Práticas de autocompaixão ajudam pessoas a fazerem as pazes com o corpo
Resumo da notícia
- Estudos mostram que pessoas autocompassivas são mais saudáveis psicologicamente
- Mulheres que fizeram meditações específicas de compaixão relataram menos insatisfação e vergonha em relação à aparência
- A compaixão ativa áreas cerebrais ligadas à regulação das emoções
Insatisfação corporal é uma grande fonte de sofrimento. Normalmente ligada ao excesso de autocrítica, comparação e autocobrança em relação à aparência, está na origem de quadros de estresse, ansiedade, depressão e transtornos alimentares.
Uma abordagem cada vez mais empregada no processo de refazer a relação com o corpo é a autocompaixão, que propõe ser amável e compreensivo consigo mesmo, acolhendo as próprias falhas e dificuldades em vez de se julgar e punir por elas.
Pelo conceito de Kristin Neff, professora do Departamento de Psicologia Educacional da Universidade do Texas em Austin (EUA) e pioneira no estudo desse tema no mundo, a autocompaixão é feita de três componentes inseparáveis:
- Autogentileza: tratar a si mesmo sem julgamento, com a mesma aceitação e bondade dispensadas a um amigo querido;
- Humanidade comum: reconhecer que imperfeição e sofrimento são experiências universais; todos têm e sentem;
- Atenção plena: observar ações, emoções e pensamentos sem rotulá-los como bons e ruins nem se apegar a eles.
Estudos mostram que pessoas autocompassivas são mais saudáveis psicologicamente. A autocompaixão também está ligada a níveis mais altos de felicidade e inteligência emocional, além de menos ruminação mental, perfeccionismo e medo do fracasso. Em uma pesquisa em especial, de coautoria de Kristin Neff e pesquisadoras das Universidade de Fielding (EUA), mulheres com histórico de descontentamento com o corpo que praticaram três semanas de meditações específicas de compaixão relataram menos insatisfação e vergonha em relação à aparência do que antes e em comparação com participantes que não haviam passado pelo treinamento. O melhor: os efeitos persistiram por pelo menos três meses após o fim do experimento, quando as voluntárias voltaram a ser entrevistadas.
"A autocompaixão ensina a baixar o discurso interno de autocrítica e desapegar do desejo de agradar os outros e parecer perfeita. Também ajuda a ampliar a consciência do corpo para além de características como tamanho e forma e a valorizá-lo pelas experiências que proporciona, como se exercitar, dançar, se expressar", comenta Juliana Graciano, professora de psicologia da FMU. A conclusão das autoras do estudo vai exatamente nessa linha.
No estudo de Neff, 228 mulheres entre 18 e 60 anos receberam áudios de meditações guiadas com duração de 20 minutos, que mudavam de foco a cada semana da pesquisa —escaneamento corporal, respiração e bondade amorosa. Nas gravações, as participantes receberam instruções para entrar em contato com as sensações físicas, observar o ritmo das inspirações e expirações e direcionar pensamentos e votos de gratidão, afeto e gentileza a si mesmas e ao corpo.
A psicóloga Víviam Vargas de Barros, doutora em Ciências pelo Departamento de Psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e cofundadora do Centro Paulista de Mindfulness, explica que a compaixão ativa áreas cerebrais ligadas à regulação das emoções. "Quando você repete votos de afeto e acolhimento, como nas práticas de bondade amorosa, para o cérebro não importa se o alvo é você ou outra pessoa. Fazer isso regularmente é uma forma de desenvolver emoções positivas por si mesma", diz.
Barros acrescenta que o toque também é um gatilho da autocompaixão. "Colocar a mão no peito ou dar-se um autoabraço em situações de estresse ou ansiedade ativa o nervo vago, que acalma o corpo e desperta sentimentos de amor e compaixão", diz.
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