Quais as vantagens de o idoso conviver com pessoas mais velhas que ele?
Zona de desenvolvimento proximal. Já ouviu falar nesse termo? Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento e diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo, explica que se trata de um conceito de psicologia para aprender, realizar tarefas ou resolver problemas com ajuda ou mediação de outros.
No caso de crianças, sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outra criança mais velha.
"Mas esse conceito pode ser expandido para todas as fases da vida e não está ligado somente à idade, mas ao que o outro possui de habilidades e pode agregar. Pessoas com mais de 60 anos continuam a aprender e é possível que elas se desenvolvam com outras mais velhas, uma vez que esse processo não termina, é eterno. Porém, infelizmente, muitos ainda pensam na idade como um fator limitador", explica Busin.
Muitas lições de vida
Amadurecer com vitalidade, autonomia e resiliência são alguns exemplos do que idosos mais jovens podem aprender. Claro que as pessoas não envelhecem todas igualmente, podendo uma de 70 anos não estar tão bem quanto outra de 90 anos, ou vice-versa.
Entretanto, no que diz respeito à experiência de vida, alguém de 90 anos tem mais vivências e se ela for cognitivamente bem preservada pode transmitir o que sabe aos que estão à sua volta.
"A presença dessa pessoa experiente é fundamental. Os anos acumulados dela podem servir de lições para muitas coisas, seja de pai para filho, entre casais com diferença de idade e por aí vai. Por outro lado, é preciso encarar que um idoso de 85, 95, 105 anos tem suas limitações, vem de um contexto, embora há muitos que sejam progressistas, e a gente precisa aprender a lidar com isso, a enxergar o outro em sua plenitude e extrair o que ele tem de melhor", observa Natan Chehter, geriatra pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
Geralmente, idosos com idade muito avançada também têm uma "enciclopédia" do que repassar sobre hábitos alimentares (eles costumam ser menos obesos que a média populacional), estilo de vida (também mais ativos física e mentalmente) e, principalmente, sobre superação e adaptação, pois por terem vivido muito provavelmente já passaram por diversas crises, diagnósticos de doenças e mortes de entes muito próximos. Haja sabedoria.
Filhos menos sozinhos e mais sociáveis
Henrique Bottura, psiquiatra, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista e colaborador do ambulatório de impulsividade do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) acredita que a grande vantagem para os filhos na faixa dos 65 a 70 anos que têm os pais vivos é aprender e vivenciar juntos com eles etapas que demorariam mais tempo para descobrir, ou que descobririam sozinhos e errando.
"Mas vai depender muito do histórico dessa família. Ressentimentos, conflitos, assuntos mal resolvidos podem ser barreiras para potenciais aprendizados e na interação com os mais velhos. O idoso mais jovem precisa ser cauteloso para separar essas questões do que ele pode extrair de conhecimento para sua vida e principalmente se ele for o cuidador", diz.
Muitas vezes, por assumir o cuidado dos pais, o filho pode achar que manda neles e sabe até mais.
Eventualmente, o filho pode ter mesmo mais informações que os pais e estar certo em alguns aspectos (quando o idoso não quer ir ao médico, tomar medicamentos na hora certa), mas é preciso que priorizem a boa convivência. Afinal, com a presença dos pais até o fim da vida, eles têm muito a ganhar.
Podem se sentir menos sozinhos (principalmente se forem aposentados, viúvos e sem filhos) e mais sociáveis e participativos (a companhia dos pais pode estimulá-los a querer viajar, manter vínculos com amigos e familiares de longa data e fazer atividades juntos).
Parceiros bem preparados
Idosos que são cônjuges de superidosos também extraem lições importantes. Quando a diferença etária entre o casal é de 15, 20 anos, a rotina do mais velho tende a influenciar a do mais jovem, que aprende de antemão, e no convívio diário e íntimo, sobre suas limitações, dificuldades e os cuidados do outro e que, eventualmente, podem prepará-lo para o futuro.
Daí, o cônjuge de 70 anos, por exemplo, pode querer rever seus hábitos, como evitar o sedentarismo, o cigarro, o álcool e se alimentar de forma saudável, a fim de conseguir viver com a mesma qualidade de vida do parceiro que tem 90 anos ou não passar pelos problemas que ele enfrenta.
Também pode começar a se planejar para ter um cuidador para si mais para a frente, se mudar para uma casa mais confortável e acessível, ou cumprir tarefas inacabadas.
Estando em outro estágio, também é preciso adaptação e compreensão às mudanças do outro e aceitá-las. Principalmente no que tange à sexualidade.
Lubrificação vaginal e ereção peniana diminuem, ou levam mais tempo, a frequência sexual também e há medicamentos usados na terceira idade que podem afetar o desempenho.
"Assim, é interessante o idoso mais jovem acompanhar o mais velho nas consultas com o geriatra e esclarecer todas as suas dúvidas de como tirar melhor proveito da situação e sem riscos", orienta Paulo Camiz, geriatra e professor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.