"Pior parte é ver minha família no meio do caos", diz brasileira em Israel
A brasileira Hannah Hebron, 29, mora em Tel Aviv, Israel, há três anos, e relata como é viver em um país que já vacinou mais da metade da população e que adotou sérias medidas de restrição desde o começo da pandemia do coronavírus.
Hannah conta também como foi acompanhar a família que vive em Manaus e em Natal durante o colapso de saúde: "É devastador. Quase perdi meu pai". Confira o relato completo a VivaBem.
"Sou de Manaus, mas morei quase minha vida toda em Natal, no Rio Grande do Norte. Depois de me formar em jornalismo, vivi por cerca de quatro anos no Rio antes de me mudar para Israel. Estou aqui há três anos, sempre em Tel Aviv, onde conheci meu noivo e seguimos juntos até hoje.
Estava aqui no início da pandemia. A última vez que estive no Brasil foi em agosto de 2019, e planejava voltar em abril de 2020, mas cancelei os planos.
Sou contra o governo atual do país e apoio o partido trabalhista daqui, mas não posso negar que medidas muito sérias foram tomadas.
Máscaras foram obrigatórias desde o início e seguem sendo. Tivemos alguns lockdowns, todos reforçados com multas e policiamento. Desde o início, Israel levou a situação muito a sério.
Por ter asma, não arrisquei de forma alguma, e fiquei em casa por um ano. A maioria dos meus amigos também puderam ficar em casa, e os que trabalhavam em lugares que não permitiam home office receberam seguro desemprego e auxílio. Aqui tivemos algumas ondas de auxílios que foram dadas a todos os cidadãos, como forma de aquecer a economia. Até eu, que tenho emprego fixo com salário bem acima do mínimo, recebi.
Logo na segunda semana de março, a empresa em que eu trabalho permitiu que todo mundo adotasse home office como modelo oficial de trabalho. Trouxe minhas telas, equipamento de computação, e montei um home office incrível em casa. Mesmo com a vacinação, a maioria das empresas do meu setor, marketing/high tech, ainda estão em formato remoto ou misto.
Aos 29 anos, já fui vacinada
Tomei a primeira dose da vacina da Pfizer em janeiro, e a segunda em fevereiro. Todos os meus amigos e familiares daqui estão vacinados, e isso permitiu que eu me sentisse mais livre e aliviasse a ansiedade. Bares, restaurantes e comércio estão abertos com limitações de ocupação e necessidade de reserva. Acabamos de comemorar a Pessach [celebração judaica], e foi a primeira vez que reunimos a família do meu noivo em um ano.
A ida ao escritório, academia e restaurantes só pode ser feita mediante um documento que pode ser emitido online via app, chamado Tav HaYarok ou green pass. Depois de duas semanas do término da vacina, ou mediante comprovação de anticorpos via recuperação da doença, se pode emitir um.
Voltei a trabalhar do escritório duas vezes por semana (não é obrigatório, mas posso ir se eu quiser todo domingo e quarta) e voltei a malhar na academia.
Sou privilegiada em viver num país que soube lidar com a pandemia
A pior parte de tudo foi viver nessa bolha de segurança, cheia de controversas e dificuldades pelo isolamento, e ver minha família em Manaus sem vacina e no meio do caos. Minha irmã e meu cunhado adoeceram e se recuperaram, e perdemos amigos muito queridos nesse meio tempo.
Quase perdi meu pai, que mora em Natal, para esse vírus horrível, mas depois de algumas semanas no hospital, ele se recuperou.
Viver tudo isso enquanto a vida aqui seguia com um bom nível de segurança, sem colapsos na saúde, é devastador. Engordei muito, tive crises de ansiedade complicadas, mas segui em frente para dar força para minha família, e apoiada pela certeza de que, mesmo me sentindo mal, triste e com medo, sou muito privilegiada de viver em um país que soube cuidar da pandemia como o problema de saúde pública que é.
Sigo forte e atenta a todas as medidas, mantendo contato diário com a minha família (que segue em lockdown voluntário em Manaus, mas já foi vacinada com a CoronaVac), porém ainda muito confusa com toda a situação de ter um pé em uma bolha que funciona, e outro no Brasil, sem saber quando vou poder visitar minha família sem me colocar e colocá-las em perigo. Seguimos".
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