Limpeza é importante, mas máscaras e distância são o que garantem proteção
Mãos ressecadas pelo uso de álcool em gel e muita lavagem e máscaras já desbotadas são a realidade de muitos brasileiros um ano após o início da pandemia da covid-19 por aqui.
Mas embora todas as medidas de segurança sejam importantes —desde a higiene ao uso da proteção facial e o distanciamento— diversos estudos indicam que a maior taxa de transmissão do coronavírus ocorre pelo ar e, por isso, usar máscara e evitar aglomerações é o que evita o aumento de casos da doença.
Como a transmissão geralmente acontece
Imagine que você entre em um lugar fechado, como um restaurante, e para beber, comer ou conversar, tire a máscara. "Se a pessoa estiver a menos de um ou dois metros e tossir ou até falar mais alto, ela vai emitir gotículas que podem viajar por uma distância até maior que um metro, e se estiver infectada com o Sars-CoV-2, pode facilmente passar para a sua companhia", exemplifica Álvaro Costa, infectologista do HC-SP (Hospital das Clínicas de São Paulo).
Conforme mostra o vídeo explicativo produzido pela Aalto University, em Espoo, na Finlândia, as gotículas maiores que saem da boca ou do nariz quando falamos, tossimos ou espirramos acabam caindo (podendo, então, deixar as superfícies contaminadas). Já as menores têm a capacidade de ficar no ar por minutos ou até horas.
Apesar disso, alguns órgãos de saúde pública internacionais ainda enfatizam que as superfícies representam uma ameaça e devem ser desinfetadas com frequência —ser infectado pelo vírus em superfícies parece ser raro, todavia possível. O resultado é uma mensagem pública confusa quando uma orientação clara é necessária sobre como priorizar os esforços para evitar a propagação do vírus: máscara e distanciamento são os principais.
Ventilação também importa
Se decidir se encontrar com uma pessoa ou um grupo, o ideal é que escolha um ambiente com muita ventilação, de preferência ao ar livre.
Em uma área com paredes, é necessário que o local restrinja a entrada de pessoas e que o ar-condicionado esteja com a revisão do filtro em dia (embora não seja necessário nenhum tipo específico de filtro), ou que haja várias janelas abertas.
"A circulação do ar ajuda, mas não é definitiva para a proteção. Com muitas pessoas em uma área limitada, por exemplo, ela já deixa de ser eficiente", indica Costa.
É hora de reforçar a máscara no Brasil?
Com a chegada de novas variantes no país e o número de casos ainda em alta, será que chegou a hora de usar máscaras profissionais, como a PFF2 (ou N95), no Brasil? Essa resposta não é tão simples, conforme explica Letícia Kawano Dourado, pneumologista e membro na elaboração de diretrizes em covid-19 da OMS (Organização Mundial da Saúde).
"A preocupação atual é com as novas variantes. Mas nós não temos informação adequada de vigilância genômica no Brasil, então não sabemos qual a proporção de PCRs positivos para covid que são das variantes de Manaus, da sul-africana e da britânica", diz a médica.
Dourado conta que, em tese (pois ainda faltam mais dados), as variantes podem escapar da vacina, causando uma evasão imune. Então, caso confirmado, a recomendação de utilizar máscaras profissionais em ambientes fechados e aglomerados seria válida, sim, para o país.
"Outra situação é que em um ambiente onde a covid-19 está descontrolada, se a pessoa vai entrar em uma aglomeração e há pouca ventilação, como o transporte público, faz todo sentido usar uma máscara mais potente", explica.
Essa máscara mais potente seria a N95, também conhecida por PFF2 no Brasil, que é uma das melhores opções, mas deve ser utilizada com parcimônia para que não falte para os profissionais da saúde. Por isso, o mais indicado é utilizá-las em locais muito aglomerados ou de alto risco, como hospitais.
Esse tipo de máscara pode ser encontrado em lojas de materiais de construção, de produtos médicos ou de EPIs (Equipamento de Proteção Individual). Ela pode ser ainda reutilizada por conta deste momento de pandemia, mas não deve ser lavada com água e sabão e nem ser higienizada com álcool —o ideal é deixá-la em repouso por uns três dias. Vale ficar de olho se aparece algum desgaste no material, como furos, porque aí é hora de trocar.
Já em locais mais arejados, tudo bem usar uma máscara de tecido que esteja, de novo, bem vedada no rosto. Por exemplo: você utiliza a PFF2 no ônibus e ao descer para caminhar até sua casa, você troca por uma de pano já que estará ao ar livre.
"Na verdade, se a pessoa quiser utilizar [a PFF2 sempre], tudo bem, mas não tem tanta necessidade. Eu a deixaria para locais de maior risco para economizar e também não faltar para quem precisa", afirma Vitor Mori, pesquisador da Universidade de Vermont, nos EUA, e membro do Observatório Covid-19.
Usar duas máscaras faz sentido?
Sim, o ideal seria usar a máscara cirúrgica por baixo (que tem melhor filtragem, mas é ruim para ajustá-la ao rosto) com uma de tecido que apresenta, normalmente, melhores ajustes ao rosto.
Inclusive, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), órgão regulador do sistema de saúde dos Estados Unidos, realizou um estudo que mostra que a técnica pode reduzir o risco de transmissão da covid-19 em 95%. A combinação cria um ajuste mais apertado ao redor do rosto e ajuda a evitar que partículas potencialmente infecciosas escapem.
Outra forma de reforçar uma máscara mais simples é utilizar esparadrapos ou outros objetos que facilitem a vedação total dela, principalmente no nariz e nas laterais. Para saber se ela está bem encaixada no rosto, sem frestas laterais, faça uma concha com as mãos em cima da máscara, respire e solte o ar. Se "vazar" ar por alguma parte, é preciso ajustá-la.
O mais importante, ao usar qualquer máscara, sempre será a vedação e a filtragem, conforme explica Mori. "Se a pessoa está usando duas máscaras de péssima qualidade, que não ajustam bem ao rosto, com vazamentos, não faz diferença", diz.
Lembrando que é essencial o uso de máscaras durante a pandemia, para proteger você e os que estão ao seu redor, reduzindo a transmissão de covid-19. "A máscara é fundamental e, em um momento em que o Brasil está com covid acelerada e transmissão acontecendo na maioria das cidades do país, não consigo imaginar sair de casa sem máscara", finaliza a pneumologista.
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