Engolir catarro faz mal para a saúde? O próprio, não, já o dos outros, sim

O muco, cuja principal função é hidratar e proteger as vias aéreas de microrganismos e impurezas que entram pelas narinas, é constituído basicamente por água, sais, proteínas e compostos químicos orgânicos. Quando ocorre uma inflamação nas mucosas, essa secreção então torna-se mais espessa, facilitando o crescimento bacteriano e viral, formando, assim, o conhecido catarro, que ao escorrer pela garganta pode ser escarrado ou engolido.

"Se for o nosso que é engolido não faz mal para a saúde. Muitas vezes fazemos isso sem perceber e, na maioria das vezes, o catarro e o que tem nele é destruído no estômago, ou no intestino. Porém, é importante sempre tentar expeli-lo com o objetivo de ficar menos tempo no nosso organismo", explica Fernanda Wiltgen Machado, otorrinolaringologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

No estômago, a secreção nasal será digerida como se fosse um alimento qualquer e o que for aproveitado pelo organismo será absorvido e o excedente eliminado pelas fezes. Se o catarro estiver em grandes proporções, eventualmente pode ocorrer um retardo da digestão, e se ele for resultado de uma inflamação ou infecção, por exemplo, geralmente o risco é a extensão desses sintomas para o nariz, a garganta e o pulmão, não para o esôfago, ou o estômago.

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O perigo ronda o catarro alheio

Embora seja muito pouco provável, quase irrisório, a sobrevivência de vírus e bactérias presentes no nosso catarro à digestão por ácidos e enzimas, caso isso aconteça, sim, eles podem causar infecções, mas não mais perigosas e comuns que as ocasionadas quando se engole o catarro de outra pessoa, que tem uma flora bacteriana diferente.

"O contato íntimo com a secreção de outra pessoa, seja entre pais e filhos pequenos, ou mesmo parceiros, é uma situação muito comum, seja por meio de espirros, tosse, ou mesmo beijos. Por isso, existe, sim, o risco de transmissão de doenças, incluindo até mesmo sífilis e herpes simples", esclarece Fausto Nakandakari, médico otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês (SP).

Por esse motivo também, complementa Cicero Matsuyama, otorrino do Hospital Cema (SP), é que os médicos tentam não prescrever inibidores de bombas de prótons (IBP), nome científico de medicamentos como omeprazol, pantoprazol e similares, por tempo muito prolongado.

"A acidez do estômago é um dos mecanismos importantes para impedir que bactérias invasoras entrem no nosso organismo e também contribui na absorção de certas vitaminas e ferro dos alimentos", observa.

Catarro escuro também não é bom

Além do risco de engolir acidentalmente o catarro de outra pessoa, se ele apresentar uma coloração mais escura seu potencial de causar doenças respiratórias graves e, em alguns casos, também transmissíveis, aumenta. Portanto, ao ter percebido uma mudança no aspecto da secreção, que pode vir acompanhada de tosse ou espirro, escarre em vez de engolir e procure um médico.

A coloração se modifica conforme a quantidade de neutrófilos (células de defesa). Em geral, o catarro mais esbranquiçado significa um quadro alérgico, inflamatório ou de uma infecção viral, como gripe, por exemplo.

Em tom mais amarelado, pode indicar o início de um processo bacteriano (sinusite, faringite) e verde sua instalação completa. Já quando há presença de sangue pode ser em decorrência de esforço ao escarrar, ou, em casos mais sérios, pneumonia e até tuberculose.

A partir desses sinais deve ser feita uma avaliação que inclua a realização de exames de diagnóstico, como radiografia e cultura microbiológica, para identificar a causa da secreção e iniciar o tratamento, que normalmente é feito com broncodilatadores ou antibióticos, conforme indicação do médico.

Esses medicamentos podem ainda ser associados com o uso de um corticoide tópico e lavagem nasal com soro fisiológico, que ajuda na fluidificação.

Engolir o nosso catarro, após a instilação de alguma medicação no nariz, a priori também não vai fazer mal. "Os medicamentos modernos que são usados topicamente na cavidade nasal têm um teor pequeno de absorção estomacal e intestinal", conclui Matsuyama.