Prepúcio artificial reverte mesmo perda de sensibilidade na glande?
Alguns homens que se submeteram a uma cirurgia de postectomia (remoção do prepúcio) alegam que a sensibilidade diminuiu bastante em função de a glande (cabeça do pênis) exposta se tornar mais "grossa", atrapalhando o prazer sexual.
Pensando nisso, uma empresa do Reino Unido criou, há quase duas décadas, um modelo de prepúcio artificial, exclusivamente para homens desprovidos de um, com a promessa de melhorar a sensibilidade durante o ato sexual.
Segundo o fabricante, o produto promete reverter a ausência de sensibilidade supostamente causada pela circuncisão, afirmando que a cirurgia remove cerca de 75% do tecido sexualmente sensível e erógeno, deixando a glande seca e dessensibilizada, fazendo com que ela engrosse até 15 vezes quando a pele é removida.
Como funciona o prepúcio artificial
A título de exemplo, podemos dizer que o prepúcio artificial é como se fosse um preservativo: ele é colocado no pênis (não ereto), protegendo a glande do atrito com a roupa íntima.
De acordo com o fabricante, após uma semana de uso diário, a glande começa a se "desqueratinizar", tornando essa pele mais fina e sensível, revertendo os efeitos da circuncisão.
Composto por uma dupla camada feita com polímero de látex pré-vulcanizado, o pseudo prepúcio se adapta a diferentes tamanhos de pênis, além de ser "semi-respirável". É necessário lavá-lo com frequência e dá para utilizá-lo por 8 a 10 dias.
O "falso" prepúcio pode ser usado durante o dia ou à noite, mesmo se o pênis ficar ereto involuntariamente, não há problema, pois é feito de uma material flexível que se expande e se adapta a ereção. Somente homens circuncidados devem usar o produto, que ainda é desconhecido no Brasil, sendo os Estados Unidos o principal consumidor no mundo.
Tamanhos e cores variados
O prepúcio postiço está disponível em 4 tonalidades diferentes. Além disso, tem 10 tamanhos, no que se refere a circunferência do pênis. Apesar de o prepúcio de látex ser uma espécie de "capa", é importante ressaltar que ele jamais deve ser usado durante o ato sexual (como se fosse um preservativo), tendo em vista que ele foi criado apenas para aumentar a sensibilidade da glande, evitando o atrito constante com a roupa (cueca), e não como um apetrecho a mais na relação sexual.
Um lembrete, quem possui alergia a látex, não deve utilizar o produto, avisa o fabricante. Recuperar a suposta sensibilidade perdida com a circuncisão não custa barato, o pacote básico com quatro unidades de tamanhos diferentes do prepúcio artificial, não sai por menos de 43 euros (aproximadamente R$ 279), fora a despesa de envio. A outra desvantagem é a venda somente online no site da empresa.
Afinal, o prepúcio artificial funciona?
Para o urologista Fábio José Nascimento, do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D'Or São Luiz (SP), o "prepúcio artificial não ocupa no meio científico nenhum espaço terapêutico", e acrescenta que homens com qualquer tipo de transtorno de sensibilidade peniana ou da glande, devem buscar ajuda especializada com um urologista.
Outro especialista que compartilha da mesma opinião e dá mais detalhes é o urologista Giuliano Aita, vice-coordenador do Departamento de Cirurgia Peniana da Abemss (Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual) do Piauí: "Esta capa artificial é desconectada das terminações nervosas do pênis, portanto, não exerce o efeito de 'recuperar a sensibilidade', até porque a retirada do excesso de prepúcio não aumenta ou diminui a sensibilidade do pênis, ou a sensação de prazer que pode ser obtida", garante.
Se o produto não traz o resultado esperado, é possível ocorrer algum tipo de dano ao órgão sexual masculino? De acordo com o urologista César Nardi Zillo, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o uso prolongado de um prepúcio feito de látex pode resultar em irritação local e alergia.
Postectomia causa perda de sensibilidade?
Para Aita, a mudança de sensibilidade ou uma eventual interferência nas sensações prazerosas da glande (pós-postectomia) não são significativas, desde que a cirurgia seja conduzida por um profissional especialista na área.
O motorista de aplicativo, Angelo*, 41, que fez a postectomia quando nasceu, admite que sente pouca sensibilidade na glande, e credita a ejaculação tardia a isso. "Sinto pouca sensibilidade e, na maioria das vezes, levo um tempo enorme para ejacular, é bem chato isso", confessa ele.
No entanto, Aita esclarece que a postectomia não interfere no tempo de latência até a ejaculação, e que estudos clínicos mostraram que existem vias moleculares e neuronais complexas envolvidas neste controle, que não sofrem interferência em relação à quantidade de pele no pênis ou de sua posterior remoção.
Postectomia tem benefícios
Homens não-circuncidados estão mais expostos a doenças, inclusive no que se refere às ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). Urologistas apontam as potenciais vantagens da postectomia:
- Redução das balanopostites (irritações/infecções do prepúcio);
- Redução nas taxas de câncer de pênis que, apesar de ser uma doença incomum, tem sua prevalência diminuída nos postectomizados;
- Algum grau de proteção contra ISTs quando se tem relações sem proteção. A cirurgia reduz a probabilidade, mas NÃO é SEGURO se apoiar nisso como método de proteção;
- Foi observado que em bebês com menos de 18 meses, a postectomia também reduziu a probabilidade de infecções urinárias.
A higiene íntima masculina deve ser parte diária da rotina dos homens, independente de ser circuncidado ou não. Confira dicas importantes:
- Após urinar, é necessário enxugar o pênis para evitar umidade, evitando a proliferação de fungos;
- Enxágue as mãos antes de urinar, para não levar bactérias para o pênis;
- Durante o banho, lave o pênis com atenção, retraindo o prepúcio, lavando ao redor da glande com sabonete, retirando secreções (esmegma), suor e gorduras, evitando o mau odor, infecções por fungos e bactérias e até mesmo câncer de pênis;
- A limpeza deve abranger também a virilha, testículo e ânus;
- Lave o pênis após o ato sexual, a limpeza remove os resquícios de lubrificante e secreções vaginais que podem se misturar ao sêmen.
Roni Fernandes, diretor da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), ressalta que nos últimos dois anos, foram 1.092 casos de amputação de pênis no Brasil devido ao câncer: "Inclusive durante este mês de fevereiro estamos realizando uma campanha de conscientização dos homens sobre essa doença que pode ser evitada com limpeza adequada do órgão, vacina contra o HPV e retirada da fimose", explica.
Uma vez diagnosticado o câncer de pênis, é realizada a retirada cirúrgica da lesão, podendo em casos mais extremos a necessidade da penectomia (remoção do pênis), e a extração dos linfonodos inguinais (gânglios na região da virilha), explica Zillo.
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