Medicamento para hipertensão diminui risco de morte em casos de covid-19
Uma pesquisa recém-publicada na revista Hypertension, da American Heart Association (AHA), associou o tratamento da hipertensão arterial com medicamentos da classe dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs), uma classe comumente utilizada no Brasil, a uma diminuição da hiperinflamação relacionada à infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), assim como uma melhor resposta antiviral das células.
O trabalho analisou, por 16 semanas, quase 2 milhões de hipertensos, entre 18 e 80 anos, nos bancos de dados do Seguro Nacional da França (Système National des Données de Santé). A comparação foi feita com três classes de medicamentos: inibidores de enzimas de conversão da angiotensina (IECA), como perindopril (34%) e ramipril (32%); bloqueadores do receptor da angiotensina (BRA); e bloqueadores dos canais de cálcio (CCB).
Os cientistas observaram uma melhor resposta à infecção da covid-19 nos pacientes que se submetiam ao tratamento com IECA. Na análise principal, estes e os medicamentos BRA foram associados a uma diminuição de 26% no risco de hospitalização, comparados aos bloqueadores CCB. Os dois também foram relacionados a uma diminuição de 33% do risco de intubação ou morte. Comparando pacientes que usavam IECA E BRA, os medicados com IECA tinham um risco 13% menor de hospitalização e 17% mais baixo de intubação ou morte.
Esse estudo confirma os resultados já observados em outra pesquisa, na qual um grupo de cientistas alemães publicou um artigo no periódoco Nature Biotechnology, mostrando que os IECAs conferiam maior proteção do que outras medicações anti-hipertensivas em pacientes hipertensos com covid-19. Esse estudo aponta para benefícios específicos dos IECAs, tais como preservação do endotélio (camada interna dos casos sanguíneos), redução da inflamação das artérias e aumento da resposta antiviral, ao contrário dos BRAs, que retardam a eliminação do vírus.
Embora necessite de mais dados para aprofundar a questão, a pesquisa reforça indícios já vistos em outros estudos recentes. "A principal mensagem que vem se consolidando é que o sistema que regula a manutenção da pressão arterial e o balanço hídrico e de sódio no organismo tem um papel importante na modulação dos processos inflamatórios sistêmicos", afirma o cardiologista Emilton Lima Jr., médico responsável pelo ambulatório de Hipertensão Resistente e Cardiometabolismo do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
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