Raios e choques elétricos podem matar; entenda como e o que fazer
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
15/03/2021 04h00
No mundo, o Brasil é o país onde os raios mais caem. Só em 2020 foram registrados por aqui 144 milhões deles, que anualmente são responsáveis por cerca de 130 mortes de brasileiros, informam dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Quanto aos choques e incêndios de origem elétrica, principalmente residenciais, a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), contabilizou 1.660 casos, com mais de 700 mortes em 2019. Adultos são as principais vítimas, mas bebês e crianças também se acidentam e morrem devido às descargas.
"É preciso que os pais tomem cuidado com fios desencapados e descascados, objetos que podem ser introduzidos em tomadas e caixas elétricas, que devem permanecer fechadas e trancadas. Acidentes elétricos causam queimaduras, lesões, paradas cardíacas e comprometem o desenvolvimento infantil", adverte Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e neonatologista membro da Academia Americana de Pediatria.
Fora de casa, crianças também não devem soltar pipa em dias de céu chuvoso, com trovões e relâmpagos, e nem brincar sob antenas, fios telefônicos e cabos elétricos.
Perigo que se propaga no ar, na terra e no mar
Em se tratando dos raios, ao atingirem uma pessoa, a chance de sobrevivência é baixíssima. Não é para menos. A corrente elétrica é 1.200 vezes maior que a de um chuveiro elétrico de alta potência.
A morte acaba sendo instantânea, por queimaduras de terceiro grau e danos severos ao coração, cérebro, pulmões e outras regiões do corpo. Mas também é possível sofrer os efeitos indiretamente, a metros de distância.
Descargas laterais, como são chamadas as que se propagam por terra e mar, produzem choques que resultam em quadros de menor risco, mas também podem matar. Tudo vai depender de onde estiver, da intensidade e duração da corrente e da reação do corpo, sendo possível sentir algo até a 100 metros do ponto do raio e principalmente sem nenhuma proteção, como com os pés descalços ou dentro da água, por exemplo.
"No momento do choque é possível ter dor, formigamentos, fraqueza, desmaio, crise convulsiva, perda de memória, paralisia de membros ou de um lado do corpo, e a grande consequência deletéria é sofrer uma parada respiratória. Mas os efeitos podem se manifestar meses depois, como uma lesão, ou alteração na parte do cérebro por onde passou essa corrente elétrica", informa Fabio Porto, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Outras repercussões no organismo incluem fortes dores de cabeça, desestabilização do coração e parada cardíaca, rompimento dos tímpanos, coagulação do sangue seguida de trombose, elevação rápida da temperatura corporal e lesões nos olhos.
Choques em casa não são menos letais
Raios também podem ser sentidos dentro de casa, enquanto se segura algum aparelho eletrônico conectado à tomada e as consequências podem ser igualmente sérias. Da mesma forma, oferecem perigo descargas em decorrência de problemas de instalação, mau funcionamento de aparelhos e falta de conhecimento sobre os riscos da eletricidade.
"Ao contrário do que muitos pensam, as correntes elétricas mais perigosas são aquelas que têm intensidades relativamente mais baixas, que podem ser obtidas em eletrodomésticos comuns que funcionam a 110 V e 220 V. Correntes mais intensas podem provocar desmaios e fortes queimaduras, porém não chegam a matar de imediato. E no caso das descargas elétricas atmosféricas geralmente são fulminantes", difere André Gasparoto, cardiologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O médico explica que correntes elétricas menos violentas podem aumentar o risco de morte porque causam contrações musculares involuntárias, especialmente na parte em contato direto com a fonte de energia, fazendo com que a pessoa fique "grudada".
Nessa situação, o cérebro não consegue comandar o abrir das mãos, aumentando assim o tempo de circulação da corrente pelo corpo e consequentemente os danos.
"Mas pode ocorrer uma explosão e a pessoa ser lançada", acrescenta o neurologista Fábio Porto. Correntes elétricas de alta tensão também causam contrações, mas tão intensas que são capazes de arremessar o corpo longe.
Em 2019, um jovem de São Carlos, no interior paulista, passou por isso após receber uma descarga de 13 mil volts.
O que fazer para se proteger e em caso de acidentes?
Como já mostrado, descargas elétricas variam e as situações em que ocorrem e os acidentes que provocam também. Por isso, a conscientização é fundamental.
Prevenção contra raios
- A chuva vem vindo? Saia de locais abertos, como morros, praias e campos de futebol.
- Durante um temporal ao ar livre, se sentir arrepios ou coceira na pele, indícios de que um raio pode estar a caminho, agache e abrace os joelhos. Não se deite no chão.
- Ao se proteger em um carro, mantenha portas e janelas fechadas, sem encostar na lataria.
- Saia da piscina e do mar, pois a água conduz eletricidade com mais eficácia que o ar.
- Não fique próximo de árvores, postes e linhas de energia elétrica, trilhos e cercas.
- Em áreas abertas, não segure objetos metálicos longos, equipamentos elétricos ou celulares, que também não devem ser utilizados enquanto se recarregam na tomada.
Prevenção para choques
- Tem crianças pequenas? Vede todas as tomadas com protetores especiais.
- Ao trocar lâmpadas, toque apenas na extremidade do suporte e no vidro da lâmpada.
- Nunca toque em aparelhos elétricos quando estiver com corpo ou mãos molhados.
- Nunca pise em fios caídos no chão, principalmente se estiver na rua.
- Não sobrecarregue instalações elétricas com vários aparelhos ao mesmo tempo.
- Evite usar o celular em ambientes com vapor de água, como no banheiro.
- Desligue a chave geral antes de fazer supervisões, trocas e reparos elétricos.
- Não encoste em veículos com cabos caídos por cima, pois podem estar energizados.
Como proceder em acidentes
- Para não se eletrocutar, socorra alguém somente após "cortar" a fonte de energia.
- Se a vítima estiver num local de risco, com segurança afaste-a dali.
- Em seguida, chame imediatamente uma ambulância no 192 ou os bombeiros no 193.
- Protegido e feito o aviso, ajude, reconhecendo se há sinais vitais na pessoa.
- Se ela estiver consciente, tente acalmá-la até a chegada da equipe médica.
- Se estiver respirando, mas com traumas, não mova-a de jeito nenhum.
- Inconsciente, mas respirando, deite-a de lado a fim de prevenir danos por vômitos.
- Sem respiração, inicie a massagem cardíaca e o boca-a-boca até a chegada do resgate.