Dreads: conheça cuidados para não prejudicar a saúde e mantê-los em dia
Símbolos de resistência e presentes em diversas culturas, como africana, indiana e jamaicana, dreadlocks, ou apenas dreads, são mechas longas de cabelo emaranhadas em forma de tubo. "Existem relatos do seu uso desde o período pré-bíblico", afirma Stella Zuccon, dermatologista membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e da Central Nacional Unimed.
A popularização deles no Ocidente se deu principalmente com Bob Marley nos anos 1970. O músico de reggae jamaicano os ostentava como parte do seu visual paz e amor e seguia o rastafári, movimento religioso afro-caribenho no qual esse penteado é considerado sagrado.
Pascoal Cristo, 36, publicitário e músico de Salvador (BA), conta que aderiu aos dreads há mais de 15 anos pelo que representam e, em São Paulo, a empresária Deisy Dias, 25, por se identificar com seu aspecto de liberdade.
"Encontrei meu cabelo, me apaixonei e não pretendo tirar mais", diz ela.
Os dreads são comumente usados por quem tem cabelos crespos, mas podem ser feitos em outros tipos de fios e até mesmo com materiais artificiais.
Como se faz um dreadlock?
Para fazer a versão mais comum, primeiro as madeixas são separadas e penteadas em sentido contrário, ou seja, em direção ao couro cabeludo. O objetivo é desfiar e embaraçar os fios ao máximo.
Depois, individualmente, enroladas repetidamente, embaraçadas algumas vezes mais com o pente, e para que fiquem bem presas em nós, espetadas e puxadas com agulha de crochê. Esse método garante um dread permanente.
Mas há ainda técnicas —algumas caseiras— que utilizam cera de abelha para fixar e dar formato aos dreads (mas não é muito higiênica), também apliques de cabelo humano, sintético, lã e linha (incorporados às próprias madeixas para ficarem com comprimento longo, coloridas, ou de textura diferente), além de dreads experimentais, adquiridos avulsos e adicionados em maior ou menor quantidade no cabelo, explica a dermatologista Zuccon.
"No início da juventude, apliquei uma trança sintética e fiquei uns dois anos com ela. Depois que o cabelo cresceu, investi nos dreads naturais e o começo foi difícil, porque ficam sem direção, sem caimento. Usei eles menores, com quatro dedos e arrepiados para cima. Mas me acostumei, cresceram e hoje uso as laterais raspadas, formando um moicano", explica Pascoal, complementando que o penteado não o atrapalha para dormir, nem para praticar esportes.
Evite algumas complicações
Se o publicitário não tem queixas, a empresária Deisy relata alguns problemas temporários que teve após assumir os dreads, há dois anos.
"No começo, o peso dos alongamentos me fez sentir fortes dores nas costas que perduraram por semanas", conta.
Por isso, para aliviar a sobrecarga do penteado sobre a coluna, que pode se lesionar, busque fortalecer a musculatura cervical e torácica e corrigir a postura, indica Felipe Gargioni Barreto, neurocirurgião especialista em coluna pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Quanto à saúde capilar, Anna Cecilia Andriolo, dermatologista da ABCRC (Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar), alerta que a tração exigida na confecção dos dreads, principalmente quando não realizado por um profissional, facilita a quebra dos fios, que já estão no seu grau máximo de fragilidade.
"Por vezes contínua, pode levar a alopecia de tração, que nos estágios finais causa a queda definitiva dos fios. É preciso que os cuidados sejam rigorosamente obedecidos e que nunca se durma com os dreads molhados".
A limpeza inadequada e a umidade persistente levam ao mau cheiro e à piora de processos patológicos que podem afetar o couro cabeludo. A dermatite seborreica (caspa) e a foliculite são as mais observadas. Já descamação excessiva, coceira, vermelhidão e pontos semelhantes a espinhas com pus são sinais de alerta.
Sem manutenção, fios que caem e se acumulam no penteado também podem pesar as mechas e, de novo, provocar tração e falhas nos cabelos.
Lavagem, secagem e manutenção
Dreads bonitos e saudáveis refletem zelo e tanto Deisy como Pascoal afirmam ter com os seus. Ela lava os cabelos duas vezes por semana e ele, por surfar e frequentar academia até um pouco mais.
"No dia a dia normal, a lavagem pode ser feita de uma a duas vezes por semana, com água morna ou fria, utilizando xampu com boa propriedade de limpeza e que deve ser aplicado no couro cabeludo, com massagem suave, estendendo a espuma para cada dread", instrui Andriolo, ressaltando que condicionador pode ser usado, mas pouco e nunca no couro.
Sobre secar, Máira de Magalhães Mariano Astur, especialista em dermatologista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) explica que vai depender do tipo de dread. "Feito de lã, o ideal é usar secador com jato frio, ou secar ao ar livre. Já os naturais podem ser secos com uma toalha bem pressionada no cabelo, ou depois secador morno a uns 30 cm de distância do couro cabeludo para não induzir um aumento da oleosidade pelas glândulas sebáceas", diz.
Para que não deformem, a médica orienta usar produtos neutros e que não amaciem tanto os fios e, ao dormir, proteger o penteado com touca de pano, bandana ou fronha de travesseiro, medida que também serve durante a prática de atividades físicas.
A manutenção deve ser feita a cada dois meses, em salão de beleza e, principalmente no início, quando o penteado está no período de estabilização e exige aplicação de produtos especiais, massagens e higienização correta para evitar danos. Dreads sintéticos removíveis devem ser trocados a cada três meses.
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