AVC, acidentes ou Alzheimer podem causar afasia, a incapacidade de falar
Resumo da notícia
- Afasia é uma alteração de compreensão e expressão da linguagem oral
- Ela é causada, principalmente, por graves lesões cerebrais
- A gravidade da lesão e o início precoce do tratamento é o que vai definir o nível de recuperação
- Segundo os especialistas, a maioria dos pacientes chegam a atingir 90% de cura
Falar e compreender o que o outro diz são coisas simples para a maioria das pessoas, entretanto, para os afásicos, formular uma frase curta pode significar uma verdadeira vitória.
A afasia não é uma doença, mas um sintoma que faz com que a pessoa perca a capacidade de compreender ou de pronunciar palavras, sejam elas faladas ou escritas. Trata-se de um comprometimento da função da linguagem. E, quase sempre, ela é causada por lesões cerebrais como o AVC (acidente vascular cerebral isquêmico), traumatismos cranioencefálicos e doenças degenerativas, como Alzheimer.
A afasia também pode ser causada por doenças hereditárias que afetam o cérebro, como as leucodistrofias ou doenças do metabolismo cerebral. Em raras situações, ela pode ser congênita, decorrente de um distúrbio no desenvolvimento da linguagem em crianças, por exemplo.
Na prática: uma pessoa que se comunica normalmente, após uma lesão cerebral, de um dia para o outro, começa a ter muita dificuldade de falar e compreender o que os outros dizem.
Após AVC, ela só se comunicava em inglês e francês
A escritora paulistana Ana Maria dos Santos Costa, 53, sabe bem o que é isso. Há cinco anos ela teve um AVC e uma das sequelas foi a afasia. "Voltei com dificuldade de falar e me comunicar em português. Como tinha o conhecimento de inglês e francês, me comunicava mais facilmente nessas duas línguas", recorda Costa, que é autora de dois livros e coautora de mais três.
Devido ao quadro, ela precisou reaprender a falar e o apoio de sua família foi fundamental para o seu progresso. "Tive professor de português para retomar o meu idioma e fiz terapias de fono por quase três anos, porque meu problema de comunicação era muito forte. Mas agora parei e atualmente faço uma terapia cognitiva. Hoje converso praticamente normal, apesar de ter um pouco de sotaque", diz.
Acidente de carro e o reaprendizado
Com o passar do tempo e a ajuda de especialistas, os afásicos tendem a melhorar a comunicação. O mineiro Ítalo da Silva Leão, 21, está nesse processo de reaprendizagem. Há um ano e meio ele sofreu um grave acidente de carro e foi arremessado para fora. Ele teve traumatismo craniano e ficou em coma induzido durante 19 dias na UTI.
"Assim que acordou, a gente viu que ele não conseguia se comunicar e tinha dificuldade para falar. Agora está indo para a escola três vezes na semana para aprender tudo de novo, porque esqueceu as letras, as palavras. Ele está como se fosse criança mesmo", conta a mãe, Maria do Carmo Silva Leão, 60.
Apesar das dificuldades, a mãe se diz orgulhosa das pequenas conquistas do filho. "Ele está em tratamento com o neurologista, mas parou com a fonoaudióloga. Algumas coisas ele fala, outras têm mais dificuldade e não entende o que a gente está falando, daí fica nervoso. Mas já melhorou bastante, graças a Deus", comemora.
Subtipos de afasia
Existem várias classificações de afasia. Veja as principais:
- Afasia motora ou expressiva (ou afasia de Broca): dificuldade para falar, repetir e se expressar, com perda importante da fluência verbal, mas compreende o que os outros falam;
- Afasia sensitiva ou receptiva (ou afasia de Wernicke): dificuldade para entender, repetir palavras e frases. Nesse caso, a pessoa consegue falar, mas não consegue entender o que os outros falam;
- Afasia de condução: consegue falar e compreender, mas tem dificuldade de repetir sentenças ou palavras;
- Afasia transcortical motora: tem dificuldade de falar, mas consegue repetir.
Afasia tem tratamento
De acordo com os especialistas ouvidos por VivaBem, a afasia pode ser tratada, porém o resultado vai depender da gravidade da lesão, normalmente cerebral, e do processo de reabilitação.
Quanto mais cedo começar o tratamento com neurologistas, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, entre outros, maiores são as chances de cura, que chegam a atingir mais de 90%, ou seja, o paciente reaprende a falar e a compreender o que os outros falam quase perfeitamente, podendo recuperar a qualidade de vida.
Por fim, é importante distinguir a afasia de distúrbios da linguagem como a disartria, dificuldade mecânica de pronunciar as palavras, geralmente por problema nos nervos ou músculos envolvidos na fala; aprosódia, incapacidade de dar ou compreender a entonação emocional da fala; alexia, incapacidade de ler; e agrafia, incapacidade de escrever.
Alguns especialistas usam o termo disfasia para se referir a um distúrbio leve da linguagem, reservando o termo afasia para os casos mais graves.
Fontes: Octávio Pontes Neto, professor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e chefe do Serviço de Neurologia Vascular e Emergências Neurológicas do Hospital das Clínicas da FMRP; Gesika Amorim, pediatra, neuropsiquiatra e professora da Universidade Redentor (SP); Cristiane Romano, fonoaudióloga, mestre e doutora em ciências e expressividade pela USP (Universidade de São Paulo); e Erica de Araújo Brandão Couto, professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
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