Body checking: verificar o corpo com frequência pode ser um distúrbio
Resumo da notícia
- O body checking é o ato de checar o corpo e verificar o peso e as medidas com frequência
- É mais frequente em pessoas que estão muito preocupadas com aparência e têm baixa autoestima
- Quem tem algum tipo de transtorno alimentar, como anorexia, costuma ser mais propenso a praticar o body checking
- As redes sociais podem piorar a ansiedade e as expectativas sobre a aparência
- É importante buscar ajuda especializada e mudar alguns hábitos para diminuir essa atitude
Quantas vezes você já observou o seu corpo no espelho hoje? Esse hábito, quando realizado de forma compulsiva, pode ser um distúrbio conhecido como body checking (verificação corporal, em tradução livre). Isso porque ficar checando o tempo todo como está a aparência é um sinal de insatisfação corporal.
Natália Araújo, psicóloga do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), esclarece que um comportamento é considerado compulsivo quando a pessoa repete de forma excessiva uma ação ou pensamento, com o objetivo de evitar uma preocupação. "Olhar-se no espelho é um comportamento comum, mas vira um problema quando estiverem presentes pensamentos distorcidos de uma pessoa sobre ela mesma", diz.
Dessa forma, o body checking é considerado prejudicial quando causa sofrimento ou atrapalha a rotina. Em alguns casos, as pessoas até mesmo tiram fotos para comparar a "evolução" do emagrecimento ou as mudanças indesejadas. Apesar de ser comum em todos os gêneros, o body checking costuma ser mais frequente em mulheres, devido às cobranças realizadas para que seus corpos sigam um padrão imposto pela sociedade.
A checagem corporal excessiva pode vir acompanhada de dietas restritivas, uso de medicamentos para emagrecer ou ganhar massa muscular e medidas desproporcionais para alcançar a aparência dos sonhos. "Além de causar bastante sofrimento, faz mal para a autoestima, acarreta angústia e problemas de ansiedade", diz Christiane Ribeiro, psiquiatra membro da Comissão de Estudos e Pesquisa da Saúde Mental da Mulher da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e do Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Sintomas de body checking
Não há problema algum em checar como está a aparência. O problema é quando o indivíduo deixa de fazer algo por isso. "Ele acorda, se olha no espelho e não gosta do que vê. Já acha que precisa mudar isso ou aquilo, fazer uma cirurgia ou buscar tratamentos estéticos com frequência. A pessoa acredita constantemente que seu corpo tem problemas", afirma Graziela Sapienza, psicóloga e professora do curso de Psicologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
A seguir, veja alguns sintomas comuns de quem pratica o body checking:
- Verificar o tamanho da barriga, das pernas e de outras partes do corpo em frente ao espelho
- Apertar a "gordura" da barriga
- Controlar o peso várias vezes ao dia
- Olhar-se no espelho com roupas diferentes, principalmente as mais justas
- Comparar seu corpo ao de amigos e celebridades
- Tirar fotos em frente ao espelho para comparar a evolução do emagrecimento
- O comportamento toma muito tempo da pessoa
- Causa isolamento social e pensamentos obsessivos com alimentação e aparência
- A pessoa sente medo e ansiedade em relação ao seu corpo
- Frequentemente faz comentários negativos sobre o peso e a aparência.
O que causa o body checking?
Verificar o corpo a todo instante geralmente é um comportamento de pessoas que estão muito preocupadas com aparência e têm baixa autoestima. Mas é ainda mais comum em quem já possui algum tipo de transtorno alimentar como anorexia ou bulimia. "Nesses casos, a pessoa com anorexia fica checando o tempo todo o tronco, as costelas, os braços e o rosto. Ela tem uma visão distorcida do próprio corpo. E mesmo que esteja muito magra, elas se vê gorda", diz Fátima Vasconcellos, psiquiatra e diretora da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
A especialista destaca que os transtornos de imagens também causam o body checking. "Os homens podem ter vigorexia, ou seja, desejo constante de estar musculoso. Por isso, checam o corpo a todo instante e fazem exercícios em excesso. E também há a dismorfofobia, um transtorno em que a pessoa se vê deformada ao se olhar no espelho e evita sair de casa para não ser vista".
Uma pesquisa realizada em 2018 apontou que o body checking interfere no humor e causa insatisfação com a própria imagem. A angústia por não ter a aparência perfeita pode levar a episódios de compulsão alimentar, por exemplo, em que a comida é usada como um alívio espontâneo, ou comportamentos bulímicos com indução de vômitos.
A verificação corporal excessiva também está associada a algumas condições de saúde relacionadas à ansiedade. Segundo Ribeiro, rituais e padrões de comportamento repetitivos associados a pensamentos obsessivos podem ser um sinal de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Os sintomas do TOC incluem os rituais ou compulsões, repetições, evitações, com preocupações excessivas, obsessões, medo e culpa. "A checagem corporal excessiva também é um gatilho para o aparecimento de transtornos de ansiedade, entre eles, o pânico. Dessa forma, a pessoa apresenta sintomas físicos como palpitações, aperto no peito, falta de ar e insônia", afirma.
Como evitar esse comportamento
O primeiro passo para diminuir o body checking é perceber que há algo errado com esse comportamento. É importante notar o quanto essa checagem no espelho está atrapalhando o dia a dia e aumentando a angústia. Se a pessoa não conseguir mais parar com essa atitude, o ideal é procurar ajuda especializada, como uma terapia comportamental. Dessa forma, o indivíduo conseguirá adequar sua percepção acerca do seu corpo, modificar comportamentos e elevar a autoestima.
Outra forma de lidar com o body checking é limitar ou abandonar as redes sociais, mesmo que seja por um tempo. Também vale deixar de seguir perfis que induzem a esse comportamento, ou seja, realizar uma "limpeza digital". Essa decisão pode ser bastante difícil, mas contribui para que a pessoa avalie como se sente neste período e como estar conectada afeta a sua autoestima e a relação com a sua imagem.
"É importante buscar um tratamento porque o body checking pode gerar uma insatisfação generalizada com a própria aparência. Uma pessoa que acredita ter uma autoimagem inadequada tende a supor que não é 'boa o suficiente'. E isso afeta outras áreas da sua vida, como relacionamentos, trabalho, amigos e interações sociais", diz Araújo.
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