Segundo dedo do pé maior que o dedão: por que cresceu tanto? É prejudicial?
Para além da democracia, do teatro e da filosofia, os gregos, aparentemente, também deixaram sua marca nos pés do mundo inteiro. O pé grego, como é popularmente conhecido o tipo de pé que tem o segundo dedo mais longo que o dedão, é observado em várias esculturas da Antiguidade, mas clinicamente ficou conhecido como dedo do pé de Morton, em alusão ao cirurgião americano Dudley J. Morton, que diagnosticou a condição no início do século 20.
Segundo estimativas, ela está presente em cerca 20% dos humanos, sendo que em algumas populações é menor, equivalente a 3%, enquanto em outras chega a 90%.
No Brasil, segundo um estudo de 2012 feito por uma empresa de palmilhas ortopédicas, estaria em 32,8%. E, se nos velhos tempos representava um ideal de beleza quase exclusivo dos deuses, hoje já não é percebido assim, podendo ser considerado até um fator para problemas musculoesqueléticos.
Por que esse dedo é assim?
O dedo do pé de Morton não tem a ver com traumas ou problemas congênitos que podem levar ao aumento ou diminuição dos dedos, trata-se de uma característica anatômica comum. Ele também não cresceu demais, mas o primeiro dedo, o hálux (dedão), é que não avançou, destacando seu "vizinho".
Isso ocorre porque o primeiro metatarso (osso atrás do dedão que o conecta com o restante do pé) é mais curto em comparação com o segundo metatarso (do segundo dedo).
"Não é doença, é uma morfologia do pé, então não tem que ser tratado, é uma predisposição genética. Porém, quando o primeiro metatarso é menor, maior o risco de se ter metatarsalgia de transferência, que é quando grande parte do peso suportado por ele é transferido para o segundo metatarso, gerando uma sobrecarga nas cabeças metatarsais do segundo, terceiro dedos", explica Gabriel Mendia, ortopedista e traumatologista pelo Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual), em São Paulo, e da clínica médica Personal Ortopedia.
Dores, calos, lesões, deformidades
Pé grego não necessariamente é sinônimo de incômodo, mas como consequência de seu uso intenso (para corrida, por exemplo) e da distribuição de peso do dedão para o segundo dedo, impactando a pisada e o impulso da caminhada, pode acarretar problemas.
Pode haver pressão na planta do ante pé (a região da ponta do pé), que pode alargar, além de dores intensas, inflamações de músculos, neuromas e lesão de ligamentos, culminando em deformidades e, em casos mais excepcionais, até fraturas ósseas.
Alguns estudos demonstram que se os dois dedos bilaterais tiverem o mesmo tamanho, com o passar do tempo, o segundo também pode se projetar.
Um cuidado a se tomar quando o segundo dedo é maior é com relação à escolha dos calçados, em especial os fechados, que se estiverem apertados nos dedos podem causar um aumento de unhas encravadas.
"Normalmente, utilizamos a ponta do dedão para ver o tamanho correto do sapato, principalmente nas crianças. No entanto, quando o segundo dedo é longo, deveríamos usá-lo como parâmetro, caso contrário ele tende a ficar dobrado, o que favorece o aparecimento de calos", acrescenta Marco Tulio Costa, ortopedista especialista em pé e tornozelo do Hospital Israelita Albert Einstein, do Instituto Cohen e da Santa Casa de Misericórdia (SP).
Cabe operar, ou não, o pé grego?
Por se tratar de uma condição normal, uma variação de anatomia, não é aconselhável e nem necessário nenhum tipo de operação, ainda mais estética. Indicação de cirurgia de correção somente em casos extremos, quando acontece a deformação do dedo associada a dor.
"Muitas pessoas, devido à dor crônica, podem evoluir com alterações na pisada, na passada, resultando até em dores nas pernas ou lombares", ressalta Marcus Yu Bin Pai, doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) e médico pesquisador do grupo de dor do departamento de neurologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).
Cirurgias geralmente envolvem reconstrução de ligamentos e tendões e procedimentos no osso. Apesar de terem um índice razoável de sucesso, complicações sempre podem surgir. Uma delas é a recidiva da deformidade. Mas a boa notícia é que existem medidas preventivas e que servem para todo tipo de pé.
Isso se traduz em usar calçados confortáveis, que não apertem os dedos, evitar saltos altos, que transferem peso para a região anterior dos pés, reeducar a postura e, quando constatada formação de calosidades na planta do pé, recorrer a palmilhas ortopédicas que servem como suporte, aliviam dores e, às vezes, até resolvem o problema.
"Em estágio inicial, elas também ajudam a corrigir o arco do pé, enquanto um apoio no metatarso pode reduzir a pressão local e uma bandagem a hipermobilidade e ainda fortalecer o arco transverso do pé", sugere Bin Pai.
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