Ao contrário do que dizem, videogame não faz mal; problema é excesso
Resumo da notícia
- Estudos recentes apontam benefícios para a saúde relacionadas ao uso do videogame sem excesso
- Dependendo do jogo, ele pode atuar como estimulantes e despertar criatividade, ajudar na memória, foco, agilidade de raciocínio
- Mas é importante ficar atento ao estilo e a faixa etária do jogo, para que ele não influencie negativamente os jogadores
- Em excesso, os jogos podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos psicológicos, obesidade e outras doenças ligadas ao sedentarismo
Uma realidade virtual: correr, lutar, traçar estratégias, vencer desafios, dançar. Essas são apenas algumas das inúmeras possibilidades que o videogame proporciona aos jogadores. Embora seja apenas uma diversão para a maioria das pessoas, quando há moderação, os jogos atuam como estimulantes e trazem benefícios para a saúde.
Isso é o que mostra um estudo publicado em 2018 no periódico Frontiers in Psychology e conduzido por pesquisadores da University of Milan Bicocca, na Itália. Os resultados revelaram que jovens saudáveis que jogam videogame com certa frequência podem melhorar as habilidades cognitivas, aumentar a capacidade e velocidade de processamento, tempo de reação, agilidade, entre outros. Os autores também destacaram que até as emoções têm impacto positivo no mundo virtual.
Outra pesquisa, publicada em 2019 no periódico Brain Sciences e desenvolvida por pesquisadores do Instituto Internacional de Ciências da Vida, na Indonésia, e da Tohoku University, no Japão, apontou benefícios para regiões específicas do cérebro. Um mínimo de 16 horas de treinamento mostrou efeitos na estrutura do hipocampo, córtex pré-frontal dorsolateral e cerebelo —o aumento de massa cinzenta nessas áreas está associada a um melhor desempenho na memória de trabalho.
De acordo com os especialistas ouvidos por VivaBem, jogar videogame exige, sobretudo, habilidades motoras e de atenção estratégica, que são importantes até para o desenvolvimento cognitivo das crianças. "Existem benefícios, mas tudo que é bom em excesso, às vezes, fica ruim", alerta o neurologista Fábio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Quais são as vantagens em jogar
Existem muitos jogos educativos voltados para crianças, mas adolescentes e adultos não ficam atrás. Tem para todos os gostos, inclusive para idosos que, além de divertir, também podem ser usados para auxiliar em diversos tipos de tratamento, como a chamada gameterapia.
Vale lembrar que eles não suprem outras atividades e estímulos, mas se usados com moderação, podem trazer inúmeros benefícios. Veja os principais:
- Psicomotricidade (habilidade de interagir com o movimento e o ambiente);
- Melhora na atenção;
- Estratégia;
- Raciocínio lógico;
- Força;
- Agilidade;
- Persistência;
- Superação;
- Foco;
- Reflexo;
- Memória;
- Convívio familiar, quando o jogo for em família;
- Alívio do estresse.
Há ainda relatos de pessoas que aprenderam outros idiomas apenas jogando videogame. "É por isso que vale a pena sempre buscar jogos que tenham algum objetivo pedagógico", diz a neuropsicóloga Déborah Moss.
Mas é importante ficar de olho, especialmente nas crianças. "Sempre há necessidade de verificar idade versus estilo de jogo, pois é possível que o jogo influencie no dia a dia da criança ou adolescente. Por exemplo, um jogo de agressividade pode despertar raiva, estresse e irritabilidade", pontua a psicóloga Gabriela Luxo.
Em 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou um guia inédito com orientações para crianças menores de cinco anos. O documento destacou que crianças menores de dois anos não devem ter nenhum contato com telas e, entre dois e cinco, podem assistir no máximo a uma hora por dia. A ideia é priorizar o contato social, a interação.
Adolescentes e adultos também devem tomar cuidado. O excesso pode ser percebido quando o simples fato de jogar prejudica as relações interpessoais, ou seja, a pessoa deixa de interagir com família e amigos, não faz outras atividades, o olho começa a ficar seco de tanto olhar para a tela, não consegue dormir bem.
"Passar o dia jogando pode trazer prejuízos cognitivos e emocionais, como, por exemplo, falta de contato pessoal, exclusão, pouca empatia, dificuldades na comunicação e até obesidade", adverte Luxo.
Porto explica que, assim como os viciados em atividade física, por exemplo, também existem os dependentes do videogame. "Não é normal jogar mais que cinco horas todos os dias. Não se deve jogar mais do que três horas por dia nunca. No final de semana, tudo bem fazer uma maratona, mas tem que ter discernimento, porque não tem na literatura esse ponto de corte claramente definido", diz.
Os especialistas ressaltam que, assim como não é o ideal proibir todos os tipos de doces para as crianças, também não se deve proibi-las de jogar videogame —o importante é impor limites e encontrar um equilíbrio. E essa orientação também se aplica a adolescentes e adultos.
Fontes: Fábio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas de São Paulo; Natan Cheter, geriatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Gabriela Luxo, psicóloga, psicopedagoga, doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Déborah Moss, neuropsicóloga, mestre em psicologia do desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo) e especialista em comportamento infantil.
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