Dar palpites demais à grávida contribui com quadro de depressão perinatal
Resumo da notícia
- É comum as pessoas opinarem na vida de uma gestante em relação aos cuidados do filho e o que é melhor para ele
- No entanto, muito palpite, em vez de ajudar, acaba contribuindo para quadros de depressão e dificulta interação da mãe com o bebê
- A rede de apoio da mulher, composta pela família e amigos, até pode opinar, mas é essencial que as vontades da mãe sejam respeitadas e priorizadas
- Mas, caso necessário, a depressão pode ser tratada com terapia, mudança de hábitos comportamentais e até com atividade física
"É melhor tentar o parto normal." "Não pode dar chupeta." "Ela tem que mamar no peito." "Não vai pegar muito no colo para não ficar manhosa." "Nada de deixar dormir na cama com vocês!" Esses são alguns dos conselhos que uma mãe recebe durante a gestação e após o nascimento do bebê. Mas você sabia que, na maioria das vezes, ao invés de ajudar, eles acabam atrapalhando e ainda podem contribuir para o desenvolvimento de uma depressão gestacional e no pós-parto?
Segundo os especialistas ouvidos pelo VivaBem, é importante que a mulher se sinta acolhida pela família e pelos amigos durante a gestação e após dar à luz, mas esse acolhimento não significa, necessariamente, receber palpites sobre tudo. Eles podem até ser bem-vindos, como um conselho aleatório, mas quando impostos ou constantes, acabam pressionando a mulher, o que a deixa ainda mais sobrecarregada emocionalmente num período tão delicado.
"A rede de apoio tem que entender as necessidades da mãe de forma antecipada", diz o obstetra Fernando Guedes da Cunha, do Instituto Ilítia. Ele lembra que a família pode auxiliar nas escolhas dessa mãe durante a gestação, mas nunca impor a sua verdade como absoluta. Quando uma mulher decide ter o bebê por um parto normal, por exemplo, muitas vezes ela acaba sendo desestimulada, e isso pode gerar uma frustação ou até mesmo uma depressão, já que ela foi obrigada a fazer o que os outros achavam que seria melhor para ela.
Para auxiliar uma gestante e afastar qualquer indício de depressão, o ideal é que ela seja encorajada e suas escolhas respeitadas. Outro ponto importante a ser dito é que não existe aquele famoso "instinto materno" —o que realmente acontece no puerpério é uma mulher cheia de incertezas tentando cuidar da melhor forma do bebê.
Como ajudar essa mulher
Todos sabem que o nascimento de um bebê altera completamente a vida de qualquer família. Então, por que não tentar trazer um certo aconchego e tranquilidade?
Especialmente no período do pós-parto, quando está ainda mais sobrecarregada com a amamentação e outras demandas do bebê, contar com uma comida feita após um dia intenso, a roupa lavada e estendida no varal, a louça limpa e até mesmo uma casa mais organizada contribui para a melhora do humor da mulher, além de deixá-la menos cansada.
Isso se torna ainda mais importante quando a mulher já sofreu com algum tipo de depressão antes da gestação, porque essas têm um risco maior de desenvolver a doença novamente.
E lembre-se: a estrutura é o que vai favorecê-las, não imposições e palpites. "O importante é que ela tenha uma rede de apoio, não de cobrança. Essa é a melhor forma de prevenir qualquer tipo de depressão", orienta Cunha.
Ofereça ajuda para cuidar do bebê
Após o nascimento da criança, muitas mulheres são privadas de noites de sono, mas quando se levantam de manhã, precisam cuidar do filho, que normalmente quer ficar no colo por muito tempo, além de amamentar em todos os períodos. Toda essa entrega gera um desgaste físico e emocional muito grande, que pode levar a quadros depressivos.
Nessa hora, mais uma vez a rede de apoio é essencial, e coisas simples do dia a dia fazem toda a diferença: cuide um pouco do bebê para que a mãe possa tomar um banho tranquila, não reclame se ela estiver fazendo algo errado, procure ser gentil, elogie o trabalho que ela está fazendo com o filho e diga que tudo bem se as coisas não saírem perfeitas.
Não espere a mulher ficar desesperada para começar a ajudar. "O que leva muitas mulheres a passarem pelos quadros de depressão é a sensação de estarem sobrecarregadas, de estar tudo em cima delas", diz Igor Padovesi, obstetra da USP (Universidade de São Paulo) e do Hospital Israelita Albert Einstein.
Depressão pode ser tratada de várias formas
"Como acompanha a mulher durante e após a gravidez, o obstetra tem papel muito importante, porque ele é encarregado de identificar a depressão, tentar perceber o problema para dar um direcionamento", salienta Padovesi. E, ao contrário do que se pensa, esses quadros de depressão perinatal nem sempre são tratados com medicamentos —tudo depende do estágio da doença.
A psiquiatra e psicoterapeuta Milena Gross, sócia do Projeto Canguru - saúde mental perinatal e professora do instituto Sedes Sapientiae, defende várias opções de tratamento que podem anteceder os remédios e, às vezes, até excluí-los. "Na verdade, o remédio é uma das possibilidades, tem a terapia, tentar uma mudança no ritmo de vida, melhorar o sono, fazer atividade física". É importante que a própria família da gestante preste atenção em possíveis sinais depressivos, como tristeza fora do normal, cansaço excessivo, alterações de humor, falta de sono entre outros.
"Tanto no pré como no pós-parto, os familiares precisam levar esses possíveis problemas para a equipe médica, porque às vezes a paciente não se permite falar que não está tudo bem, mas o marido ou outra pessoa diz: 'Ela mudou muito o comportamento, não conversa mais com as amigas, agora ficou meio jogada, olhando para o lado', comenta Gross.
A especialista diz ainda que um dos problemas mais comuns é a família não aceitar o tratamento. "Dizer que é frescura, que na gestação é assim mesmo. Minimizar o problema, isso não pode acontecer", diz.
Outras fontes consultadas: Mariana Bonsaver, psicóloga do Hospital e Maternidade Pro Matre.
Supere a depressão pré e pós-parto
Essa reportagem faz parte da campanha de VivaBem Supere a Depressão Pré e Pós-parto, que tem como objetivo chamar a atenção para o transtorno e os impactos que ele pode trazer para a mãe e o bebê. Ao longo da semana, uma série de reportagens e conteúdos especiais serão publicados com o objetivo de ajudar a identificar e tratar o problema. Confira todo o conteúdo da campanha aqui.
Fique ligado: a campanha é a primeira de uma série de VivaBem que, ao longo do ano, trará conteúdos temáticos para auxiliar no combate a problemas que muitas pessoas enfrentam no dia a dia e contribuir para que você tenha mais saúde e bem-estar.
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