"Minhas pernas doíam muito": parece estranho, mas dor do crescimento existe
Você já teve a famosa dor do crescimento? Pois é, ela existe e costuma aparecer na fase do estirão puberal, quando a altura da criança ou adolescente dá um salto. O tema, inclusive, virou assunto no Twitter quando um internauta perguntou se as pessoas sentiram as dores quando mais novos. Resultado: alguns disseram que sim e outros afirmaram que não.
Mas isso também tem uma explicação. Segundo o clínico geral especializado na saúde de adolescente Maurício de Souza Lima*, essa dor de crescimento atinge mais quem têm um estirão acentuado, ou seja, as crianças que ganharam bons centímetros de uma hora para outra. Quem cresce "devagar e sempre" não costuma relatar a dor.
Esse incômodo é provocado por um descompasso: os ossos crescem em um ritmo diferente do esticar dos seus tendões. Os músculos também têm o seu próprio tempo para aumentar de tamanho. "Quando o crescimento de um parece não seguir a mesma velocidade do crescimento de outro, o jovem pode se sentir moído", explica.
Às vezes, o tormento é mais localizado, de acordo com Lima. Por exemplo, é comum ver um garoto ou uma garota, na fase do estirão, reclamar de uma dorzinha chata logo abaixo dos joelhos. Isso porque o tendão que fica ali, ainda miúdo, acaba fazendo uma tração na tíbia, o osso comprido da canela, que por acaso ficou grandalhão primeiro. Então a pontinha dele, chamada de tuberosidade, pode até saltar para fora, marcando a pele da região. E essa tração causa dor.
"A sensação dolorosa nas pernas ou em outro canto muitas vezes aparece do nada —embora seja mais comum depois da prática esportiva. Nessas horas, massagens leves e bolsas de gelo ajudam. Antigamente, os médicos até afastavam o adolescente do esporte. Mas hoje a gente sabe que isso alivia pouco", afirma o médico.
Além disso, a dor pode se manifestar durante o dia ou à noite, não tem um horário certeiro. Mas, atenção, dificilmente provoca um sofrimento tão grande a ponto de acordar alguém. Se o adolescente sempre desperta no meio da noite sentindo dor, leve-o para ser examinado.
Nem toda queixa é dor do crescimento
Os pais não devem achar que toda queixa, nessa fase, tem a ver com um corpo que cresce ligeiro. Dores fortes, que não encontram alívio com facilidade, podem indicar outros problemas. As legítimas dores do crescimento —que passam sozinhas quando o tamanho de todas as estruturas corporais volta a ficar harmonizado — não costumam ser acompanhadas de outros sintomas, como inchaços, hematomas e vermelhidão.
Por isso, se o jovem vive reclamando ou se, mais do que dor, apresenta qualquer sinal diferente, não custa levá-lo ao clínico que, antes de cogitar o processo natural de crescimento, deve afastar todas as outras possíveis causas.
"Crianças sentem vários tipos de dor, desde a cólica do bebê até as ligadas à prática de esportes. Porém, por falta de entendimento, muitas vezes elas são menosprezadas pelos pais e até médicos", explica o pediatra e reumatologista Claudio Arnaldo Len*, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Conhecer as principais dores e como elas se manifestam também ajudam a aliviar o sofrimento dos pequenos. Além da dor de crescimento, veja outras queixas:
- Cólica do recém-nascido: é comum até os quatro meses de idade, com picos entre os 15 dias de vida e dois meses.
- Dor pelo nascimento dos primeiros dentes (erupção dental): tem início por volta do sexto mês de vida e término com o nascimento dos últimos dentes.
- Cefaleia: é mais frequente entre 9 e 12 anos, atingindo de 15% a 20% das crianças, e na maioria das vezes é idiopática, ou seja, não tem causa definida.
- Fibromialgia infantil: dor musculoesquelética crônica (com duração de pelo menos três meses) que não tem causa definida.
- Disfunção Temporomandibular (DTM): alteração da articulação que liga o maxilar à mandíbula que pode causar dor e desconforto no maxilar.
- Dor do esporte: queixas mais comuns são dores nas pernas e na região pubiana após a prática de atividades físicas.
- Dor abdominal recorrente: quando é forte o suficiente para interferir nas atividades do dia a dia, ocorre pelo menos três vezes seguidas e está associada com diarreia e constipação é hora de procurar um pediatra.
* Com informação de reportagens publicadas nos dias 07/03/2018 e 06/01/2020.
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