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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Convivendo com o câncer há 13 anos, ela se dedica a ajudar outros pacientes

Wanda Pinheiro, 66, teve diagnóstico de mieloma múltiplo em 2008 - Arquivo pessoal
Wanda Pinheiro, 66, teve diagnóstico de mieloma múltiplo em 2008 Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

14/03/2021 04h00

Há 13 anos, Wanda Pinheiro, 66, convive com um tipo raro de câncer, chamado de mieloma múltiplo. Ela fez quimioterapia por seis meses até realizar o transplante de medula óssea. Depois disso, realizou mais um tratamento durante três anos e meio e, atualmente, tem a doença em remissão, ou seja, sob controle. Ao se recuperar, Wanda passou a dedicar seu tempo auxiliando outros pacientes.

"Em agosto de 2008, recebi oficialmente o diagnóstico de mieloma múltiplo, mas já estava com sintomas há um tempo. Aliás, tempo demais. Tinha dores na região da lombar e muito cansaço. Mas naquela época era mais difícil o diagnóstico porque se confundia com o sintoma de várias outras doenças. Fiquei uns três, quatro anos com sintomas de fibromialgia.

Apesar de eu fazer vários exames, como ressonância, radiografia, de sangue, que possibilitavam o diagnóstico, eu não era diagnosticada. Foi só em contato com um ortopedista que ele teve um insight —por ser casado com uma hematologista— de pedir um exame, chamado de eletroforese (um dos exames que detecta o mieloma múltiplo). E, realmente, veio o diagnóstico.

wanda pinheiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Wanda durante o tratamento, no fim de 2008
Imagem: Arquivo pessoal

Eu tive quase 15 lesões líticas, que são microfraturas, na coluna e no meu crânio, que parecia um queijo suíço. Tudo isso aparecia nas imagens de ressonância e na tomografia, mas nenhum médico fazia meu diagnóstico.

Também nunca imaginei que o médico fosse falar que estava com câncer. Era uma coisa que não passava pela minha cabeça porque não tenho histórico da família. Mas não era dos mais agressivos. E foi uma pancada, saí do consultório avoada, parecia que não tinha chão. Quando fui para um hematologista, ela pediu uma grade de exames, e a forma como ela falou comigo foi sensacional.

A doutora disse que eu era uma paciente jovem (eu tinha 54 anos) e que o transplante de medula óssea seria a solução para o meu problema. Meu inconsciente absorveu essa informação: de que para essa doença, teria tratamento. Ainda foi um impacto, mas a forma que ela transmitiu a notícia me trouxe positividade. Então comecei o tratamento no dia seguinte.

Já são quase 13 anos sem recidiva da doença

Comecei meu tratamento com um protocolo bem clássico de quimioterapia, por via oral, que tem o intuito de eliminar as células doentes antes do transplante. Com isso, as dores ósseas foram minimizando, mas o impacto no meu organismo foi um horror. Fui várias vezes ao pronto-socorro porque meu corpo recebia muito mal a dosagem de químio e eu sempre tive uma saúde de ferro.

Wanda Pinheiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Wanda (centro) ao lado dos filhos, em 2008
Imagem: Arquivo pessoal

Nos primeiros quatro meses de tratamento sofri bastante. Quando realizei mais exames pré-transplante, me indicaram mais dois ciclos de quimioterapia porque ainda tinha muito resíduo de células doentes para ser apta a realizar o procedimento. No fim de fevereiro de 2009, realizei o transplante de medula óssea autólogo [feito com as próprias células do paciente].

Todo mundo fala sobre as dores dos transplantes, o incômodo. Realmente, senti os efeitos colaterais: enjoo, mucosite, diarreia. Tive tudo, mas não foi uma coisa insuportável. Insuportável foi no começo do tratamento, no ciclo de químio.

Depois do transplante, me senti bem, andava sem sentir dores horríveis, e tinha apenas uma fraqueza do tratamento. Recebi alta em março mesmo e dali em diante fui acompanhando com um hematologista.

Fiz manutenção por três anos e meio com um medicamento, que pode causar dormência e formigamento nos pés. Hoje, convivo com isso como se tivesse nascido assim. Desde que fiz essa manutenção, não tive nenhuma recidiva [retorno da doença]. Já são quase 13 anos assim. Só faço exame de controle de três em três meses. E acho ótimo. Se tenho exames para fazer, significa que estou viva e bem.

Pelo meu tempo de remissão, virei uma referência e ajudo pacientes

Wanda Pinheiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Wanda ajuda outras pessoas com mieloma
Imagem: Arquivo pessoal

Sou assistente social, mas me aposentei depois de três anos no auxílio-doença. A partir daí, vim morar em São Paulo, onde ocorreram muitas mudanças na minha vida. Enquanto estava me recuperando, comecei a me envolver com as causas do mieloma múltiplo. Hoje, lidero um grupo que se chama CuraMMor e atendo todas as pessoas que me procuram buscando orientação; e não são poucas, são pacientes de vários estados do Brasil. Acabei virando uma referência pelo meu tempo de remissão.

Eu atendo telefone, oriento, ajudo, indico médicos, levo para o hospital, corro atrás de médico para atender pacientes que não têm condições financeiras, trabalho com doação de medicamentos e faço reunião de grupos.

Toda essa atividade é voltada para informação e conscientização do mieloma múltiplo. É um trabalho de formiguinha. Eu doo meu tempo para isso e, quando vejo, já passou.

Depois disso tudo, sei que minha vida acontece hoje. Você não faz mais projetos a longo prazo, ainda mais quando você pode ter uma recidiva a qualquer momento."

O que é mieloma múltiplo?

É um tipo raro de câncer no sangue que atinge a medula óssea e ocorre devido a um crescimento descontrolado e anormal dos plasmócitos —um tipo de glóbulo branco (célula de defesa), que participa do combate às infecções. A doença afeta todo o organismo, principalmente os ossos e os rins.

"Nos ossos, a doença vai começar a estimular o mecanismo de destruição óssea e, por isso, há a presença de lesões chegando até a fraturas, principalmente nos ossos longos, como fêmur, úmero, costela e crânio, e também nas vértebras", explica Breno Gusmão, médico onco-hematologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e da Oncoclínicas, de Brasília.

De acordo com o especialista, o principal sintoma do mieloma múltiplo é a dor óssea ou lombar, sem causa justificada. Outros indicativos da doença são a fratura óssea sem trauma, anemia, hipercalcemia [excesso de cálcio], insuficiência renal e cansaço.

Os sinais do mieloma múltiplo, muitas vezes, são confundidos com os de outras patologias, o que acaba atrasando o diagnóstico. "O diagnóstico tardio é uma realidade. Os pacientes com dor óssea não vão ao médico porque pensam que são outros motivos. Ninguém imagina que está doente por uma dor na coluna ou braço", diz.

Mas, de acordo com ele, dores por muito tempo, cansaço para atividades normais, infecções recorrentes e urina com espuma podem indicar a presença da doença.

Mais qualidade de vida aos pacientes

São várias as opções de medicamentos que compõem o tratamento do mieloma múltiplo. Uma delas é o transplante de medula óssea autólogo (quando a medula transplantada é a do próprio paciente) que, a depender de fatores como o estadiamento da doença e condições físicas do paciente, pode ser a primeira opção de tratamento.

Mas a quimioterapia é o tratamento mais comum. Vários medicamentos extremamente potentes no combate à doença são utilizados com o objetivo de destruir, controlar ou inibir o crescimento das células doentes.

"Nos últimos cinco anos, tem evoluído muito o tratamento do mieloma múltiplo devido ao surgimento de medicamentos novos, além de novas combinações. Isso mudou o panorama de sobrevida dos pacientes, além da qualidade de vida deles. Isso porque os tratamentos são eficazes e com menos efeitos colaterais", explica o médico onco-hematologista.

Mesmo que sem cura, a doença pode ser "controlada", que é quando chega na remissão, como aconteceu com Wanda. "Ela recebeu tratamento e está, há quase 13 anos, em remissão, com a doença desaparecida."