Afinal, chiclete pode ser um aliado da saúde bucal ou está mais para vilão?
Seja para melhorar o hálito após uma refeição, aliviar a ansiedade ou reduzir o apetite, o ato de mascar chicletes é bem comum. Mas será que esse hábito é aliado ou vilão da saúde bucal? A resposta depende de alguns fatores que precisam ser analisados. A pedido de VivaBem, três especialistas explicam que fatores são esses.
Chiclete favorece ou previne a formação de cárie?
O chiclete que possui açúcar em sua fórmula pode contribuir para a formação de cárie, caso o indivíduo não escove os dentes adequadamente. Por outro lado, as versões sem açúcar auxiliam no controle da cárie na medida em que aumentam a salivação que faz com que o pH bucal aumente.
Esse aumento do pH propicia a remineralização do esmalte dental, lembrando que o processo de cárie é a desmineralização desse tecido por um processo químico de acidez. "A presença do xilitol em algumas marcas auxilia no controle das cáries", explica Andréa Lusvarghi Witzel, professora da Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo), especialista em estomatologia e em disfunção temporomandibular e dor orofacial.
Apesar de o chiclete sem açúcar ser estudado como método adicional para prevenir lesões de cárie, não há evidências que comprovem essa afirmação, de acordo com Juliana Feltrin de Souza, docente de odontopediatria da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e presidente da Associação Paranaense de Odontopediatria.
"É importante ter em mente que a doença cárie é muito ampla e causada por outros fatores: biológicos, sociais, comportamentais que nem sempre são considerados nos estudos".
Chiclete limpa os dentes?
Mascar chicletes até pode contribuir para a limpeza dos dentes, mas não deve ser utilizado como um método de higiene bucal. Sérgio Brossi Botta, especialista em dentística e presidente da Câmara Técnica de Dentística do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo), explica que, ao mascarmos chiclete sem açúcar, o ato de mastigar tendo um objeto entre os dentes causa atrito nas superfícies dentais, promovendo a remoção mecânica dos restos alimentares.
Além disso, também ocorre o atrito da bochecha nos dentes, removendo sujeiras. Adicionalmente, temos um aumento no fluxo salivar que também vai ajudar na limpeza. "Porém, mascar chiclete nunca substituirá uma boa escovação, com uso da pasta de dente fluoretada e do fio dental. A goma de mascar só deve ser recomendada com essa finalidade, esporadicamente, nos casos em que não é possível fazer a limpeza correta da boca", alerta Botta.
Chiclete tira o mau hálito?
O chiclete sem açúcar pode contribuir para a sensação de frescor na boca devido aos diversos sabores e possível aumento de salivação, mascarando, mas não tirando o mau hálito, segundo os especialistas.
Vale lembrar que o mau hálito pode ter outras causas, como má higiene dos dentes e língua, presença de infecções como lesões de cárie com comprometimento da polpa dentária, doença periodontal, próteses mal adaptadas, problemas gastrointestinais, fumo, bebidas alcoólicas, entre outros. Pessoas com halitose devem buscar ajuda profissional.
Chiclete pode causar problemas na ATM e na mandíbula?
Os problemas na ATM (articulação temporomandibular) são multifatoriais e é difícil utilizar um único fator como desencadeador, no entanto há pesquisas que mostram que o chiclete está associado a sinais e sintomas de pacientes com disfunção da ATM quando comparado a outros de mesma faixa etária que não mascam chicletes.
Vários estudos apresentam associação entre dor de cabeça e o uso dos chicletes, em um deles o chiclete foi removido por um mês e cerca de 90% dos pacientes tiveram melhora total ou parcial das dores de cabeça, comenta a professora Witzel, da USP.
O uso excessivo do chiclete também pode promover uma hipertrofia dos músculos do rosto, principalmente do masseter que faz o contorno da mandíbula. Esse aumento do músculo pode gerar uma mudança de forma do rosto.
Witzel alerta que, atualmente, há vídeos na internet de rapazes mastigando borrachas de forma contínua para produzir esse aumento muscular e assim aparentar uma face mais "masculina".
O ato de mastigar pode ainda aumentar a força de mastigação da pessoa e causar a geração de um maior número de trincas e possíveis fraturas dentais. "É como fazer uma academia, o músculo da mastigação fica mais forte e com esse músculo hipertrofiado, ou seja, mais forte, aumenta a força de mordida. Isso pode levar a trincas nos dentes e as trincas, com o tempo, podem ocasionar hipersensibilidade, fratura dental e fratura de restaurações", explica Botta.
Quantos chicletes posso mascar por dia?
Não há um número recomendado, mas para os adultos que gostam de mascar chicletes, eles devem ficar atentos ao tempo para evitar uma mastigação excessiva. Estudo publicado na BMC Oral Health observou um protocolo de mastigação de chicletes por 40 ou 60 minutos entre indivíduos jovens e saudáveis. Os autores observaram aumento significante de fadiga muscular e dor facial, mostrando que a intensidade do hábito durante o dia pode contribuir para quadros dolorosos.
O hábito de mascar chicletes em excesso também pode fazer mal ao estômago, podendo gerar problemas como a gastrite. Isto acontece porque, quando você mastiga o chiclete, seu corpo entende que está ingerindo um alimento e começa a produzir as substâncias necessárias para a digestão. Como a gente mastiga, mastiga e o alimento não chega ao estômago, essas substâncias não são utilizadas, podendo trazer complicações como azia e úlcera, explica Botta, do CROSP.
O que fazer quando as crianças pedem chiclete?
"O uso de chicletes não é indicado para crianças, uma vez que elas estão em fase de desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, e o chiclete é um produto ultraprocessado sem valor nutricional", afirma Souza, doutora em odontopediatria.
Ela complementa dizendo que a criança está com os músculos da mastigação e ATM em desenvolvimento, a atividade muscular excessiva pode gerar sintomas dolorosos faciais e predispor a DTM (disfunção da articulação temporomandibular) ainda na infância, que pode perpetuar para a vida adulta.
Crianças menores de dois anos não devem mascar chiclete, pois quando engolido pode causar asfixia.
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