Dormir pouco à noite após os 50 aumenta risco de demência, diz estudo
Do VivaBem, em São Paulo
21/04/2021 12h27
Ter um sono de curta duração após os 50 anos pode aumentar o risco de ter demência no futuro, segundo um estudo publicado no periódico Nature Communications, na terça-feira (20).
A pesquisa, liderada pela epidemiologista Séverine Sabia, da Universidade de Paris, acompanhou cerca de 8.000 pessoas no Reino Unido por 25 anos. Os participantes foram avaliados quando tinham 50, 60 e 70 anos. Os resultados mostraram que os que relataram dormir seis horas ou menos por noite tiveram um aumento de 30% no risco de ter demência 30 anos depois, quando comparados aos que dormiam sete horas.
Segundo os autores do estudo, esses resultados independem de fatores sociodemográficos, comportamentais, cardiometabólicos e de saúde mental.
Como foi feito o estudo?
- No estudo, um sono normal foi definido como sete horas por noite; um sono longo, oito horas ou mais por noite; o de curta duração, seis ou menos por noite.
- Os pesquisadores usaram registros médicos de um estudo com servidores públicos britânicos, da década de 1980, e analisaram as horas de sono de 7.959 pessoas. Os dados foram avaliados até 2016 e, no final da pesquisa, 521 participantes, que tinham uma idade média de 77 anos, foram diagnosticados com demência.
- Para relacionarem o sono ao desenvolvimento de demência, os cientistas separaram as pessoas que tiveram doença mental antes dos 65 anos --já que saúde mental tem relação com distúrbios de sono e a depressão é um fator de risco para a demência --, além de identificarem quem fumava, tomava medicamentos, consumia álcool, fazia atividade física, qual era o IMC (índice de massa corporal) das pessoas, se consumiam frutas e vegetais, se tinham doenças cardiovasculares, diabetes, pressão alta etc.
- Ao fim da análise, foi relatada uma associação: pessoas que dormiam menos tinham um risco 30% maior de ter demência do que quem dormia mais do que sete horas por noite.
Mais estudos são necessários
A pesquisa tem limitações. Como grande parte das informações foram autorrelatadas pelos próprios participantes, há um risco de não ser tudo verdade. Além disso, o sono anormal pode ser um sintoma precoce da demência. É sabido que a doença afeta o sono das pessoas e, nesse caso, o sono insatisfatório pode ser considerado um sinal de que o indivíduo terá a doença no futuro.
"Talvez seja simplesmente um sinal muito precoce da demência que está por vir, mas também é bastante provável que o sono insatisfatório não seja bom para o cérebro e o deixe vulnerável a doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer", disse ao Science Alert o psiquiatra e pesquisador de demência Tom Dening, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, que não esteve envolvido no estudo.
"Embora não haja uma maneira infalível de prevenir a demência, há coisas sob nosso controle que podem reduzir o risco", avalia Sara Imarisio, chefe de pesquisa da Alzheimer's Research UK, que também não estava envolvida no estudo. Um exemplo seria justamente melhorar a qualidade do sono.