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Chá de quebra-pedra elimina mesmo cálculos renais?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Cecilia Felippe Nery

Colaboração para VivaBem

24/02/2021 04h00

Tudo começa com uma dor nas costas, que se irradia para o abdome em direção à região inguinal. A pessoa sente cólicas, com picos de dor intensa seguidas de certo alívio. As crises podem ser acompanhadas de náuseas e vômitos e requerem atendimento médico-hospitalar. Quem já teve cálculo renal —ou pedras nos rins—, sabe o sofrimento e a dor que causam quando não se consegue eliminar esses cristais.

No entanto, há quem recorra ao chá de quebra-pedra para aplacar a dor e conseguir dissolver as pedras, porém sua ação constitui-se mais em prevenir do que tratar e curar. "O chá de quebra-pedra auxilia na prevenção da formação de cálculos, já que reduz a aglomeração dos cristais presentes na urina, condição necessária para a formação do cálculo. A infusão pode contribuir para a prevenção, mas não para o seu tratamento", afirma Sirlete Carvalho Rezende, nefrologista.

Fábio Nascimento, urologista, explica que não existe, até o momento, nenhum chá que tenha efeito para quebrar um cálculo. "O efeito da ingesta dessas soluções, como em qualquer chá ou outro tipo de bebida, é a grande presença de água na sua composição. Portanto, ingerir água, seja na forma de chás ou sucos, é benéfico para evitar a formação de cálculos renais", explica.

Para a nutricionista Jyana Gomes Morais Campos, o composto Phyllanthus niruri, encontrado no chá de quebra-pedra, "parece" ajudar no controle da formação e eliminação das pedras nos rins, "mas ainda são necessários mais estudos para afirmar esses resultados. Como é um composto de cunho natural, parece não haver malefícios com o seu consumo, mas é importante que o médico ou nutricionista sejam consultados sobre o consumo do chá", adverte.

Como age o chá de quebra-pedra

Feito a partir da planta Phyllanthus niruri, pertencente à família Phillanthaceae, o chá de quebra-pedra age convertendo cristais de oxalato de cálcio monohidratado (o componente químico mais comum das pedras) em cristais dihidratados que, por possuírem uma menor superfície, se aderem menos às vias urinárias, evitando assim a formação de cálculos de maior dimensão. São esses que provocam dor na região do rim e os mais difíceis de serem expelidos sem o auxílio de algum remédio ou tratamento.

"Ao contrário do que seu nome popular quer afirmar, a infusão das folhas e sementes não faz um cálculo grande se partir em pedaços menores, seu efeito positivo é mais preventivo do que curativo. O chá impede a agregação dos cristais de oxalato de cálcio, componente químico mais comum dos cálculos renais. Na prática, as infusões de folhas de quebra-pedra param o processo de crescimento das pedras já existentes e evitam a formação de novos cálculos", reforça a nutróloga Marcella Garcez.

É importante ressaltar que se o cálculo não for de oxalato de cálcio, o chá de quebra-pedra não terá efeito nem preventivo, quanto mais curativo. Além disso, em virtude de suas propriedades, o chá de quebra-pedra é contraindicado para crianças menores de seis anos e mulheres grávidas ou que amamentam, podendo causar aborto ou alterar o sabor do leite na amamentação.

Por outro lado, há estudos que, em conjunto, sugerem um efeito preventivo na formação ou eliminação de cálculos, porém ainda são necessários mais ensaios clínicos de longo prazo para confirmar suas propriedades terapêuticas.

O que é e como se forma o cálculo renal?

Litíase renal, conhecida popularmente como "pedra nos rins" ou "cálculo renal", é o acúmulo de cristais minerais formadores de uma massa endurecida, que pode ser encontrada no rim ou em outra região do trato urinário.

Diversos fatores podem estar relacionados à formação de cálculos renais, que vão desde distúrbios metabólicos, infecções do trato urinário, questões alimentares e possíveis componentes genéticos.

Geralmente os cálculos são constituídos de oxalato de cálcio, mas podem apresentar composições minerais diferentes, dependendo do distúrbio causador do mesmo. As pedras nos rins podem ainda ser minúsculas, como um grão de areia, pequenas, como uma pérola, ou ainda grandes, chegando ao tamanho de uma bola de golfe.

Estudos apontam que beber pouco líquido é uma das principais causas da ocorrência de cálculo renal. Assim, nos casos simples, é recomendado ingerir água para facilitar a movimentação e eliminação da pedra. Se necessário, e sob orientação médica, o uso de analgésico ou anti-inflamatório ajudam a diminuir a dor.

Nos casos mais complicados, pode ser necessária a internação hospitalar, para verificar a melhor maneira de eliminar o cálculo. A prevenção de cálculos renais inclui também cuidados dietéticos, controle de peso, ingesta de líquidos e de citrato.

De acordo com Garcez, as duas patologias que mais frequentemente impactam negativamente a função renal são o diabetes e a hipertensão arterial.

"O ideal é investir em uma dieta saudável e prevenir disfunções renais. Um hábito alimentar equilibrado, variado e natural, rico em verduras, legumes, frutas, grãos e cerais integrais, sementes, carnes mais brancas e magras, peixes, e ovos estão entre alimentos que ajudam a preservar os rins", assegura Garcez.

O consumo adequado de líquidos, principalmente a água, ajuda os rins a trabalharem melhor. Para saber se está ingerindo a quantidade ideal de líquidos, deve-se observar a coloração da urina: o ideal é que seja amarela clara. Se ela estiver escura, é um sinal de necessidade de aumento no consumo de água.

"Quando os rins já não funcionam adequadamente, o organismo fica mais vulnerável ao aparecimento de várias complicações. Deste modo, manter uma dieta rigorosa é imprescindível para manter uma boa função renal", completa a nutróloga.

Fontes: Fábio Nascimento, urologista no Hospital Brasil, da Rede D'Or (SP); Jyana Gomes Morais Campos, nutricionista e coordenadora de Nutrição da Fundação Pró-Rim; Marcella Garcez, nutróloga, professora e diretora da ABN (Associação Brasileira de Nutrologia); e Sirlete Carvalho Rezende, nefrologista da Fundação Pró-Rim.