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Gordofobia: formato do corpo pesa mais na estigmatização das mulheres

Getty Images
Imagem: Getty Images

Mariana Nakajuni

Da Agência Einstein

25/02/2021 11h43

A gordofobia é caracterizada pela aversão a pessoas acima do peso, com impactos na vida cotidiana, no atendimento médico e nas oportunidades econômicas desses indivíduos. Agora, um novo estudo publicado no periódico Social Psychological and Personality Science sugere que, para além do peso, outro fator possui grande influência nos comportamentos gordofóbicos direcionados a mulheres: o formato do corpo.

Pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona e da Universidade Estadual de Oklahoma, nos Estados Unidos, descobriram que, ainda que duas mulheres possuam o mesmo peso e altura, elas são estigmatizadas de formas diferentes. O que muda, nesses casos, é a localização da gordura em seus corpos: aquelas que possuem gordura na região gluteofemoral (quadril, coxas e nádegas) sofrem menos preconceito que aquelas com gordura na região abdominal.

Para chegar a essa constatação, a equipe desenvolveu ilustrações com diversos tipos de corpos femininos -- subpeso, peso médio, sobrepeso e obesidade -- e mostrou para homens e mulheres estadunidenses e indianos. Os desenhos que representavam pessoas acima do peso tinham duas versões diferentes, uma com gordura abdominal e outra, gluteofemoral.

Como esperado, as mulheres obesas eram as que sofriam maior preconceito de modo geral; as que apresentavam sobrepeso também eram mais estigmatizadas em relação àquelas com peso médio. No entanto, a pesquisa encontrou nuances nas respostas.

Os participantes indicavam maior aversão às ilustrações de mulheres com sobrepeso e gordura abdominal do que mulheres obesas com gordura localizada na região gluteofemoral. Além disso, mulheres com subpeso recebiam maior rejeição em comparação com as de peso médio. Os autores afirmam que esses resultados contestam as hipóteses de que a gordura é vista como algo unicamente negativo, e mostram também a influência do formato do corpo na gordofobia.

A distribuição da gordura pelo corpo determina a sua forma e é associada a várias funções biológicas e consequências na saúde. A gordura gluteofemoral em mulheres jovens, por exemplo, pode indicar fertilidade, enquanto gordura abdominal pode estar associada a efeitos negativos, como diabetes e doenças cardiovasculares. O estudo reforça, no entanto, que essas presunções nem sempre são corretas, e que servem como uma maneira de obter informações e avaliar quem está ao redor.

"Quando as pessoas tentam entender como são os outros e quais são suas características, elas geralmente se baseiam em sinais facilmente visíveis para fazer suas suposições, e nós sabemos há bastante tempo que o peso é usado como um desses sinais", explica Steven Neuberg, um dos autores da pesquisa. "Uma vez que diferentes gorduras, localizadas em diferentes partes do corpo, são associadas a vários resultados, nós queríamos explorar se as pessoas também usavam sistematicamente o formato do corpo como um sinal".

Os cientistas fazem a ressalva de que ainda é preciso analisar outros fatores que podem influenciar comportamentos gordofóbicos, como as mamas, a idade e etnia das mulheres, além do realismo na representação de seus corpos.

"Políticas de saúde efetivas precisam de um entendimento completo acerca da gordofobia", enfatizam os pesquisadores. Setenta por cento dos adultos nos Estados Unidos apresentam sobrepeso ou obesidade. No Brasil, 96 milhões de pessoas -- 60,3% da população adulta -- estão acima do peso. "Nós nos focamos em construir a lógica por baixo da noção direta, mas subestimada, de que o formato do corpo possui um papel importante no estigma do peso contra mulheres".