento social. Essa condição trouxe também a privação do mundo, diminuindo os estímulos externos, ou seja, dos elementos que nos completavam alguns espaços vazios, como ir ao cinema, viajar, ir à missa, fazer sexo ou até mesmo ir a um bar ou um café.
"Passamos a contar mais com a gente mesmo e, com isso, estamos com mais dificuldades de encontrar esses objetos externos, porque eles estão distantes da gente", diz Dora Tognolli, psicóloga, psicanalista e diretora do instituto da SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo). É muito comum a pessoa se deparar com ela mesma e ficar perdida, pois ela desconhece a si própria.
Existe um mundo dentro de cada pessoa, mas é um universo tão desconhecido que muitas vezes ela desiste e prefere continuar na busca de objetos externos. O psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), Yuri Busin, afirma que, além deste medo de entrar em contato consigo, a pessoa pode ter dificuldade de buscar o bem-estar sozinha, sofrer uma pressão social para a socialização, cultura, ou ainda carência ou dependência emocional.
Felicidade não está no outros
Não é difícil encontrar pessoas que se sentem mais tristes por estarem sozinhas. Busin esclarece que socializar é um comportamento extremamente relevante e benéfico para todos e que traz bons sentimentos, porém, se a pessoa depender disso para encontrar a felicidade, ela possivelmente encontrará dificuldades.
"Sustentar relacionamentos fracassados, por vezes violentos ou tóxicos, por medo da solidão ou de encarar um fracasso amoroso é o preço social da crença de que a felicidade está atrelada ao outro", analisa Tiago Ravanello, psicólogo, psicanalista e professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).
Segundo o professor, o próprio sentimento de ser você mesmo, de pertencer a um tempo e a uma história depende de reconhecimento, por isso temos tantos ritos ao longo da vida: batizado, formaturas, casamento. Para ele, nesse sentido, pior do que a solidão é o silêncio, ou seja, a incapacidade de fala ou de escrita de nossas marcas em contextos compartilhados. "Uma vida digna de ser vivida é também uma vida que almeja ser lembrada, por isso tantos grupos sociais lutam por direitos de fala e de reconhecimento, pelo poder de contar suas próprias narrativas, para que elas ecoem e promovam laços", diz.
É nesse sentido que muitas pessoas veem períodos prolongados de solidão ou experiências forçadas de silêncio como um sentimento muito severo de perda da subjetividade e de angústia existencial, como se o apagamento de suas marcas no mundo ou a ausência de alguém que conte e confirme sua história tornasse irrelevante a sua própria existência.
Estar sozinho é diferente de estar só
Estar sozinho significa não ter a presença de outras pessoas com você, mas isso não significa se sentir solitário. Muitas pessoas se sentem solitárias mesmo quando estão acompanhadas.
"Isso está relacionado com a forma como você lida com as situações e como percebe o outro em sua vida", diz Busin. O psicólogo afirma que o estar sozinho nem sempre é algo negativo, enquanto o se sentir solitário é algo problemático.
É importante, então, conhecer a si mesmo. "Se você consegue atravessar esse vazio que essa solidão às vezes dá, você negocia e conversa (consigo mesmo). Pode ser que você fique triste naquele momento, mas sai mais fortalecido", diz Tognolli. Segundo ele, é como ter acesso a uma dor que o humaniza, e é isso que as pessoas não querem, elas fogem da dor, mas a experiência da dor também é importante.
Estar sozinho pode ser libertador. "Um período de solidão, como este, possibilita que a pessoa questione a sua forma de relação com outro, repense o peso que é dado a opiniões ou falas alheias, reveja o investimento que é feito na autoimagem e no quanto sustentamos as fantasias e discursos dos outros em troca de aceitação", diz Ravanello.
Busin diz que esses momentos são essenciais: "Precisamos ter em mente que somente quando estamos sozinhos é possível refletir sobre temas importantes e adquirirmos mais a maturidade emocional, passando por processos de autodesenvolvimento".
Ele sugere que ao invés de evitar estar só, o indivíduo aproveite esse momento para se desenvolver, aumentar a autoestima e se conhecer cada vez mais. "Assim será mais fácil aproveitar a companhia do outro sem que haja qualquer dependência". Os especialistas lembram que a psicoterapia é sempre uma aliada na busca de conhecer a si mesmo e a enfrentar questões que, sozinho, parecem impossíveis.
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