Como você se vê? Enxergar defeitos insignificantes pode ser transtorno
Resumo da notícia
- Quem tem dismorfia corporal apresenta insatisfação extrema com defeitos sutis ou até mesmo inexistentes na aparência
- Ele causa ansiedade, humor deprimido, baixa autoestima e procura por procedimentos estéticos
- Em alguns casos, a pessoa passa horas se olhando no espelho, tenta camuflar o ?defeito? e evita eventos sociais
- O tratamento envolve a psicoterapia e também o uso de medicamentos como antidepressivos
Você já se olhou no espelho e não gostou do que viu? Isso pode até ser comum, mas se o mal-estar for muito grande e a insatisfação, extrema, pode ser sinal de um transtorno mental chamado dismorfia corporal, ou transtorno dismórfico corporal, que também é chamado de síndrome da feiura imaginária. Essa situação, que atinge 2% da população mundial, cerca de 4,1 milhões só no Brasil, geralmente inicia no período da adolescência, quando jovens vivem um momento de transformação e descobertas, e leva a um enorme sofrimento e impacta a vida social e profissional do indivíduo.
Para Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), essa "deformidade" é percebida somente pela pessoa e não é real. "Esse transtorno causa forte angústia, leva o paciente a examinar o próprio corpo em frente ao espelho com frequência, compará-lo com o de outras pessoas e ainda trazer sério prejuízo à capacidade funcional da pessoa", diz.
O problema é que, muitas vezes, quem tem dismorfia corporal não tem consciência de que suas preocupações com o corpo são excessivas. Além disso, o transtorno pode vir associado com ansiedade, esquiva social, humor deprimido, perfeccionismo, baixa autoestima, grande procura por procedimentos estéticos, além de grande vergonha da sua aparência, segundo Christiane Ribeiro, psiquiatra do Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O que causa?
Especialistas acreditam que as causas do transtorno estão relacionadas ao funcionamento dos neurotransmissores, substâncias químicas que ajudam as células nervosas do cérebro a enviar mensagens umas às outras. Ele também ocorre devido a outros transtornos mentais como TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) ou até tenha alguma explicação genética —uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) revelou que 8% das pessoas com o transtorno tinham algum familiar que também recebeu o mesmo diagnóstico ao longo da vida.
A condição ainda é mais frequente em quem foi abusado e sofreu negligência na infância. Além disso, é comum em indivíduos com baixa autoestima e com pais ou familiares que critiquem muito a sua aparência.
Principais sintomas
A pessoa com transtorno dismórfico corporal sente um sofrimento emocional psíquico muito grande, percebe-se inadequada e foge das pessoas. "Em situações dramáticas, não sai de casa durante o dia e checa o 'defeito' repetidamente. Este comportamento de ficar analisando o corpo pode durar até mesmo 6 a 8 horas por dia, ou seja, a vida da pessoa se resume a isso", destaca Silva. Outra complicação do transtorno é o uso inadequado de substâncias. "E essas pessoas estão mais propensas a pensamentos suicidas".
Os sinais e sintomas do transtorno incluem:
- Preocupação constante com algum defeito na aparência que para os outros não pode ser visto ou parecer significante;
- Apalpam e cuidam da pele de modo excessivo;
- Podem se achar muito feios ou até mesmo deformados;
- Acreditam que os outros estão sempre olhando para sua aparência de forma negativa;
- Verificam o espelho com frequência, procurando defeitos;
- Tentam esconder "falhas" percebidas com maquiagem ou roupas;
- Fazem comparações constantes de seu corpo com outras pessoas;
- Costumam ser perfeccionistas;
- Realizam procedimentos estéticos ou cirurgias plásticas com frequência para tentar consertar o defeito que o incomoda;
- Perguntam constantemente para os outros se o defeito ou a falha está muito visível;
- Podem se concentrar excessivamente em uma ou mais partes do corpo. Tendem a fixar no rosto (nariz, queixo, pele, acne e manchas), cabelos, seios, músculos e genitais;
- Evitam eventos sociais.
Como é feito o diagnóstico?
Pode ser bastante difícil diagnosticar esse transtorno, já que as pessoas, muitas vezes, sentem vergonha e não falam sobre seus sentimentos e sintomas com amigos e familiares. Mas geralmente são realizados testes psíquicos bem detalhados e o especialista investiga se há checagem corporal compulsiva. "O diagnóstico também avalia o quanto esse transtorno está comprometendo a vida e a rotina do indivíduo", explica Silva.
Acredita-se que muitas pessoas não recebem o diagnóstico adequado, pois é comum que procurem dermatologistas e profissionais ligados à estética, e não especialistas da área de saúde mental como psiquiatras ou psicólogos. O transtorno tende a ficar mais evidente após várias cirurgias plásticas ou procedimentos invasivos para mudar a aparência.
Procurando ajuda e como prevenir
O tratamento envolve psicoterapia e também o uso de medicações como antidepressivos, principalmente quando há ansiedade e depressão. "O foco é minimizar a percepção distorcida que a pessoa tem sobre si própria e auxiliá-la a lidar com situações que lhe geram sofrimento, como também diminuir e/ou substituir os rituais de checagem da aparência", afirma Natália Araújo, psicóloga do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Para Ribeiro, é importante associar técnicas de habilidades sociais e atuar para que esses indivíduos não se menosprezem e se sintam inferiores. "É necessário compreender a causa dos sentimentos de inadequação. Conceitos estereotipados de beleza enfatizados pelas famílias e na cultura devem ser desconstruídos. Conforme a realidade vai se impondo, a pessoa percebe que os problemas não serão resolvidos alterando os possíveis defeitos em suas aparências", afirma.
Os especialistas consultados pelo VivaBem destacam ainda que, para evitar este tipo de transtorno, é importante aceitar e respeitar o próprio corpo, assim como não se pressionar em busca de padrões que não correspondam ao próprio tipo físico.
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